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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Trump inspirou Bolsonaro para tentar manter-se no poder

"Parece não haver dúvidas de que se Bolsonaro continuar no Palácio do Planalto vamos viver os mesmos problemas vividos pelos americanos no final do mandato de Trump", escreve Ribamar Fonseca

Trump e Bolsonaro (Foto: Alan Santos/PR)
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Donald Trump e seus apoiadores conseguiram, em poucas horas, abalar a tão decantada democracia americana  e mostrar que os Estados Unidos não são muito diferentes das repúblicas de bananas. A invasão do Capitólio por violentos apoiadores do Presidente derrotado nas eleições do ano passado, que o presidente eleito Joe Biden classificou de “terroristas domésticos”, evidenciou ao mundo os perigos a que um governante desequilibrado pode expor o seu país. No caso de Trump, esse perigo se estendia ao planeta, o que levou a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, a alertar o chefe do Estado Maior das Forças Armadas norte-americanas para a possibilidade de um surto do Presidente em final de mandato, capaz de ordenar um ataque nuclear a qualquer país e, com isso, deflagrar uma guerra nuclear. Os militares americanos, aliás, que fazem questão de ficar distantes dos embates políticos, se mantiveram em silêncio, evitando qualquer envolvimento nas loucuras de Trump, exemplo para os militares brasileiros.  

Constata-se, hoje, que a eleição de Donald Trump, assim como a de Jair Bolsonaro, aconteceu num momento em que os povos norte-americano e brasileiro se deixaram influenciar pelo massacre de fakenews nas redes sociais, acreditando que os dois sujeitos, parecidos em tudo, representavam uma nova esperança de mudança na política dos hemisférios norte e sul. Eles praticamente surgiram do nada, sem nenhuma tradição política,  para ocupar o comando das duas maiores nações das Américas e não estavam preparados para tão elevados cargos. Trump, encarnando o papel de xerife do mundo e acreditando-se com poder suficiente para impor a sua autoridade a todos os demais países, por várias vezes colocou o planeta à beira de uma guerra nuclear, fazendo ameaças e acusações a quem não se curvava à sua prepotência. E pretendeu tornar-se ditador, a exemplo do seu colega brasileiro. Os dois, que transformaram a internet em sua principal arma de convencimento da população, são parecidos em tudo, até na violência dos apoiadores, diferenciados apenas pelo topete amarelo do presidente americano. Repetem até as mesmas palavras.

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Trump e Bolsonaro sempre atacaram a imprensa, instalando nas redes sociais o seu canal de comunicação com a população. E ambos enxovalharam o sistema eleitoral de seus países   alardeando fraudes, mesmo sem nenhuma prova. De tanto falar em fraude, ainda que desmentido pelas autoridades ligadas ao pleito em seu país, Trump conseguiu convencer muita gente, dentro e fora dos Estados Unidos, de que roubaram a sua eleição, despertando a ira dos seus apoiadores que, incentivados por ele, invadiram o Capitólio para impedir que Joe Biden fosse declarado presidente. E se recusa a transmitir o poder, criando fatos inéditos na história americana e  manchando a democracia do seu país. Bolsonaro já emitiu sinais de que fará o mesmo se perder as eleições em 2022, repetindo, inclusive, a invasão do Congresso. Na verdade, ele já é acusado de ter incentivado as manifestações contra as instituições, que incluíram o lançamento de rojões contra o prédio do Supremo Tribunal Federal mas, ao contrário da reação nos Estados Unidos à ação de Trump, onde até membros do  partido republicano condenaram a sua atitude, aqui praticamente não aconteceu nada. E ele continua falando em fraude, preparando o ambiente para 2022. 

Existem, porém,  algumas diferenças entre o comportamento das instituições norte-americanas diante das loucuras de Trump e das brasileiras diante das maluquices de Bolsonaro. Além do distanciamento dos militares, que evitam envolver-se em política para não sugerir apoio às atitudes de Trump, aqui esse apoio ao capitão está implícito na nomeação, sobretudo de generais, para cargos civis no governo. Bolsonaro já chegou, inclusive, através do seu filho Eduardo, a acenar com a possibilidade de fechamento do Supremo e da reedição do Ato Institucional 5, a lei maior da ditadura militar. Algumas lideranças estão alertando para a necessidade de afastá-lo do Palácio do Planalto antes que ele cumpra as suas ameaças, inclusive já existem mais de 50 pedidos de impeachment pelos mais diversos motivos, mas ele conta com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que posa de oposicionista, para manter os pedidos dormindo na gaveta, sem nenhuma perspectiva de abertura do processo. Maia, na verdade, deverá continuar segurando o impeachment através do deputado  Baleia Rossi, que pode substitui-lo no comando da Câmara e já declarou, em entrevista, que não tem compromisso para abrir o processo. Aliás, parece que sua eleição será o mesmo que trocar seis por meia dúzia, porque ele será Maia, mudando apenas o penteado.   

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Lá nos Estados Unidos os “terroristas domésticos” que invadiram o Capitólio estão sendo identificados e presos, enquanto aqui nas manifestações contra o STF a única presa, assim mesmo por decisão do ministro Alexandre de Moraes,  foi a ativista Sara Winter que, no entanto, não demorou muito atrás das grades e está livre, leve e solta. Os bolsonaristas fazem até ameaças de morte ao ministro Alexandre e continuam impunes. Na verdade, o Brasil, sob a gestão de Bolsonaro se tornou uma grande esculhambação, onde até procuradores do Ministério Público e juízes se recusam a cumprir ordens da Procuradoria Geral da República e do Supremo Tribunal Federal. E enquanto Bolsonaro brinca de popstar, em busca de aplausos, entrando numa lotérica para fazer jogo ou nadando numa praia de São Paulo ao encontro de apoiadores, cresce o número de brasileiros mortos pela covid-19. Já são mais de 200 mil óbitos e o general ministro da Saúde está preocupado em criticar a imprensa. Cadê a vacina? Quando começa de fato a vacinação? Quantos brasileiros ainda precisarão morrer para que a população comece a ser imunizada?  

Parece não haver dúvidas de que se Bolsonaro continuar no Palácio do Planalto vamos viver os mesmos problemas vividos pelos americanos no final do mandato de Trump. Está claro, a exemplo do seu colega americano, que ele não pretende largar o poder, pelo menos não pelas vias legais, mesmo chegando lá por esse caminho. Afinal, Bolsonaro pode ser grosseiro, arrogante e despreparado para ocupar o cargo de Presidente, mas não é burro. Prova disso é que buscou fortalecer-se junto aos militares e manobrou politicamente para manter o controle da Câmara dos Deputados: ele continuará fortalecido na Casa com Arthur Lyra ou Baleia Rossi. Ou seja, ele será vitorioso qualquer que seja o eleito. Diante disso, não há muita alternativa para defenestrá-lo do Planalto, até porque, afora o impeachment não temos na Constituição outro dispositivo, como a 25ª. Emenda da Carta Magna  americana, que prevê o afastamento do presidente por iniciativa do vice. E vamos ter de aguentá-lo por mais dois anos, porque os chefes das instituições que podem fazer alguma coisa se borram de medo. Só nos resta, então, rezar e pedir que esses dois anos passem depressa.    

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