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Luis Costa Pinto

Luis Costa Pinto é jornalista, escritor e consultor na Ideias, Fatos e Texto. É também membro do Jornalistas pela Democracia. Twitter: @LulaCostaPinto, Facebook: lula.costapinto

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Tudo flui

Luis Costa Pinto, Jornalista pela Democracia, defende a união de setores divergentes da sociedade contra o desmonte promovido por Jair Bolsonaro; "Decapitado o inimigo comum, cortada a cabeça dessa medusa desmiolada agarrada aos troncos retorcidos do que resta de cerrado na Esplanada, podemos voltar a debater democraticamente nossas divergências"

Tudo flui (Foto: PR | Reprodução | Reuters)
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Por Luis Costa Pinto, para o Jornalistas pela Democracia

Imóvel, mas não inerte. Escrita em latim e gravada em cerâmica numa paleta de cores que vai da terra vermelha ao ocre, a frase saúda quem entra no ateliê de Francisco Brennand no Recife. Na verdade, é um mote: Immotus nec Iners. Foi usado pelo escritor militar, poeta, símbolo do decadentismo italiano, Gabriele D'Annunzio. Isolado pelo ditador Benito Mussolini numa ilha no Lago de Garda, D'Annunzio inspirou a persistente resistência italiana ao fascismo desde a ascensão do Duce ao poder em 1923 até 1938 quando o poeta morreu. Em 1945, enquanto pedaços do corpo esquartejado do ditador eram pendurados nas ruas de Milão, esse e outros motes de D'Annunzio eram lembrados por toda a Itália. Sempre que vou à Várzea, onde ficam os fornos e a oficina de Brennand, detenho-me diante da inscrição que parece preparar a todos para a travessia do portal entre o real e o fantástico.

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Por enquanto imóvel, ainda inerte. É como vejo a sociedade brasileira a cinco dias de uma data-chave no difícil processo de tentar sobreviver e seguir adiante lutando contra uma força motriz reacionária que nos lança de volta à barbárie de um Estado anticonstitucional, de uma Nação que despreza a civilidade. O dia 15 de maio precisa ser um marco no calendário da resistência e da união de largos setores da sociedade civil a gritar contra os retrocessos na Educação, na fiscalização e regulação do Meio Ambiente, na política indigenista, no bloqueio ao acesso quase generalizado a armas de fogo. No hiperlink, aqui, um atalho para saber onde começam as manifestações nas principais cidades.

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A semana encerra com avanços que começaram a tirar-nos da inércia. Um dos mais alvissareiros foi a reunião de todos os ex-ministros do Meio Ambiente dos quatro últimos presidentes da República – de Itamar Franco a Dilma Rousseff, passando por Fernando Henrique e Lula – e do representante da área ambiental na equipe do vice-presidente Michel Temer no tempo em que ele ocupou a cadeira do Planalto. A aliança exitosa de parlamentares de partidos do chamado "centrão" com deputados e senadores das siglas de esquerda aplicou grandes e sucessivas derrotas legislativas ao governo de Jair Bolsonaro e expôs a articulação pedestre que ele tem no Congresso. É difícil perdoar ou compreender a ação de setores antes agrupados sob legendas e órgãos do Estado Democrático que abandonaram pudores e princípios para aderir à aventura liberticida do golpe jurídico-parlamentar-classista de 2016, mas é essencial fazê-lo. Desse desapego a teimas, a dogmas, a um revanchismo pueril, depende o futuro mesmo do Estado Democrático de Direito que estamos a construir desde o recrudescimento da ditadura com a decretação do Ato Institucional nº5 em 1968.

O processo de catalisação das forças de resistência ao "Bolsonarismo" obtuso, violento, perverso, atrasado e criminoso ocorrido esta semana retirou do lado de lá o apoio de largos setores. Desde militares, sobretudo os oficiais da reserva, até lideranças evangélicas menos comprometidas com o rentismo dos dízimos; de integrantes do DEM como os presidentes da Câmara e do Senado até políticos com alguma responsabilidade social como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin; gente de variados matizes que havia se encantado com a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 na esperança de que ela legitimasse para a História a aventura do impeachment dá mostras eloquentes de esgotamento.

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Para caminhar além da retórica e das redes sociais, para impor a esse assustador projeto de formação de um regime autocrático no Brasil, é crucial arquivar as diferenças e somar-nos agora. Também é mister ir às ruas, descer dos escritórios, abandonar os carros, resistir a simplesmente replicar nas redes o que estará a acontecer na vida real: é fundamental participar dos eventos em cada uma das cidades, caminhar ao lado até mesmo daquele para quem viramos as costas até há bem pouco tempo. Decapitado o inimigo comum, cortada a cabeça dessa medusa desmiolada agarrada aos troncos retorcidos do que resta de cerrado na Esplanada, podemos voltar a debater democraticamente nossas divergências. Afinal, na Praça Aberta das Gárgulas do ateliê de Brennand, no Recife, ponto final de quem respeitou alguma ordem na visita, ao lado de uma fonte d'água que jorra da boca de uma serpente, lê-se: "tudo flui".

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