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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

199 artigos

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Um ataque de nervos

Marx talvez esteja sorrindo em seu túmulo, repassando os fatos, diante de uma farsa de terceira e quarta gerações. Na próxima eleição, contudo, é bom registrar, convém escolher melhor nossos candidatos.

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 Karl Marx assinala, com agudo sentido de observação, o fenômeno da repetição na História. Primeiro, afirma ele, pensando em Napoleão Bonaparte, ocorre como tragédia. Em seguida, e aí já com Napoleão III, ao retornar, o faz como farsa. Mais de uma vez, de fato, na passagem das décadas (ou das épocas), assistimos a acontecimentos que nos levam a imaginar filmes que se rebobinam para que possamos rever cenas e atitudes. 

O que se verificou no Brasil em maio passado no governo Jair Bolsonaro, com os três militares e assessores diretos (Walter Braga Neto, Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, Secretaria do Governo, e Augusto Heleno, Gabinete de Segurança Institucional), traça paralelos, não como tragédia, mas como farsa, com situações que historiadores viram transcorrer para espanto de nossos espectadores.  O Presidente se achava enfurecido. Não é difícil colocá-lo numa tela da memória dando socos da mesa e dizendo aos gritos que não toleraria humilhações do Supremo. O assunto dizia respeito a uma decisão, depois não verificada, de obrigá-lo, e aos seus, incluindo filhos, entregar celulares por força de processos em tramitação. 

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 Na França do século XVI, ao tempo de Carlos IX, filho de Catarina de Medici, por causa de um ataque de fúria, desencadeou-se o que se chamou de A Noite de São Bartolomeu, um massacre que vitimou o conjunto dos huguenotes que se hospedavam no Louvre. Em nome da paz religiosa, programara-se um casamento entre Henrique de Navarra (líder dos huguenotes) e Marguerite (representando os católicos), filha da Rainha Mãe. Para surpresa geral, alguém realizou um atentado contra o chefe militar dos huguenotes, homem de  prestígio, que, na oportunidade, se feriu no braço. Indignado, Carlos IX quis promover uma investigação. Foi contido pela mãe e pelo irmão, os autores da conspiração. Mais enfurecido ainda, decidiu que, nesse caso, eliminaria de uma vez todos os huguenotes. Foi A Noite de São Bartolomeu. Ataques de nervos e estados de fúria, por parte de mandatários, podem provocar consequências terríveis. 

Felizmente, estamos no lado da farsa – e não da tragédia. Entre nós, o exercício de temperamento de Jair Bolsonaro junto a seus militares no Palácio, traz à mente, antes de qualquer coisa, um romance hispano-americano ou, melhor, um filme de Pedro Almodóvar. O termômetro da fúria desce à condição de uma exibição de mau-humor. Claro que assusta. Nossa democracia é frágil, sujeita a chuvas e trovoadas. Não temos certeza de nada, muito menos da permanência de institutos como justiça e livre exercício da opinião. E o Primeiro Mandatário se elegeu com um gesto de fuzil nos braços, atirando sem pontaria no que lhe aprouvesse. De qualquer forma, a ironia dos entendimentos com os generais na conspiração palaciana, para concluir que não, não era hora de prender os magistrados, examinada a posteriori, se não nos afronta a inteligência, tem gosto de uma comédia pastelão.  Bolsonaro não é Carlos IX, nossos generais nada têm a ver com Cataria de Medici... Nem nos elevamos à condição de Napoleão III. 

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Marx talvez esteja sorrindo em seu túmulo, repassando os fatos, diante de uma farsa de terceira e quarta gerações. Na próxima eleição, contudo, é bom registrar, convém escolher melhor nossos candidatos.
 

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