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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Um bom óleo de rícino e chá de camomila e Bolsonaro acordaria novo

"O saldo positivo deste imbróglio foi fazer baixar a fervura nos quartéis. É possível que por esses dias, durante os exercícios físicos, quando os militares nos batalhões entoam canções para elevar o moral das tropas, a gente ouça além muro os versos de Cazuza: Ideologia! Eu quero uma pra viver...", escreve a jornalista Denise Assis

Jair Bolsonaro (Foto: Reprodução)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Fiz uma viagem à Antártida, em um cruzeiro que cruzava o Cabo Horn. Sua localização entre dois oceanos, e a intensidade dos fenômenos atmosféricos que o rodeiam fazem da sua travessia uma experiência única e inigualável. Vários livros já foram escritos sobre as dificuldades que representava a travessia do Cabo Horn para antigos navegadores.

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São vagas de mais de três metros que se abrem, e a embarcação tem que descer, para em seguida subir. (O sentimento que a travessia desperta, logicamente é medo). Ninguém sai ileso. Todos passam mal. Sabendo disto com antecedência, me dirigi ao capitão do navio para saber como sua tripulação enfrentava os momentos difíceis, sem marear. E a resposta que obtive serve como uma luva para a situação e Bolsonaro.  

“É importante não deixar que o medo se aloje em seu estômago”. Segundo ele, a revolução de sucos gástricos despejados no estômago é que fazem a revolução interna com consequências imediatas. Com as dicas do capitão, fui para a proa, olhei corajosamente para aquelas ondas cor de chumbo e fui uma das poucas a não passar mal. Ressalte-se: Amir Klink, lobo do mar, presente à viagem, também.

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Inevitável a lembrança da situação vivida nos mares do Sul e o efeito colateral da CPI da Covid-19 sobre o 01. Ciente de que a água já lhe ia acima da cintura, Bolsonaro – que não teve as dicas do capitão Jorge – nem percebeu que seus sucos gástricos se aninharam em seu estômago, trazendo para o respeitável público o som dos seus arrotos (eca!). Em pânico, seu organismo travou. E olha que ele nem esperou das janelas da casa de vidro, o depoimento de Cristiano Carvalho, que desvendou para os senadores a verdadeira gangue de coronéis levada pelo ex-ministro Pazuello, para o ministério da Saúde.  

Os sete coronéis - na antessala, portanto, do generalato -,  se aplicaram em desviar recursos na compra de vacinas, enquanto 536 mil brasileiros morriam na dependência do imunizante. Abriam as portas do ministério para uma verdadeira fauna, onde cabia um PM endividado, um revendedor (o próprio Cristiano), beneficiado pelo auxílio emergencial e um reverendo, muito chegado à primeira-dama, Michelle. Ouvisse isto antes de ser internado e o seu estômago sairia pela boca, já que os circuitos internos de Bolsonaro deram um nó, só de ouvir o depoimento da Emanuella Medrades.

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ali para o hospital foi questão de mais alguns arrotos. Bolsonaro sentiu que tinha o “rabo preso”, naquele desfile de falas suarentas e trêmulas. Guardado entre as paredes do Hospital das Forças Armadas, em pânico, talvez tenha considerado mais prudente amplificar o mal-estar que o medo acarretava. Afinal, na semana anterior, todos os seus índices negativos nas pesquisas ultrapassavam a barreira dos 60%. Desde o que apontava para a sua pouca inteligência, até o de rejeição. No dia 8 de julho 67% o consideravam ruim ou péssimo na aferição da pesquisa Exame/ideia.  

Melhor vitimizar. Coalhou as redes sociais com fotos deprimentes, antiéticas e repulsivas, onde apareceu seminu, ligado a fios e ventosas. O mesmo fizeram seus filhos e apoiadores/robôs. Apelou para o discurso do “apunhalado” que fica praticamente inválido depois do atentado. Desta vez, por um triz as TVs caíam novamente no conto do plantão permanente em porta do hospital.

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Fosse na minha família e a minha avó o teria feito – lá pelo idos dos anos de 1950 – engolir goela abaixo um vidro de um bom óleo de rícino e estava resolvido. Para rebater, um chá de camomila com uma colherada de Maracujina e uma noite de sono, para baixar a tensão. Amanheceria novo para enfrentar o chiqueirinho.  

Bolsonaro preferiu o espetáculo. Voo cruzando o céu, comboios deslizando o seu drama pelas ruas e avenidas paulistas, e muitos, muitos boletins explicando o nó nas tripas. O vice-presidente, Mourão, deu de ombros. Mais que depressa, Bolsonaro ainda tenta tirar mais uma casquinha política da situação, deslocando Arthur Lira para o cargo. Assim, infla o ego do líder do Centrão, que mantém o apoio já denunciado nos protestos, como abusivo. Na foto ou fora delas, Bolsonaro está em maus lençóis.

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O saldo positivo deste imbróglio foi fazer baixar a fervura nos quartéis. É possível que por esses dias, durante os exercícios físicos, quando os militares nos batalhões entoam canções para elevar o moral das tropas, a gente ouça além muro os versos de Cazuza: Ideologia! Eu quero uma pra viver...  

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