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Marcia Tiburi

Professora de Filosofia, escritora, artista visual

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Um comentário sobre o caso da atriz usada pela mídia

Se o capital é imagem, ninguém terá mais direito à sua própria imagem, pois é ela que está sendo o objeto de todo tipo de violência ligada à manipulação

(Foto: Reprodução/YouTube)
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Na era do espetáculo a imagem vale mais do que a vida. Não há valor fora do sistema que administra o espetáculo como capital que não seja a imagem. O que não é imagem, deve se transformar em imagem. A vida e os corpos que não se espetacularizam não valem absolutamente nada. 

As redes sociais colocaram a espetacularização ao alcance de todos. Os meios de produção do espetáculo estão disponíveis para quem tiver um computador ou um telefone celular.

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A exposição é o caminho para o capital espetacular. A verdade, a honestidade e o respeito ao outro escapam ao cálculo desse programa. 

Embora a internet como um todo e as redes sociais como empresas que são tenham donos, as pessoas passam a fazer parte do espetáculo como se fossem donas do cyberespaço no qual elas são colonizadas. O acordo entre senhores e escravos digitais se renova. 

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O espetáculo se torna cada vez mais uma profissão para quem pode trabalhar nele, embora a maioria continue a serviço de poucos, de maneira escravizada. 

O setor do entretenimento administra a imagem como capital em um nível profissional. Nesse contexto, a mídia faz o que quer, sem lei, sem ética.

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Se a imagem é o novo valor, é lógico que ela será objeto de desejo, de roubos e sequestros. E junto com esses sequestros e roubos, vai a dignidade dos corpos e das vidas às quais estão ligadas as imagens indevidamente apropriadas. 

O capitalismo nunca será honesto e não poupará ninguém. 

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Se o capital é imagem, ninguém terá mais direito à sua própria imagem, pois é ela que está sendo o objeto dos jogos de expropriação, apropriação e todo tipo de violência ligada à manipulação. 

No contexto de um país em que o capitalismo de desastre e a ideologia do choque se especializam a cada dia, já nos habituamos a esquecer o que aconteceu hoje, esperando o horror de amanhã. Passamos a funcionar conforme o horror do momento. 

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Nos transformamos em consumidores do horror, aptos a viver o choque do dia. Somos vítimas da sociedade do espetáculo numa escala infinita. 

Somos objetos do horror, somos consumidores do horror, nos horrorizamos em um looping cotidiano e somos adestrados para seguir no dia seguinte. Não conseguimos nos livrar do mecanismo que nos captura. Assim, a vítima do dia é usada pelo sistema, do mesmo modo que os algozes visuais que gozam no julgamento. 

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Assim, a imagem da jovem atriz estuprada, engravidada pelo estupro, que decidiu entregar a criança, fruto do estupro para adoção, foi usada e abusada pela mídia que é parte da cultura do estupro e da misoginia que alimenta o sistema. 

O arrependimento dos algozes foi tão falso quanto o jogo do sistema perverso ao qual servem. 

As desculpas, contudo, não conseguiram ser tão espetaculares quanto o horror e soaram falsas e patéticas. 

Temos consciência desse jogo? 

Essa pergunta é fundamental para poder sair do horror que gera e alimenta esse sistema.

Por isso, esse artigo, não usa o nome da atriz. Para evitar ser parte do abuso produzido pelo algoritmo.

Quem tiver a sorte de pensar sobre isso, talvez possa salvar a própria subjetividade do mal banal que nos torna a todos fascistas em potencial. 

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