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Lais Gouveia

Mineira, jornalista e ativista da mídia livre

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Um relato para a elite tupiniquim sobre o cheiro da miséria

Talvez o cheiro da miséria não chegue perto das mansões dos jardins, veladas por seguranças, com seus bistrôs charmosos, mas no Brasil real crianças comem lixo junto com ratazanas, mães desesperadas pedem um prato de comida; em frente à catedral (da Sé, não de Notre-Dame), centenas de jovens, fortes, ficam ali jogados, sem perspectiva alguma de emprego; nesse cenário Brasil em frangalhos, a socialite brasileira Lily Safra decidiu doar 88 milhões para a catedral francesa; para o nosso Museu Nacional, nada

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Talvez o cheiro da miséria não chegue perto das mansões dos jardins, com suas ruas arborizadas, veladas por seguranças e bistrôs charmosos. Lá, até as travessas possuem aroma de dama da noite, com suas vitrines que reluzem Dolce e Gabana. Ou Gucci. Tanto faz, o importante é ser caro. 

Já que para vocês, gente phyna e diferenciada, o cheiro da miséria é algo tão abstrato, vou tentar descrevê-lo.

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Em uma dessas tardes de outono, batia pernas pelo centro de São Paulo com meu companheiro. O susto não foi maior, porque nós já sabíamos o quanto a pobreza triplicou no País desde 2016, ano divisor de águas para os vampiros aloprados assaltarem nossa nação.

Perto da Igreja da Sé, o cenário de degradação era pior. Crianças comendo lixo junto com ratazanas, mães desesperadas pedindo um prato de comida. Em frente à catedral (da Sé, não de Notre-Dame), centenas de homens jovens, fortes, sentados. Uns jogando xadrez, outros cartas. Muitos bebendo, usando crack. Um cenário da falta de perspectiva que assola sempre os mais vulneráveis.

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Não tem emprego no Brasil. E nossos empresários não estão muito preocupados com isso não. Afinal, reforma trabalhista e mão de obra barata é o que mais importa. Lucro.

De repente, uma criança aborda meu companheiro. "Por favor, tio. Me dá essa água". Meu companheiro deu a garrafinha para o menino maltrapilho. Provavelmente viu naquela água cristalina uma chance de não beber água das latrinas sujas e fétidas".

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"Ahh Laís, que dramatização", algum rico pode dizer.

Não, seu moço rico. Sei que do alto do clube de Pinheiros é quase impossível ver a miséria, mas ela é muito pior do que o meu relato. Sabe por que? Miséria em relato soa até romântico para quem nunca a sentiu.

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Algo que eu não teria capacidade de descrever com tanta riqueza, diferente de Graciliano Ramos, que o fez de forma emocionante em Vidas Secas. (Aposto que muito desses ricos já choraram com a cachorra Baleia, mas possuem nojo das crianças que pedem esmola na porta do Shopping Higienópolis).

Minha indignação com os grandes ricos sempre foi uma constante. É notório que nossa elite sempre odiou o Brasil, mas algo nesta semana chamou minha atenção.

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"Posso doar, mas tem que ser na França, é chique"

A notícia: "Brasileira doa R$ 88 milhões para a reconstrução da Notre-Dame".

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A socialite que doou: Lily Safra, viúva do banqueiro Edmond Safra. Sétimo maior banco brasileiro.

É muito, muito constrangedor, o quanto a elite brasileira odeia, desdenha e ignora o próprio país.

Nada contra a catedral de Notre-Dame, aliás, um patrimônio da humanidade que precisa ser reconstruído. Mas dona Lily, a senhora sabe quantas tragédias abateram nosso País nos últimos meses? A principal, no que tange nossa cultura, foi o incêndio do Museu Nacional, fato que já sumiu do noticiário. Cadê a boa vontade dos nossos ricos com a nossa cultura? Velhos tempos em que Assis Chateaubriand movia mundos e fundos para alavancar museus.

Gente rica e embebida de champanhe rosé: O Brasil está destruído, em todos os sentidos. Mas eu sei, não adianta explicar, vocês não ligam, não se importam. Sempre com esse esprito de porco à lá Danuza Leão: "Paris perdeu seu encanto. Se meu porteiro pode viajar para lá, qual a graça de ir à França?".

Como sempre relembra nosso mestre Jessé Souza: A elite do atraso!!!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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