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Carlos Alberto Mattos

Crítico, curador e pesquisador de cinema. Publica também no blog carmattos

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Um Sísifo iraniano

"Em "Um Herói", Asghar Farhadi conta como uma mentira deflagra a sorte de um presidiário que tenta parecer magnânimo para ter sua pena relaxada"

(Foto: Divulgação)
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Desde Procurando Elly, seu primeiro sucesso internacional, Asghar Farhadi se apoia na figura da mentira para construir seus dramas. Uma mentira é lançada como uma espécie de pecado original do personagem, que vai colocá-lo numa rota de constrangimentos e infortúnios. Em Um Herói (Ghahreman), a receita se repete. Rahim (Amir Jadid) está preso há dois anos por uma dívida não paga. Durante uma licença de dois dias, ele tenta convencer o credor a receber uma parte do débito e livrá-lo da prisão. Para isso usará as moedas de ouro encontradas por sua namorada numa bolsa feminina perdida na rua.

No entanto, ao perceber que o valor das moedas era mais baixo do que pensava, ele decide anunciar sua devolução à dona para bancar o homem nobre e assim ter sua pena relaxada. A primeira mentira é muito simples: ele próprio teria achado a bolsa. Os agentes penitenciários veem ali um bom motivo de publicidade e ajudam a celebrá-lo como herói na mídia. Mas o credor, prejudicado no passado por falcatruas de Rahim, não está convencido de seus bons propósitos. Outras mentiras vão se acumular, assim como os questionamentos por parte da prefeitura da cidade, de uma instituição de caridade e da própria família de Rahim.

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Para assimilar os meandros desse imbroglio, é preciso compreender o valor da palavra na sociedade iraniana. Muitos filmes de Kiarostami, Makhmalbaf, do próprio Farhadi e de outros diretores conterrâneos nos ensinaram que a noção de honra, as pressões comunitárias e uma ideia de ética que vem do islamismo criam uma nuvem turva nas relações entre as pessoas. A decência é um valor que precisa estar visível na testa de cada um, ainda que não seja praticada de verdade. Agregue-se a isso o papel das redes sociais, que multiplicam e aceleram a visibilidade das reputações.

Em sua luta para não voltar à prisão, mantendo no rosto um sorriso que exprime esperança e implora complacência, Rahim se enreda nas malhas de seus próprios planos, contando com a solidariedade da namorada, do cunhado, do filho gago e de um taxista. Os limites de sua prudência e de sua impostura são testados várias vezes, causando no espectador um tipo de angústia muito característico da dramaturgia iraniana. 

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Farhadi esmera-se, como sempre, na encenação naturalista, que se manifesta especialmente nas cenas domésticas. Mas é talvez na sequência inicial, passada no magnífico Túmulo de Xerxes, que ele desenha a metáfora central do filme. Rahim sobe pacientemente as intermináveis escadarias do monumento em restauração para encontrar o cunhado. Ao chegar no topo, é imediatamente convidado a descer. Um trabalho de Sísifo – eis o que o pobre homem desempenhará até a cena final.     

>> Veja as plataformas onde assistir a Um Herói.

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O trailer:   

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