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Cássio Vilela Prado

Escritor

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Uma breve análise do cenário político brasileiro

Insiste em meu pensamento uma fala de um personagem do último filme do genial Jean-Luc Godard (Paris, 3 de Dezembro de 1930), Nossa Música – "Matar um homem para defender uma ideia não é defender uma ideia, é matar um homem". Ou uma mulher, digo eu

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No Brasil atual (2014-2015), assistimos, lamentavelmente, a um cenário ético ainda pior, pós-eleitoral.

Pode ser visto como a história de um cara arrogante que foi derrotado legitimamente pelo voto popular e democrático nas últimas eleições presidenciais (2014), 'un coûteux non castrésque' (um cara não castrado, diriam alguns psicanalistas) que ainda se julga imbatível e infalível, assim como a sua gleba, desprovido da sublime ética da falta, daquela ética da qual precisamos mais para ser menos. Aquela que sabe conviver com os limites éticos, apesar do sofrimento que isso possa causar em face às derrotas ao longo da vida. Entretanto, diga-se de passagem, as derrotas possibilitam novas reconfigurações do mal-estar. Assim a vida caminha, perde-se, ganha-se...

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Nada deve ser eterno, pré-estabelecido, eternamente ordenado. É preciso sair da imagem do espelho com o outro, ficar é mortal, pois, elimina a diferença. Faz-se necessário uma abertura à alteridade, ao outro. É preciso sair do espelhinho e do umbiguinho. Por um certo caos como forma de desestabilizar as ordenações débeis e impossíveis de se sustentar na completude imaginária com o outrinho aspirante a, ou detentor de um poder narcisista.

O mais íntimo de nosso ser talvez seja o nosso desejo singular caótico, do qual nada queremos saber, que nós defendemos através da sua negação e de sua projeção nos outros. Assim vale tudo. É a ética do vale tudo, desde que o mal seja o outro e do outro, aquele com o qual eu o utilizo para descarregar as minhas frustrações.

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Sem essas delimitações de si e do outro, a sociedade política tem se tornado um grande ânus que não pára de defecar dejetos inutilizáveis, seres paridos na condição de cagados, irreflexivos, imediatistas, imorais. Criaturas horrendas, desprovidas do menor senso crítico de si mesmos e do outros. Avessos à alteridade.

São fezes estocadas e lançadas, atinja quem atingir. É a ética dos cagões e dos umbigos enlaçados, que não sabem parir vidas nem engendrar cânticos sublimes e pacíficos, adubos mínimos necessários para a existência da civilização.

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Vivemos a ética da destruição das possibilidades. É a era imperativa do si mesmo, correlatamente, da dor do outro.

Seres abjetos, cagados, pelos quatro cantos de nossa Pátria.

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Impossível de se dialetizar no campo discursivo, pois à ética da convivência democrática, erigiu-se, de forma fabricada pela ganância fálica do poder pelo poder, o ódio ignóbil e injustificado.

Pois bem, líderes assim, inundados pela maldição de Narciso de Ovídio (43 a.C.-17 d.C.) , como o cara mencionado acima, além de se mostrarem desprovidos de elementos éticos democráticos, sai a contaminar toda uma nação.

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O ódio irracional, a cólera, as calúnias... Tudo isso aliado às figuras mais sombrias de nossa Pátria entraram em cena para descontruir a boa ética democrática. Nunca se viu tanta sordidez, insanidade e violência juntas.

O esgoto perdeu a sua tampa.

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Em nada obstante, os políticos se apresentam como vendedores de ilusões a altíssimos custos degradantes, desde que se mantenham as cegueiras dos seus rebanhos acríticos, colados em seus narizes empinados, mas que somente servem para denunciar, além de suas desprezíveis miopias, a direção obscena e vil para aonde apontam e querem chegar.

Uma civilização, uma Pátria inserida nesse lamaçal ético, possivelmente tende à sua própria extinção.

Rebanhos destrambelhados, promovidos e promotores de líderes antiéticos os quais se valem de todos os meios para chegarem em seus podres fins. Repetições enfadonhas, soçobros gozantes pérfidos.

Insiste em meu pensamento uma fala de um personagem do último filme do genial Jean-Luc Godard (Paris, 3 de Dezembro de 1930), Nossa Música – "Matar um homem para defender uma ideia não é defender uma ideia, é matar um homem.".

Ou uma mulher, digo eu.

Não é minha pretensão mudar as ideias de ninguém, não sou tão mentecapto assim. Porém, tento apenas uma provocação, uma tentativa de trazer um pouco de caos do qual falo aqui, e assim, quem sabe, lançando fezes eu possa parir um pouquinho de vida, mínima que seja, que escape um pouco às rédeas da norma.

É assaz importante perceber que a massa de manobra ["bucha para canhão" – Erich Fromm (1900-1980)] é ética e esteticamente moldada pelos artífices imorais e malfeitores da vida pública que também foram cagados pela grande cloaca-anal do chamado sistema capitalístico planetário, hoje em dia, mais do que nunca, oriundos da cópula entre o capitalismo selvagem e a ciência. Inescrupulosos... Afora os seus lucros, ninguém vale nada.

Percebe-se então, nessa interpretação, que dificilmente se pode vencer um sistema global que derrama o seu líquido miserável, inundando todo o planeta, ocupando todas as brechas e insuflando subjetividades.

Combater a ética imoral de canalhas, em pequenos focos fedidos, é como enxugar gelo ou protagonizar Sísifo de Pausânias (115 d.C-180 d.C.). Você elimina uma praga aqui, nascem dez ali, prontos para a eliminação da diferença e para a manutenção do império capitalista da barbárie.
Entretanto, faz-se necessário enxugar gelo sim, combater pragas focais sim, numa espécie de luta molecular distribuída e relativizada para que se possa almejar a estrutura molar totalizante.

O novo sempre é combatido pelo velho. O caos irrompe e a normatização estável da vida tende a fechar-se em seus esgotos controlados através de manobras obscuras irrigadas liquidamente nos espaços e nas formas de subjetivação individuais e coletivas.

Dessa forma, vivemos num grande esgoto líquido e asqueroso. Os ratos sempre estão a postos.

E as campanhas eleitorais, heim? Verdadeiros circos trágicos, regidos por éticos apestosos e infectos, em sua grande maioria. Além disso, podem ser vistas também como competições esportivas que vêm se tornando cada vez mais violentas e abjetas.

De um lado, um líder encarnado e que encarna os ideais de seu rebanho, com os seus interesses apenas umbilicais e sociocêntricos; do outro, o mesmo se dá com os personagens adversários diferentes, uns mais fedidos do que outros...

Para não perder a piada, pode-se pensar no século XXI: "Só mudam os mosquitos, a bosta é a mesma".

É obvio que há líderes políticos mais paridos do que cagados, assim como alguns rebanhos são pedigrees mais purificados pela dignidade de seus esforços, mas na maioria das vezes, assistimos aos cagões e cagadinhos disseminando odores fétidos e infectos pelos ares da polis...
Ambos os lados se pretendem menos bostas, mas o desejo de poder, subjacente aos discursos, é o mesmo.

E que desejo de poder é esse?

Nada mais do que o de ocupar um lugar de completude imaginária, advindo das mais tenras estruturas infantis, as quais permanecem atualizadas: Eu completo o outro e o outro me completa. Assim, pelos traços identificatórios grupais comuns, os bandos se organizam todos em torno de um ideal, um líder e uma bandeira.

O que se percebe também, e importante que se diga, é que quando determinado líder vence a competição escatológica, torna-se impossível dar um jeitinho para todo o seu rebanho que supostamente o elegeu para o trono do poder imaginário da felicidade:

"Eu votei em você, agora quero o meu emprego"; "Fiz campanha para você e vou ganhar só isso"; "A prima da sobrinha da tia do cunhado do meu ex é assim com ele" ... "Vou dar um jeitinho pro cê!"; "Fulano tem as manhas, deixa comigo" ...

Noutras vezes, escuta-se: "Você sabe quem sou eu?"; "Você sabe com quem está falando?"; "Vou ligar para fulano agora, ele é muito meu amigo!". Rebanho poderoso, heim?

Pois eu lhe digo: Sim, eu sei quem é você, com quem estou falando e estou pouco me lixando para você e para o seu amigo poderoso que "não sai da cozinha lá de casa!", conforme gosta de repetir.

Sei sim, você é um bosta, cagado e espalhando fezes pelo seu caminho bestial!!!

Se o fulano "seu amigo" não sai de sua cozinha é porque ele também é tão bosta e cagado quanto você o é, pois disseminam éticas umbilicais seletivas em detrimento do bem estar coletivo. São preconceituosos, discriminadores... Eis a sua ética política.

Para você, o outro diferente e que não frequenta a sua cozinha, deve permanecer nas latrinas de seus castelos encantados, embora a sua cozinha exale o pior dos odores fétidos ambientais.

Ouvi certa vez de um Secretário, em algum lugar deste país, o seguinte comentário: "O difícil é montar as equipes, depois as coisas fluem bem".

Ao que pensei imediatamente: O difícil é achar as bostas ideais que completem o seu odor. E não é que se acham fácil!

Juntam-se a fome com a vontade de comer e assim os mosquitos se atraem sobre o mesmo bolo fecal. Mosquitos, éguas, fezes, cagados...

Todavia, tão logo, como deveria ser do conhecimento de todos, os recursos são escassos e a demanda é infinita, mesmo para os amigos e comparsas do rei.

Assim, o troninho imaginário inicia o seu colapso e seu calvário em sua própria ereção. Conforme foi dito acima, todo grupo também tem o seu bode expiatório e o seu delator que tendem a se pluralizar.

Recomendo aqui a leitura do livro genial do nada menos genial indiano naturalizado inglês, George Orwell (1903-1950) - A Revolução dos Bichos (1954).

Posto a difícil sustentação do imaginário na realidade, o líder começa a perder forças assim como o seu grupo frustrado, necessitando de acordos e conchavos para manter a sua ilusão de completude conquistada.

Existe também um tipo de cidadão muito comum nas cidades Brasil afora. É aquele que não se pronuncia abertamente. Aquele que já fora advertido duramente pelos Bertold Brecht (se não conhece, pesquise, cagão!). É aquele que finge de égua. São éguas sociais políticas.

Assemelham-se aos em cima do muro, embora consigam ser piores, pois nem o muro conseguiram escalar, senão, tão somente, permanecem no altar do suicida Pôncio Pilatos (Nem se sabe a data de seu nascimento – 37 d.C.).

Vangloriam-se de não terem opções políticas: "Político é tudo igual"; "Meu voto é secreto"; "Eu não gosto de política"; "Aqui na cidade, você já viu, né? Se a gente apoia fulano e ele perde, o outro que ganhou persegue a gente" (Importante frisar aqui que "o outro persegue a gente" é o mesmo que dizer, "o outro não vai arrumar serviço para mim nem vai me ajudar". A sua ética também está à venda.

É hilário perceber que assim também eles se comportam nas redes sociais. São auto vigilantes e autorreferentes. São verdadeiras éguas virtuais nas redes sociais. Estão por dentro de tudo, leem tudo, mas não curtem nada, muito menos postam comentários, a não ser em suas fotos narcísicas e de seus pares, em lugares imaginariamente superiores, belos e sagrados. Apesar de tentarem se esconder, são os mais reveladores pelas suas próprias ausências.

Percebem agora!

No fundo e na superfície, se se presta mais atenção, são os mesmos cagados com as suas éticas oportunistas, do famoso jeitinho brasileiro descrito pelo antropólogo fluminense, Roberto da Mata (1936). Ficam à espreita, prontos para dar o bote, melhor dizendo, o coice.
Provavelmente, no próximo pleito, "embora tenha muita água para passar por debaixo da ponte", a realidade exale mais o seu odor...

As coisas se repetem de forma diferente. É um eterno retorno...

E você, não vai tentar cortar a linha da história que o aprisiona nas fossas escabrosas e imorais? Ou vai permanecer sempre cagado e cagando?
Que tal ajudar a parir um novo sistema, uma nova ética, uma nova política? Pelo menos parindo a si mesmo, se transformando, lançando numa nova abertura ao caos reconfigurador, ao outro, à alteridade. Nada tem a perder... Esforçe...

Contudo, para parir um novo sistema e a si mesmo, faz-se necessário enfiar um certo caos nessa ordem pútrida, estática e anacrônica que nada faz além de insistir na perpetuação no poder através de seus próprios cus compartilhados entre os seus pares.

Eis suas políticas e as suas éticas.

Fummm!

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