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Alexandre Aragão de Albuquerque

Escritor e Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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Uma rebeldia que foge?

Ciro Gomes (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
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A Teoria dos Atos de Fala (speech acts), elaborada inicialmente por John L. Austin (1911-1960), defende que o uso das palavras em diferentes interações linguísticas determina o seu sentido. Esse sentido não se reduz apenas a proposições declarativas, mas dependendo do jogo de linguagem, o sentido de uma proposição pode mudar. Por isso é necessário investigar os diversos tipos de enunciados que não são mera constatação das coisas.

Ao estudar tal questão, Austin descobre que determinadas sentenças são na verdade ações. Por exemplo: “Vou pra Paris”. Ou seja, ao dizer esta frase, realiza-se também uma ação de viajar para um determinado lugar, movido por alguma razão não necessariamente revelada. Portanto, são atos de fala aquelas ações realizadas através do falar.

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Assim, é preciso distinguir as diversas dimensões que um ato de fala possui, uma vez que uma única locução pode realizar diferentes atos de fala. Segundo a teoria de Austin, o primeiro deles é o ato locucionário”, ou seja, o ato de dizer a frase. Mas há também o segundo ato denominado de “ato ilocucionário”, ou seja, o ato executado na fala. Nesse caso, ao dizer “Vou pra Paris”, há a constatação de um contexto existencial ao qual se quer chamar atenção e do qual intenciona ausentar-se. A força ilocucionária está diretamente ligada aos contextos sociais que se estabelecem entre os falantes, relações que podem ser de autoridade, de intimidação, de coação, de cooperação etc. Por fim, há ainda um terceiro ato, chamado de perlocucionário”, que é o de provocar um efeito em outras pessoas, por meio de uma determinada locução, influenciando-as em seus sentimentos e pensamentos, para alcançar determinados interesses por meio de uma ação estratégica mediada pela linguagem.

Portanto, o caso de um jornalista, ao realizar o seu ofício investigativo de apuração da verdade dos fatos, precisa ter a competência de estimular perguntas capazes de trazer à tona, na maior plenitude possível, as dimensões contidas no discurso de um seu interlocutor, para desvelar as intenções ocultas de suas sentenças, e assim poder avaliar em que medida o expositor permanece fiel ao seu pensamento, e quais interesses ele estaria defendendo de fato. Ou seja, buscar coerências (ou incoerências) entre discurso e prática, fala e ação da pessoa entrevistada.

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No último dia 21, ao final do lançamento da candidatura do presidenciável Ciro Gomes (PDT-CE), o jornalista Luís Costa Pinto, da empresa Brasil 247, durante a coletiva de imprensa concedida pelo candidato, fez-lhe duas indagações: 1) Caso haja segundo turno na eleição presidencial de 2022, entre Lula e Bolsonaro, se ele, Ciro Gomes, repetiria o mesmo ato ocorrido em 2018 e viajaria novamente para Paris. 2) Se ele considera que ainda há espaço político para a construção de unidade do campo da esquerda, envolvendo o PDT, para derrotar o fascismo.

Nitidamente incomodado com as perguntas de Costa Pinto, Gomes afirmou que “com relação aos caprichos do lulopetismo, nunca mais. Anote isso aí, para não fazer mais esse tipo de pergunta”. E concluiu: “A 247 não é um órgão de imprensa. É um panfleto do Lula, pago com dinheiro sujo”. Lembremos que em 18 de abril de 2021, em entrevista ao jornal O Globo, quando indagado se houve arrependimento da parte dele por ter viajado para Paris no segundo da eleição de 2018, Gomes foi taxativo: “Pelo contrário. Eu faria hoje com muito mais convicção. PT nunca mais”. Mas não acusou a Globo de ser panfleto de ninguém, nem de ter sido golpista, nem colocou em xeque as origens financeiras daquela organização, apesar do famoso “Panama Pappers”.

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Portanto, foi sobre esta base declaratória de Gomes, recentemente publicizada em 2021, que o jornalista Luís Costa Pinto lhe encaminhou as perguntas para obter dele uma confirmação. Não deveria haver incômodo algum da parte do entrevistado. O que ele estaria escondendo para externar, mais uma vez, tamanho descontrole emocional? O jornalista, cumprindo sua missão profissional, buscava entender que tipo de rebeldia é a propagandeada pelo marqueteiro do Ferreira Gomes: uma rebeldia que fugirá novamente, ainda com mais convicção?

Uma das contradições indecorosas contidas nas expressões de Ciro Gomes são os ataques mesquinhos que ele dispara sistematicamente contra Lula e o PT, mas que investe fortemente para manter a aliança política com o PT no Ceará. Tal contradição está beirando às raias do limite, devido à humilhação que a oligarquia Ferreira Gomes impõe sistematicamente ao Partido dos Trabalhadores e a toda a sua militância cearense. Já há uma forte percepção social de que sem o PT, o PDT perderia a eleição para o governo do Estado. Seria este um dos motivos de tamanho descontrole? Afinal, as pesquisas mostram que Gomes conta com minguados 3% de intenções de voto. Não dá para puxar votos com um número tão inexpressivo assim, não é verdade?

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