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Celso Raeder

Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

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Vai, Dilma, conta para o mundo!

Toffoli não está preocupado com as instituições brasileiras. Seu temor é com a imagem dele e dos seus pares, diante da opinião pública internacional

Vai, Dilma, conta para o mundo! (Foto: Nelson Jr./SCO/STF)
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Faço mil coisas ao mesmo tempo. Ouço Rush no Youtube, vejo a reprise da Escolinha do Professor Raimundo no Canal Viva, e abro a página do Globo Online, atraído pela declaração do ministro do STF, Dias Toffoli, que considera uma "ofensa às instituições brasileiras" o discurso que a presidente Dilma fará na ONU, denunciando o golpe do qual é vítima. Pedi perdão ao mestre Chico Anysio, me despedi da batida vigorosa de Neil Peart e me concentrei no texto do jornalão dos Marinhos. Valeu a pena.

Toffoli não está preocupado com as instituições brasileiras. Seu temor é com a imagem dele e dos seus pares, diante da opinião pública internacional. Os principais jornais do mundo já entenderam que Dilma é vítima de um golpe político, apoiado por instituições que, estas sim, ofendem o povo brasileiro. A alegação de que o rito do impeachment obedeceu a Constituição e as regras definidas pelo STF podem até servir para passar uma camada de verniz sobre o processo. Um golpe só é perfeito quando cumpridos todos os trâmites legais, que não deixam margem para questionamentos judiciais. Foi o que fez Eduardo Cunha, ao obrigar o Congresso a funcionar continuamente, até que se cumprisse o número de sessões ordinárias determinadas pelo regimento interno, entrando pelo final de semana e culminando com o circo de horrores que a sociedade assistiu em pleno domingo.

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Na mesma linha de Dias Toffoli, meu xará, o ministro Celso de Mello, atem-se aos trâmites burocráticos do rito de impeachment para justificar a legalidade do processo. Segundo ele, a tese do golpe é uma questão "eminentemente pessoal e um gravíssimo equívoco" cometido pela presidente. Tem razão o ministro, considerando-se tão somente o que determina a letra morta da Lei. Agora, ocorre que os magistrados da mais alta corte são os detentores de toda sabedoria jurídica. É da competência do Supremo, portanto, estabelecer novos paradigmas para situações sem jurisprudência, como é o presente caso.

Pode um réu, que responde a ação penal gravíssima, comandar um processo de impeachment? Parlamentares investigados e acusados de corrupção na operação Lava Jato são idôneos para tomar decisão de tamanha relevância para a nação? É normal, aos olhos dos ministros do STF, que um vice-presidente conspire abertamente contra a presidente, articulando apoios, votos e negociando cargos, evidenciando se tratar de uma articulação premeditada? Se esses e outros pontos obscuros desta crise são entendidos como práticas republicanas, não é bem a Dilma que expõe as instituições brasileiras ao vexame.

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Falei lá em cima sobre o golpe perfeito. Não é o caso desse. Os barões da imprensa se articularam, as viúvas da ditadura se arvoraram, imbecis criaram movimentos de mobilização defendendo volta de militares, tortura e outras práticas que aviltam a dignidade humana. Amedrontaram parte da sociedade com argumentos estapafúrdios, como uma suposta ameaça comunista, total absurdo num cenário onde o governo fez de tudo para agradar aos capitalistas. Não conseguiram sequer rachar o país. No máximo uma fissura.

O circo do Cunha teve no domingo sua única apresentação. Conseguiu o que queria, mas já na segunda feira milhões de brasileiros entenderam que estavam sendo induzidos a erro. Deputados desqualificados, indignos de representarem o povo, se alternavam no microfone da Câmara para mandar beijos para a família, como se estivessem em programas de auditório. E os principais canais de televisão do mundo inteiro transmitindo aquela farsa dantesca. Quer falar mesmo sobre "ofensa às instituições do Brasil", ministro Toffoli?

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O golpe falhou, mesmo que o Senado confirme a cassação da presidente Dilma e o Supremo avalize a decisão. Fernando Collor não encontrou uma única alma disposta a vestir verde e amarelo para declarar apoio ao seu mandato. Dilma não está sozinha nessa luta. São milhões de brasileiros, de todas as classes sociais, que querem sua permanência no Palácio do Planalto. Nem o PSDB, nem o PMDB esperavam essa reação das ruas. E muito menos Eduardo Cunha, que agora enfrenta a ira popular, com petições pedindo sua cassação, que já ultrapassam dois milhões de assinaturas em menos de três dias.

As instituições brasileiras estão na lona. E não é de agora nem tampouco por conta dessa crise. Basta fazer uma rápida pesquisa no Google para saber que o povo brasileiro não acredita nas suas instituições há décadas. E os culpados são os próprios mandatários de cada uma delas. Segundo pesquisa realizada pelo Núcleo de Pesquisa em Políticas Públicas da Universidade de São Paulo, 70,5% das pessoas não confiam na Justiça, índice que sobe para 76,3% quando se trata do Congresso Nacional. Isso em 2014, quando Eduardo Cunha não era presidente da Câmara. Imagine hoje.

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Se existe algo que ainda possa ser feito para resgatar o mínimo de credibilidade nas instituições, essa responsabilidade está nas mãos do Senado. No entanto, uma vez consumado o golpe, caso os senadores desejem mandar beijos para a mãe, para o pai, o tio, o neto ou às vítimas do Rodoanel, nem Toffoli, nem Celso de Mello nem ninguém poderá evitar a derrocada moral do Estado brasileiro. Essa crise ultrapassou fronteiras, e o mundo inteiro quer saber, agora, é se o Brasil está ofendendo a democracia.

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