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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Vidas podadas. Talentos interrompidos

"As cinco mortes são o reflexo imediato da política que orienta 'atirar na cabecinha'. O que Witzel não avalia é que essas 'cabecinhas' reservam projetos que podem desembocar em carreiras brilhantes e promissoras", avalia a jornalista Denise Assis sobre as cinco mortes no Rio de Janeiro em apenas 80 horas pela polícia do governador Wilson Witzel

'Não me lembro', diz professor que Witzel apontou como seu orientador em Harvard (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

“A manifestação é um direito, mas nós não vamos parar. Não vamos recuar. Se erros ocorrerem, eles serão apurados. Não adianta tentarem nos intimidar. Já sofri muita pressão. Quem estiver segurando um fuzil será abatido”.

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A frase é do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, depois de enfrentar uma manifestação de 50 pessoas, ontem, em Niterói, revoltadas o bastante para se fazerem ouvir. Witzel foi eleito na esteira do discurso bélico do presidente da República, Jair Bolsonaro, numa virada espetacular, (e, no mínimo, intrigante) a dois dias da eleição.

Mas o irmão de Sofia, a garota de 8 anos, que durante o funeral comoveu a todos com seu discurso claro e emocionado - pedindo a Deus que nenhum dos presentes percam pessoas queridas - não portava um fuzil. Dyogo Costa Xavier de Brito, 16 anos, tinha embaixo do braço um par de chuteiras, símbolo do projeto do futuro interrompido pela bala que o atingiu mortalmente nas costas. Não era uma arma. Era o objeto do seu sonho.

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Em 80 horas, como contabilizou o jornal O Globo, a violência repisada a cada discurso do governador, tirou a vida de cinco jovens. Ao que consta, nenhum portando fuzil ou em confronto com a Polícia. Da manhã de sexta-feira (09/08), até a tarde de anteontem (13/08), foram mortos: Gabriel Pereira Alves, de 18 anos; Lucas Monteiro dos Santos Costa, de 21 anos; Tiago de Freitas, de 21 anos e Henrico de Jesus Viegas de Menezes Júnior 19 anos. Gabriel também queria ser jogador de futebol e foi atingido a caminho da escola. Portando livros. Lucas e Tiago foram mortos quando a Polícia invadiu uma festa, em Água Santa, subúrbio do Rio. No máximo, com um copo de bebida nas mãos.

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Dyogo, o irmão de Sofia, era do time da divisão de base do América e estava a caminho do treino. Morreu no colo do avô, que exibiu a sua dor e a camisa com o sangue do neto, nas suas várias aparições na TV.  

Henrico trabalhava como estoquista em um supermercado em Magé, e em fotos nas redes sociais é possível vê-lo em uniforme da empresa. A versão da Polícia é a de que ele tombou com um revólver na mão e um radiotransmissor. (Até quando, esse filme?).

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As cinco mortes são o reflexo imediato da política que orienta “atirar na cabecinha”. O que Witzel não avalia é que essas “cabecinhas” reservam projetos que podem desembocar em carreiras brilhantes e promissoras.

Carolina Maria de Jesus, semianalfabeta, moradora de uma favela de São Paulo, em 1960, foi trazida a público como escritora, pela publicação de seu "Quarto de Despejo - Diário de Uma Favelada". Nascida em Sacramento, Minas Gerais, em data incerta (talvez 1915), Carolina era empregada doméstica e catadora de papel e lata quando seus manuscritos foram "descobertos", numa favela do bairro do Canindé, pelo jornalista Audálio Dantas. Carolina Maria de Jesus viveu em uma época em que a Polícia não tinha armamentos pesados e as incursões feitas nas comunidades não se davam sob a influência de governadores bélicos, beligerantes. Carolina Maria de Jesus pôde crescer e despontar para a Literatura. Ela não morreu com um tiro nas costas.

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Cartola (1908-1980) foi cantor e compositor brasileiro. Cartola nasceu no Rio de Janeiro, no dia 11 de outubro de 1908. Passou sua infância no bairro de Laranjeiras. Só estudou o curso primário, e logo mudou-se para o Morro da Mangueira, onde começou a frequentar a vida boêmia e as rodas de samba. Tocava violão e cavaquinho. Para nossa sorte, Cartola escapou das balas perdidas.  

Paulo César de Souza Lins nasceu no Rio de Janeiro em 11 de junho de 1958. Entre os 6 anos e o início da idade adulta residiu no conjunto Cidade de Deus, na periferia da cidade, tema, cenário e título do seu romance de maior sucesso, levado para as telas do cinema. Graduado em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), atuou como professor da rede pública de ensino do estado. Paulo Lins não morreu com um tiro na “cabecinha”.  

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O desembargador Jessé Torres, da 2ª Câmara Cível, a Polícia do Rio de Janeiro estabeleceu que a Polícia deverá seguir protocolos nas suas incursões na Favela da Maré, onde crianças e moradores lhe encaminharam 1500 cartas descrevendo o terror ante a violência que presenciam. Espera-se que Torres amplie sua decisão para outras comunidades.

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