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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Violência da polícia em atos de domingo coloca em xeque autoridade dos governadores

"Ou Doria e Witzel agiram de acordo com suas origens e ideologias de direita, ou a Polícia nos vários estados estão obedecendo apenas aos seus comandos, de costas para as orientações do governo", escreve a jornalista Denise Assis, sobre a repressão da PM às manifestações em defesa da democracia neste domingo

(Foto: Pam Santos/Fotos Públicas)
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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia 

Como cantou o rei Roberto Carlos – num contexto açucarado de rock-jovem-guarda: “daqui pra frente, tudo vai ser diferente”. Não haverá mais ruas apenas para os adeptos do “mito”. Agora elas são também da resistência. O que quer que seja esta resistência, surgida ontem com o vigor e a disposição dos que querem fazer história. Torcidas de times de futebol de cinco estados se uniram no “Fora Bolsonaro”. E, como sempre acontece, encontraram pela frente a força bruta policial. De quem partiu a ordem para o confronto? João Doria (governador de São Paulo – PSDB) alegou que PMs protegeram manifestantes. Quanto a Wilson Witzel (governador do Rio – PSC) não se pronunciou. O mesmo, fez o comando da sua PM.

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Às 10h35 do dia 20 de fevereiro deste ano, 11 dias depois da morte do ex-capitão da PM, Adriano Magalhães da Nóbrega, morto em um cerco policial na localidade Esplanada, interior da Bahia, depois de contato com a assessoria do governador, Rui Costa (PT) e por sugestão dos assessores, encaminhei algumas questões por e-mail. Havia dúvidas em torno da ação do governo da Bahia, durante o cerco, que suscitavam perguntas ainda sem respostas objetivas:

1 – Quando e por que meios o governador tomou conhecimento de que haveria um cerco ao Adriano Magalhães da Nóbrega?

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2 – O governador participou da montagem da estratégia do cerco? Se sim, com que agentes policiais e qual era o plano traçado?

3 – O governador do Rio de Janeiro solicitou a ajuda da Polícia da Bahia? Por que meios? Há troca de documentos, ou tudo foi apenas apalavrado por telefone? Caso haja troca de documentos, é possível exibi-los? Eles seriam muito úteis para que se compreenda essas tratativas. Consigo obter cópias?

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4 – Quem estipulou a participação dos homens que fizeram o cerco e qual o potencial desse cerco? Isto foi levado ao governador?

Ao recebê-las, no entanto, a mesma equipe que parecia aberta a que o questionário fosse respondido, desculpou-se.  O governador Rui Costa já estava em recesso de carnaval e não responderia. Não insisti, mas me pareceu contraditório. A mesma equipe de assessores que animadamente disse sim, (eles encaminhariam as perguntas para serem respondidas), retornasse e, de modo seco, comunicasse a negativa. O que me pareceu, foi que essas eram perguntas incômodas e o governador não responderia, porque por algum motivo, não tinha todas as respostas para elas. Não seria de bom tom vir a público explicar que sua Polícia – suposição minha – havia agido à revelia do seu comando.

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Na tarde anterior – em 19 de fevereiro -, o Ceará que vivia uma rebelião de policiais militares e soldados do corpo de bombeiros, por aumento de salários, viu as manifestações se acirrarem. Em Sobral, terra da família do ex-governador Cid Gomes, irmão do ex-presidenciável e, também ex-governador Ciro Gomes, foi baleado quando tentou furar o bloqueio de policiais na entrada do 3º Batalhão da Polícia Militar, pilotando uma retroescavadeira. Cid foi atingido, mas se recuperou. Lamentável episódio, mas fortuito episódio.

Ali, naquele momento, ficou escancarado para todo o país, que havia um movimento articulado com as polícias militares, para pipocar rebeliões (mas havia um Cid Gomes no meio do caminho), suscitando o clima de insegurança a justificar o tão sonhado autogolpe propalado por Jair Bolsonaro. Ele deixou isto claro desde o dia 21 de outubro de 2018, quando se dirigiu ao seu eleitorado, na Paulista, fazendo o verdadeiro discurso da vitória, certo de que ganharia, sete dias antes da votação do segundo turno.

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 “Petralhada, vai tudo vocês (sic) para a ponta da praia. Vocês não terão mais vez em nossa pátria. (…) Vocês, petralhada, terão uma Polícia civil e militar com retaguarda jurídica para fazer valer a lei no lombo de vocês. (…) Será uma limpeza nunca visto (sic) na história do Brasil”.

Esta é a terceira vez que volto a este discurso de Bolsonaro. E voltarei a ele quantas vezes for preciso, não por acreditar que haverá um golpe com as Forças Armadas, mas para lembrá-los de que ali, para o seu público, Bolsonaro expos o seu “plano de governo”, qual seja: governar de forma autoritária. E se volto a ele misturando os dois episódios descritos acima, é para mostrar que a Polícia Militar dos vários estados, há muito fugiram do controle dos seus comandos e ao comando dos seus governadores. Esses policiais podem vir a ser uma “força auxiliar” do “mito”.

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Tanto é assim, que – sem querer eximi-lo de culpa pelos atos violentos -,  lembro que o governador de São Paulo, João Doria, apressou-se em justificar em um post em seu Twitter, que sua polícia apenas “evitou confronto” com “prováveis vítimas” entre torcedores de times de futebol a favor da democracia e apoiadores de Jair Bolsonaro (sem partido).

“A Polícia Militar de São Paulo agiu hoje para manter a integridade física dos manifestantes, na Avenida Paulista. Dos dois lados. A presença da PM evitou o confronto e as prováveis vítimas deste embate. Todos têm direito de se manifestar, mas ninguém tem direito de agredir”, escreveu o governador na tarde de domingo.

Nunca é demais lembrar que grande parte dos apoiadores de Bolsonaro é formada por ex-militares. Esta parcela é adepta da intervenção militar.

Embora o governador paulista tenha dito nas redes sociais que “posições contrárias não podem ser expressas com violência”, o que se viu foram cenas de terror, tanto na Av. Paulista, em São Paulo, quanto em território de Witzel, em Copacabana e em frente ao Palácio Guanabara, no Rio de Janeiro, na tarde deste domingo. Ou os dois governadores agiram de acordo com suas origens e ideologias de direita, ou a Polícia nos vários estados estão obedecendo apenas aos seus comandos, de costas para as orientações do governo.

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