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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Visita de Bolsonaro à PGR lança dúvidas sobre decisão de Augusto Aras

Para Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, "o momento era para que Aras e Bolsonaro mantivessem um distanciamento técnico. Podiam até se falar por telefone, mas se não foi assim que se deu, é porque não era conversa que pudesse deixar rastro"

O inquérito ocorrerá em sigilo e vai apurar se houve violação da Lei de Segurança Nacional (Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF | Marcos Corrêa/PR)

Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Virou a “casa da mãe Joana”. Depois da correta e esperada liberação do vídeo que reproduz a reunião da cúpula do governo, no dia 22 de abril, motivo de denúncia do ex-ministro Sergio Moro sobre interferência na PF, e de indignação geral por descortinar o baixo nível que rolou naquele encontro, a expectativa é sobre a decisão que tomará o procurador-geral da República, Augusto Aras. Arquivar o processo ou prosseguir com as investigações? Hoje, tendo apenas um final de semana no meio, entre a divulgação e o primeiro dia útil, Bolsonaro fez uma visita de pouco mais de 10m minutos ao titular da PGR. Foi estar com Aras, a quem cabe decidir o seu destino.

E, mais do que isto. Augusto Aras foi levado ao posto pelas mãos de Bolsonaro, pois não concorreu na eleição para o cargo e não constou da lista tríplice, de onde normalmente sai o nome do escolhido. Sua ida para a PGR foi por indicação. Isto torna o encontro no mínimo suspeito. Coloca em dúvida o que será decidido por Aras até o final da semana.

O momento era para que os dois mantivessem um distanciamento técnico. Podiam até se falar por telefone, mas se não foi assim que se deu, é porque não era conversa que pudesse deixar rastro. Sabe-se que as ligações podem ser gravadas, as mensagens veiculadas, reproduzidas. E se o assunto é grave, só mesmo um diálogo olhos nos olhos. É o que se pode depreender da atitude de Bolsonaro, alvo das investigações.

Nesta segunda-feira, 25, Augusto Aras disse que “deve haver harmonia para que a independência entre os poderes não se transforme em caos”. A PGR vai se manifestar também sobre a apreensão de celulares de Jair Bolsonaro e Carlos Bolsonaro, motivo de nota ameaçadora por parte do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, com apoio dos demais militares que ocupam cargos no Planalto. A nota motivou manifestação a seu favor, por parte dos militares da reserva, a maioria de sua turma da Escola Militar de Agulhas Negras

O presidente participava por videoconferência da Solenidade de Posse do Subprocurador-Geral da República Carlos Alberto Vilhena no cargo de Procurador Federal dos Direitos do Cidadão para o biênio 2020-2022, quando decidiu fazer uma visita-relâmpago, fora da agenda, de surpresa, ao procurador. Aras podia recusar recebê-lo? Criaria uma saia justa. Ao mesmo tempo, ao fazê-lo, coloca sob suspeição a decisão que está em suas mãos. As hipóteses são: terá sido chantageado? Terá sido ameaçado de perder o cargo? Terá havido um acordo? E quantas dúvidas mais?

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.