Volta pra luta, PT!

Quem já assistiu a uma luta de boxe (ou MMA) conhece bem essa situação. O lutador sobe para o ringue (octógono, no MMA) cheio de autoconfiança. É mais alto que seu adversário, mais corpulento, mais capaz; vem de três ou quatro vitórias seguidas, algumas delas por nocaute no 1º round/assalto; o seu técnico é, de longe, o melhor lutador de boxe de todos os tempos; sua equipe é, seguramente, a mais bem preparada. Ele luta em casa. As apostas lhe são amplamente favoráveis. É, enfim, o franco favorito.

Tão favorito que inicialmente até desdenha do seu adversário, que vem de várias derrotas seguidas e não tem mesmo nada a perder. O nosso lutador não se dá conta, mas o seu favoritismo parece ser o seu maior inimigo. Ele se sente em casa no ringue. Apenas estufa o peito, faz pose para as câmeras, levanta as luvas, olha para a plateia e sorri, como que a aguardar a vitória anunciada.

Entretanto, sem perceber, já nos momentos iniciais do embate, a certeza da vitória o faz, de modo negligente e indesculpável, abaixar as luvas e a guarda, e assim recebe o primeiro e inadvertido soco certeiro no queixo. PUM!

É tudo tão abrupto, repentino, inesperado que nem se dá conta. O cérebro chacoalha em sua caixa craniana e ele fica completamente grogue, perde a consciência plena e o equilíbrio por intermináveis e preciosos segundos. É aí que seu adversário, ato-contínuo, encaixa um golpe em seu estômago. Em seguida, outro na sua têmpora esquerda: PUM! PUM!

Daí, já não enxerga ou discerne quase nada. Procura apenas, num esforço sobre-humano, assimilar os reiterados/seguidos golpes, manter-se consciente e de pé, e assim resistir até o soar do gongo redentor. Que lhe permitirá, quem sabe, recompor-se um pouco e, quiçá, tentar uma reação.

Em meio a um zumbido que parece não cessar nunca em seus ouvidos, completamente perdido, escuta a voz longínqua do treinador gritando-lhe a plenos pulmões:

- Volta pra luta, cara! VOLTA PRA LUTA!!!

Aquela voz, aquele chamamento parece lhe resgatar da vertigem e faz com que, como num despertar repentino, recobre pouco a pouco a consciência de sua situação de iminente derrota. Seu adversário prossegue aplicando-lhe reiterados golpes, sem parar, e ele precisa frear, anular a sua investida. Ele precisa de um clinch, de um abraço salvador, um lapso de trégua. Precisa escutar logo o soar do gongo.

Soa a campainha estridente, salvadora. Mas os pontos, assinalados pelos juízes, já lhes são plenamente desfavoráveis; a plateia, que antes lhe parecia cativa, pouco a pouco vai se debandando para o lado do seu adversário. Este, por seu turno, ganha confiança, começa a gostar da luta, como se diz, e já se acha grande, o dono da situação. Se a luta for decidida por pontos, estará inapelavelmente perdida. Agora só o nocaute lhe dará a vitória.

O Partido dos Trabalhadores hoje parece estar na situação do lutador dessa metáfora do pugilista intrépido. Após um vacilo, segue apanhando sem parar, golpe após golpe, um atrás do outro. Parece desnorteado, acuado no canto do ringue, sem reação. Parece.

Onde estão os parlamentares do PT?! Onde estão os sindicalistas ligados ao partido?! Onde estão seus aliados na sociedade?! E os movimentos sociais?! Onde estão os intelectuais do PT?! Seus aguerridos e "fanáticos" militantes, onde estão?!

Acovardaram-se todos? Apequenaram-se? Entregaram os pontos?

Mas a luta mal começou! A sua superioridade para o combate é gritante, é reconhecida. Por que não luta com afinco, com garra?

Escuta-se agora apenas a voz do seu técnico "esgoelando-se", desesperado, à margem do ringue:

- Volta para a luta, PT! Volta pra luta!!!