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Paulo Moreira Leite

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Washington Novaes desbravou país desconhecido

Perseguido pela atuação corajosa na execução de do estudante Edson Luís, o jornalista reconstruiu sua história apresentando os povos indígenas ao país, escreve Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

Washington Novaes (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)
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Por Paulo Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia

Estudiosos de jornalismo precisam prestar atenção na biografia de
Washington Novaes, falecido aos 86 anos. Integrante da geração de
grandes profissionais do Brasil da década de 1950 --Cláudio Abramo,
Jânio de Freitas, Zuenir Ventura, para ficar em três nomes --,
Washington deixou uma trajetória exemplar.

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Em 1968, quando era um profissional reconhecido e ocupava a direção da
Visão, na época uma respeitada revista semanal, Washington assistiu da
janela da redação, no centro do Rio, a uma cena que mudaria a cena
política do país -- a execuçaão do estudante Edson Luís Lima Souto.
"Vi o momento em que o aspirante da PM se ajoelhou, fez pontaria com o
fuzil e deu um tiro. Também vi o menino caindo", me disse ele, décadas
depois.

Ao escancarar a violência da ditadura, a cena alimentou  o repúdio ao
regime militar e abriu caminho para o mais grave isolamento do regime
desde o golpe de 64.

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Meses depois, contudo, o poder militar se rearticulou e promoveu o
AI-5, inaugurando o período da censura solta e a tortura sem
disfarces. No centro do furação, Washington foi uma dos vozes ativas
na denúncia da execução de Edson Luís, tornando-se voz frequente nos
programas de TV e reportagens sobre o caso.

Sob novo vento político, acabou enfrentando infindáveis processos com
base na Lei de Segurança Nacional, enquanto os principais veículos do
país buscavam formas de acomocação e até troca de favores com o
regime. Encostado e sem função na Visão, Washiongton abriu  um novo
caminho, documentarista das nações indígenas, produzindo imagens
inéditas e muitas vezes deslumbrantes de um mundo que o Brasil oficial
fingia desconhecer para explorar com mais facilidade.

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Ingressando num universo até ali visto como perfumaria pelo regime,
Washington levou um olhar digno e reconhecido para um tronco
riquíssimo de nossa formação cultural. Compreendeu que havia uma
função política na preservação de rituais e da cultura dos povos
indígenas -- não para admirar como peças de museu, mas para inspirar
reflexões pertinentes sobre a civilização de nosso tempo. Sempre
respeitoso -- foi pioneiro no pagamento de direitos de imagem que logo
atrairam a audiência mundial  -- jamais perdeu o costume de tentar o
olhar o mundo do ponto de vista do Outro, mesmo que isso implicasse em
rever seus  próprios pontos de vista.

Depois de viver intensamente no universo social e político brasileiro,
foi capaz de experimentar e admirar uma forma de civilização
construída em outro horizonte e outra memória, ajudando os 210 milhões
de brasileiros e brasileiras a conhecer um mundo  pouco conhecido que
todos trazem dentro de si.

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