CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Brasil

'Abandonar pautas conflitivas é covardia e burrice', diz Jean Wyllys

Ex-parlamentar defende que a esquerda levante bandeiras como legalização do aborto ou das drogas, contrapondo-se ao fundamentalismo religioso

Jean Wyllys (Foto: Reprodução/Facebook)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Opera Mundi - No programa 20 MINUTOS ENTREVISTAS desta segunda-feira (09/08), o jornalista Breno Altman entrevistou Jean Wyllys, ex-deputado federal pelo PSOL, atualmente filiado ao Partido dos Trabalhadores e ativista LGBT.

Wyllys chegou à Câmara dos Deputados em 2011 e, por ser o primeiro deputado abertamente gay e militante da causa, contou que sofreu com preconceitos e ataques que culminaram com seu exílio.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

“Eu encarnava todos os medos da classe conservadora. Gay assumido, trabalhando pela população LGBT, que rompeu a estrutura de perpetuação da pobreza, nordestino, a favor da regulamentação da maconha, a favor da legalização do aborto… A violência, não só contra mim, mas contra todos como eu, cresceu a um ponto insuportável e levou à eleição de Bolsonaro”, refletiu.

Por ver o bolsonarismo como a força oposta a todas as pautas, o deputado destacou a importância de a esquerda defendê-las, “até porque a luta de classes não explica tudo". "No Brasil, é impossível pensar em classe sem pensar em raça. Não basta uma pessoa negra se tornar de classe média para se livrar do racismo.” Segundo o ex-deputado, “a interseccionalidade é a compreensão do século 21”.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

“Abandonar pautas conflitivas é a maior burrice que a esquerda pode fazer. Existem outros fatores que definem um trabalhador como sujeito, pode ser uma mulher, pode ser uma pessoa LGBT ou uma pessoa negra. Acho um equívoco e uma covardia evitar essas pautas”, reforçou.

Wyllys acredita, inclusive, que é possível disputar com o fundamentalismo religioso abordando sobre esses temas, basta adequar o diálogo. Para ele, a esquerda precisa “perder a arrogância”, utilizando uma linguagem mais adequada e inserindo-se nas plataformas digitais, para se reaproximar da base e dos setores que precisa disputar.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Do PSOL ao PT

Wyllys, que foi do Partido Socialismo e Liberdade durante muitos anos, hoje é filiado do PT por ter passado a se identificar mais com o partido, até por ver na legenda um interesse em ter um discurso mais interseccional, segundo ele. 

“Mas eu sempre tive uma relação afetiva com o PT e com o Lula, principalmente. Lula encarna a figura lacaniana do pai amoroso, teve gestos simbólicos como abraçar a bandeira do arco-íris LGBT, que nenhum outro presidente fez. Então quando ele recebeu de volta seus direitos políticos, decidi me filiar ao PT com tudo que Lula representava”, discorreu.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Isso não significa, contudo, que o ex-deputado brigou com alguém ou passou por conflitos dentro do PSOL. “Nunca quis constranger o partido, por isso saí antes de me filiar ao PT".

Também não significa que ele deixará de fazer as críticas necessárias aos governos petistas, futuros ou passados: “Não retiro nenhuma das minhas críticas políticas que fiz a Lula e Dilma. Quando a Dilma recuou com o projeto Escola Sem Homofobia, aquilo para mim foi inaceitável, apesar de eu ter entendido o que a levou a recuar”.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Há pouco tempo, Wyllys recebeu um convite do PT para se candidatar a deputado federal por São Paulo, mas ele afirmou que rejeitou o convite.

“Apesar de exilado, eu recuperei a minha vida. Para eu vir a ser candidato, teriam que garantir de que eu iria voltar para o Brasil e estaria em segurança. Se isso acontecer, aí a possibilidade pode ser mais concreta”, explicou.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Pautas internacionais

Além de militante LGBT, Jean Wyllys também é conhecido por defender opiniões polêmicas no que diz respeito a temas internacionais, como é o caso do bloqueio de Cuba. Apesar de o ex-deputado condenar fortemente o bloqueio, ele acredita que “Cuba teve tempo suficiente para converter a ilha em uma social-democracia, concedendo liberdades políticas” e define o governo cubano como ditatorial, ainda que seja de esquerda. 

“Isso não significa que em termos de justiça social Cuba não tenha servido de exemplo. Mas serviu de exemplo também porque teve ajuda internacional, apesar do bloqueio. Acho que é hora de os revolucionários começarem a conceder liberdades políticas, sobretudo para uma geração que não tem memórias da Revolução Cubana”, argumentou.

No entanto, o ponto de maior controvérsia é a postura do ex-parlamentar com relação a Israel, país que visitou para dar pesquisas e palestras, e cuja existência defende fortemente. 

“Falar em passar pano para o sionismo é uma expressão burra, sobretudo para quem desconhece a história do sionismo. Existe sionismo de esquerda e de direita. Quem diz isso são principalmente pessoas antissemitas”, acusou, apesar de reconhecer que antissionismo não significa, necessariamente, antissemitismo. 

Para ele, o conflito entre Israel e Palestina é complexo e envolve atores internacionais, como Arábia Saudita e Estados Unidos. Além disso, ele defendeu que as críticas podem ser voltadas ao Estado ou ao governo israelense, mas não ao povo: “Acha que seria legal tratar todo o Brasil como bolsonarista só porque o presidente é o Bolsonaro? É o que a esquerda faz em relação a Israel, trata todos os israelenses e todos os judeus do mundo como responsáveis pelo que faz o governo de direita do país”.

Wyllys disse ser a favor da solução dos dois Estados e enfatizou que não realizará nenhum tipo de boicote a Israel, ainda que considere sustentável a teoria de que o país se transformou num Estado comparável ao regime do apartheid na África do Sul e teocrático.

“É sustentável, porém debatível. Nessa perspectiva, o Brasil virou um Estado teocrático e miliciano, com Damares [Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos], [ex-ministro da Educação Abraham] Weintraub, entre outros. Israel não deve ser poupado de críticas, mas essa crítica é ao governo e não pode se confundir com antissemitismo. Tem que ser feita com discernimento”, defendeu.

Inscreva-se no canal de cortes da TV 247 e saiba mais:

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247,apoie por Pix,inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO