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Brasil

"Ainda somos uma igreja capaz de aquecer os corações?"

Francisco falou com franqueza sobre o êxodo de fiéis da Igreja Católica e sugeriu ainda que os padres saiam às ruas; "não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta a fora para procurar e encontrar", disse

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Por Philip Pullella

RIO DE JANEIRO, 27 Jul (Reuters) - O papa Francisco, em uma avaliação surpreendentemente franca sobre a situação da Igreja Católica no mundo, disse neste sábado que a instituição deveria se olhar no espelho e se perguntar por que tantas pessoas estão abandonando a fé de seus pais.

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No penúltimo dia de sua viagem ao Brasil, Francisco fez um longo discurso durante encontro com bispos brasileiros em que sugeriu elementos do que poderia se tornar um modelo para acabar com o que chamou de um "êxodo".

"Eu gostaria que todos nós nos perguntássemos hoje: ainda somos uma Igreja capaz de aquecer os corações?", questionou ele em um discurso notável por sua franqueza sobre a hemorragia da Igreja Católica em muitos países.

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O papa argentino, que está no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, se referiu ao que chamou de "o mistério de quem deixa a Igreja" porque acham que a Igreja "já não pode lhes oferecer algo significativo ou importante."

A Igreja vem perdendo fiéis em todo o mundo para o secularismo e outras religiões, inclusive na América Latina, onde grupos evangélicos conquistaram muitas pessoas.

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Ele reconheceu que muitos fiéis veem a Igreja como uma "relíquia do passado" e uma "prisioneira de suas próprias fórmulas rígidas."

Enquanto disse que a Igreja "deve se manter fiel" à sua doutrina religiosa, defendeu que a instituição tinha que se aproximar das pessoas e dos seus problemas reais.

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"Hoje, precisamos de uma Igreja capaz de andar ao lado das pessoas, de fazer mais do que simplesmente ouvi-las", disse o papa Francisco.

"Às vezes perdemos as pessoas, porque elas não entendem o que estamos dizendo, porque nos esquecemos a linguagem da simplicidade e importamos um intelectualismo estrangeiro para o nosso povo", disse ele.

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No Brasil, o número de católicos tem diminuído nas últimas décadas, desde que a população uma vez rural se mudou para grandes cidades, onde a cultura do consumo moderno superou os costumes mais provinciais e onde denominações protestantes, cortejando agressivamente seguidores em periferias urbanas e comunidades, ganharam muitos seguidores.

"Precisamos de uma Igreja capaz de restaurar a cidadania para suas muitas crianças que estão viajando, por assim dizer, em um êxodo", disse ele.

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PROTESTOS POPULARES

Mais cedo neste sábado, o papa Francisco afirmou que os líderes devem trabalhar sobre as questões levantadas pelos protestos no Brasil e pediu aos padres de todo o mundo que deixem sua zona de conforto para servir os mais pobres e necessitados.

Em discurso aos líderes culturais e empresariais do Brasil no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Francisco disse que o diálogo construtivo é "fundamental para enfrentar o presente", em sua primeira menção direta aos protestos.

Em junho, milhares de manifestantes tomaram as ruas das principais cidades do país para protestar contra a baixa qualidade dos serviços públicos e corrupção, entre outros temas. A maior parte dos manifestantes é composta por jovens.

"Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade", disse o papa.

Ele pediu aos líderes para não ficarem surdos diante "dos gritos por justiça (que) continuam ainda hoje" e, em uma aparente referência à corrupção, falou sobre "a tarefa de reabilitar a política".

As principais autoridades políticas não foram ao Municipal, entre elas o prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o governador do Estado, Sérgio Cabral, ambos do PMDB. Uma das principais autoridades do governo federal no local era o Ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco.

"Eu tinha 200 convidados meus lá dentro, mas não fui porque a cidade está lotada e tenho que ajudar a operar", disse Paes à Reuters. Uma porta-voz do governo do Estado informou que "não estava prevista a presença do governador".

Questionado sobre a ausência de políticos de primeiro escalão no encontro com o papa, o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou que o tema do evento foi alterado para um encontro com a sociedade civil.

"É verdade que o primeiro projeto estava escrito por nós em Roma como classe dirigente e líderes da sociedade como políticos, econômicos e intelectuais. Esta manhã estava diferente e era mais sociedade civil", disse Lombardi a jornalistas.

"Não sei como, quando e se foi uma elaboração do programa para mudar algo, mas estava expressiva a ideia da sociedade civil que acolhia o papa e os outros podiam estar como convidados, mas não eram os protagonistas", acrescentou.

O padre Marcio Queiroz, da organização da JMJ, revelou que o encontro com lideranças políticas foi idealizado ainda no pontificado de Bento 16, e mudanças no teor do encontro foram feitas recentemente.

"Se pensou com Francisco fazer uma abertura maior do encontro para não excluir classes. Foi aprovada a proposta pela Santa Sé; no programa por pressa ou esquecimento não informamos", disse o padre.

No Municipal, Francisco recebeu alguns indígenas brasileiros e foi presenteado com um cocar de penas.

IR ÀS RUAS

O papa começou seu penúltimo dia no Brasil incitando os padres a saírem de suas zonas de conforto e irem às ruas e favelas.

"Não podemos ficar encerrados na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o Evangelho", disse ele durante a missa celebrada na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro.

Desde sua eleição em março como o primeiro papa não-europeu em 1.300 anos, Francisco tem cobrado que os líderes da Igreja pensem menos em suas próprias carreiras na Igreja e ouçam mais o choro dos famintos, para preencher seus vazios material e espiritual.

"Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair pela porta a fora para procurar e encontrar", disse.

Conhecido como o "cardeal das favelas" em sua Argentina natal, por causa de seu estilo de vida austero e as visitas a áreas pobres, Francisco fez uma convocação ao clero para que assuma riscos e circule entre os fiéis mais necessitados.

"É nas favelas que nós devemos ir procurar e servir a Cristo", disse, fazendo referência a Madre Teresa de Calcutá.

Milhares de pessoas tentam ver o papa argentino desde sua chegada ao Brasil na segunda-feira para os eventos da Jornada Mundial da Juventude.

O primeiro papa latino-americano está claramente entusiasmando, num momento em que a Igreja Católica, que já foi uma força inabalável no continente, se esforça para manter seus fiéis.

Na sexta-feira à noite, em uma reunião na praia de Copacabana, ele exortou os jovens a mudar um mundo onde a comida é jogada fora enquanto milhões de pessoas passam fome, onde o racismo e a violência ainda afrontam a dignidade humana e onde a política está mais associada com a corrupção do que o serviço público.

Durante uma visita a uma favela do Rio na quinta-feira, ele pediu aos moradores para não perder a confiança e não deixar que sua esperança se extinga. Muitos jovens no Brasil viram isso como um apoio às manifestações pacíficas com o objetivo de trazer mudanças.

Na favela, ele publicou o primeiro manifesto social de seu jovem pontificado, dizendo que o mundo rico tem que fazer muito mais para acabar com as grandes desigualdades entre os que têm e os que não têm.

A Jornada Mundial da Juventude termina no domingo, quando Francisco preside a missa de encerramento, antes de regressar a Roma à noite.

(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro; e de Esteban Israel, em São Paulo)

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