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Até que ponto monstros são monstros?

Somos cegos de ódio, cegos de rancor, cegos por nosso ideal de perfeição. Queremos vingança, queremos a morte dos que nos fazem mal, sem nunca termos parado para pensar no mal que anteriormente o indivíduo pudera ter sofrido

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Felipe Neto

Ninguém aguenta blá blá blá dos defensores dos Direitos Humanos, indivíduos cujo propósito de vida é basicamente proteger marginais. Contudo, nosso ódio padrão àqueles que nos fazem mal parte basicamente do instinto, o desejo máximo de eliminar tudo aquilo que está podre dentro do nosso ideal de sociedade perfeita, ignorando por completo as raízes da complexa rede de problemas que produz as arestas que necessariamente precisam ser aparadas de nosso sistema. Em outras palavras: para nós, bonzinhos, nos sentirmos bem, é necessário que os malvados sejam extirpados do meio em que vivemos. Mas a pergunta é: por que precisamos corrigir diariamente centenas de novas arestas problemáticas?

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Uma das grandes razões pelas quais decidi abandonar a leitura de material voltado para o estudo da sociologia e antropologia foi basicamente pelo fato de que comecei a compreender os chatos dos Direitos Humanos e a não sentir mais ódio mesmo dos piores assassinos. A compreensão da atitude humana, mesmo que maléfica, vem de um pressuposto simples que trato como verdade: o comportamento humano é igual a soma de código genético e influências ao longo da vida. A partir do momento em que você começa a estudar tanto que percebe que mesmo um serial killer que estuprou e matou 200 meninas virgens é, também, uma vítima, o cérebro começa a despirocar e a vida passa a perder um pouco do sentido. Precisamos do ódio. É simplesmente inaceitável, pelo bem da sobrevivência humana, perdoarmos um “monstro”.

Ok, essa é a hora em que você torce o nariz e me chama de idiota por cogitar a possibilidade do serial killer ser uma vítima. “ELE ESTUPRAVA E MATAVA CRIANÇAS, SEU IDIOTA”. Eu sei, não precisa gritar, mas vamos analisar o caso de um dos maiores assassinos da história?

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Pedro, colombiano, ficou conhecido como “O Monstro dos Andes”. Assassinou mais de 300 jovens entre 9 e 12 anos, a grande maioria meninas. Era completamente são e lúcido, mas com sede de sangue. Não é de se espantar a revolta que cause em pessoas como nós, simples homens comuns, após imaginarmos quantas famílias foram destruídas por este descontrolado homicida. Imagine sua filha sendo destroçada por um sujeito como esse e você compreenderá o ódio que o ser humano necessita sentir. Porém, será que Pedro merecia somente esse sentimento como resposta? Será que é possível, para nós, sentir pena de um sujeito que matou mais de 300 crianças? Vamos a sua história.

Pedro Alonso Lopez era filho de uma mãe prostituta e cresceu em meio à promiscuidade, no bordel. Era espancado constantemente e, aos NOVE anos, foi expulso de casa depois que foi pego acariciando sua irmã mais nova (reflexo de tudo que via diariamente). Em seguida, vendo-se sozinho, foi recolhido por um pedófilo e estuprado continuamente. Cresceu assim, como um marginal revoltado, uma pessoa que jamais teve acesso a preceitos padrões do convívio social. Aos 18 anos, preso, foi espancado no presídio por uma gangue e se vingou matando os 4. A partir daí, ao ser solto, viu-se numa sociedade onde ele era o errado sem nunca ter tido a chance de encontrar o certo.

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O exemplo de Pedro serve para qualquer exemplo de comportamento marginal. A conduta “fora dos bons costumes” pode ser, grande parte dela, associada a deficiências severas na criação e crescimento do indivíduo, como o exemplo do jovem que cresce na favela e trata o crime como mecanismo absolutamente necessário para sua sobrevivência no patamar que estabelecemos como “elite”. Pedro foi condenado a morte e assassinado, sob o pressuposto de que estaríamos estabelecendo “justiça”.

O ser humano não é capaz de fazer justiça. Somos sujos, imundos, não conseguimos manter uma sociedade estável e precisamos de meios ainda mais podres para manter nossa ilusão de “perfeição” viável. Massacramos quem foge do comportamento que consideramos ideal, chamando de justiça o que na verdade é VINGANÇA. Nossa conduta para com os “marginais” é baseada puramente na vingança, passando muito longe do que deveria ser justiça. Justiça seria que todos tivéssemos condições dignas de subsistência. Justiça seria que todos tivéssemos educação de qualidade, saúde de qualidade, salários dignos e baixa desigualdade social. Justiça seria que o indivíduo que perdeu a noção do certo e errado tivesse a possibilidade de se ressocializar. Justiça seria se conseguíssemos enxergar que, por trás de todo monstro, há uma história que transpassa nosso limite de observação. Somos cegos. Cegos de ódio, cegos de rancor, cegos por nosso ideal de perfeição. Queremos vingança, queremos a morte dos que nos fazem mal, sem nunca termos parado para pensar no mal que anteriormente o indivíduo pudera ter sofrido.

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O caso do rapaz Wellington Meneses não sai dos noticiários e serve para mais uma vez colocarmos a mão na consciência. Wellington invadiu sua ex-escola e assassinou 13 jovens, destroçando famílias e manchando a história brasileira de sangue. Odiamos Wellington, odiamos ao ponto de ficarmos felizes em ver sua foto morto com o tiro da própria pistola na cabeça, pois consideramos que sua morte foi boa para a “justiça”. Mas quem era Wellington Meneses?

Analisamos o caso com nossos olhos reducionistas e falhos, pensando somente em seu ato criminoso e desumano, mas a esmagadora maioria está simplesmente, se me permitem, CAGANDO para tudo que vem por trás de sua atitude. Fodam-se as razões, ele é um monstro e ponto, não é verdade? Sim, ele é, mas por quê?

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Como cresceu Wellington? Pelo que ele passou? O que levou o sujeito a se tornar um sociopata trancado em seu quarto quase 24 horas por dia em seu computador, alimentando um ódio supremo que não conseguimos compreender? O que faltou? Família? Educação? Amor?

“Ora, foda-se, eu jamais faria o que ele fez” – Será que não? Será que Wellington também não estaria dizendo isso se tivesse crescido como nós crescemos?

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O objetivo deste texto não é passar a mão na cabeça do rapaz, muito menos defender seu ato. Devemos, sim, repudiar qualquer atitude como essa, ou perdemos nossa essência humana. Compreender e aceitar seria o passo lógico mais simples que poderia nos igualar a uma máquina puramente racional. Somos a junção da emoção com a lógica, muitas vezes deixando a lógica com um percentual quase invisível nessa equação, mas uma coisa nós não podemos deixar de dizer: Wellington não agiu sozinho, ele se tornou o que a sociedade permitiu que ele se tornasse, um monstro.

Como Wellington, outros virão. Nós os odiaremos e continuaremos atrás de nossas máscaras hipócritas, lutando contra os que fazem aquilo que nós não queremos que eles façam, mas sem nos preocuparmos de verdade com os detalhes da história de cada um, sem pensarmos em corrigir as RAÍZES dos problemas, mas sim apagar da história aqueles que se tornam um problema.

Nosso desejo por vingança continuará. Já a justiça... Bem... Se pararmos para enxergar de verdade, não estamos muito preocupados com ela.

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