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Brasil

Bolsonaro deseja que seu ato golpista seja "uma fotografia para o mundo"

Ele espera que os atos contra as instituições tenham tamanho suficiente para lhe devolver força política, depois que seus índices de aprovação desabaram em razão da gestão criminosa na pandemia e dos escândalos de corrupção na família

(Foto: Du Amorim/A2 FOTOGRAFIA | REUTERS/Adriano Machado)
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BRASÍLIA (Reuters) - "Uma fotografia para o mundo", disse o presidente Jair Bolsonaro sobre o que espera dos atos em defesa do seu governo marcados para o próximo dia 7 de setembro, em um resumo da sua expectativa: um movimento grande o suficiente para lhe devolver a força política que tem visto escorrer das suas mãos.

Acuado por ações no Supremo Tribunal Federal (STF) que chegam cada vez mais perto de si e da sua família, e com seu governo entregue em boa medida ao centrão, Bolsonaro foi o responsável por chamar seus apoiadores para que organizassem um ato como "um último recado" -- a época, apenas a favor do voto impresso e contra o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, que também é ministro do STF.

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Agora, Bolsonaro ampliou os alvos no STF, mirando principalmente o ministro Alexandre de Moraes que, como relator dos inquéritos dos atos antidemocráticos e das fake news, tem em suas mãos boa parte do futuro político da família Bolsonaro.

No discurso do presidente, os atos do 7 de setembro serão o que já chamou de "nova independência", um "ultimato", um recado para que seus desafetos "voltem a seu lugar".

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"Essas uma ou duas pessoas têm que entender o seu lugar. E o recado de vocês, povo brasileiro, nas ruas, na próxima terça-feira, dia 7, será um ultimato para essas duas pessoas", disse Bolsonaro nesta sexta-feira em um evento na Bahia, mesmo depois de apelos de aliados políticos para que baixasse o tom.

Nas contas do presidente, a mobilização irá levar 2 milhões de pessoas à Avenida Paulista, em São Paulo -- mais do que as manifestações de 2013 ou os atos pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

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Se confirmado, o número representaria um mar de gente para dar ao presidente o poder de fazer o que quiser: "Eu autorizo" é um dos gritos clássicos do bolsonarismo.

COMPASSO DE ESPERA

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A expectativa pelo 7 de setembro colocou aliados de Bolsonaro --e mesmo opositores-- em compasso de espera. O que sair das ruas na próxima terça poderá, talvez, mudar o tom da relação conturbada do presidente com o Congresso e o STF.

Um dos principais nomes da bancada bolsonarista na Câmara, o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) diz que não se sabe o que sairá da manifestação, mas que o STF precisar atender o "clamor das ruas".

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"Queremos que o STF passe a agir de acordo com o que prega a Constituição, pare de perseguir quem faz crítica aos ministros, cessar a violação de garantias individuais, parem de fazer prisões ilegais e deixem o presidente governar", afirmou.

Uma tônica entre os bolsonaristas é a ideia de que, enquanto Bolsonaro foi eleito, os ministros do STF não o foram, e por isso estariam interferindo em decisões que não deviam.

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"Não defendemos o fim do STF, mas que aja dentro da Constituição", disse o deputado Filipe Barros (PSL-PR). "Vai ser uma demonstração da insatisfação do povo com o que está acontecendo. Nós sempre fomos reativos, dessa vez, pela primeira vez, vamos ser proativos."

Dentro do Congresso, também os parlamentares acompanharão com lupa o resultado da manifestação. O deputado Fabio Trad (PSD-MS) lembra que o Congresso tem uma supremacia do centrão e o grupo, hoje, está ainda alinhado com Bolsonaro.

"Se muitas pessoas forem às ruas é um indício de que Bolsonaro ainda conta com certo apoio popular e isso interfere sim na correlação de forças", disse. "Mas pode ocorrer o contrário: não apenas ter um número pequeno, mas se houver ocorrências violentas isso vai ser debitado na conta política do presidente e isso também interfere."

Dentro dos grupos bolsonaristas, a belicosidade do presidente e a sensação de "última chance" dá o tom. Nas redes sociais e em grupos de mensagens, as conversas vão da insistência de que os protestos serão pacíficos e civilizados a grupos que ameaçam invadir o Congresso e o STF|.

"Se não houver adesão no dia 07/9, já era. Entrega a chave do país e do cofre para a esquerda", escreveu uma apoiadora de Bolsonaro em um dos centenas de grupos dedicados ao presidente no aplicado Telegram.

"Faça sua parte. Ou você vem no dia 7 ou os inimigos do Brasil farão a deles, para tirar qualquer poder que o presidente Bolsonaro tenha de agir contra o que está acontecendo", convoca um outro.

Um dos vídeos para divulgar a manifestação, com texto em inglês, diz que os movimento vai causar "inimaginável terror nas hostes do mal", enquanto mostra uma foto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Um horror que vai reverberar de Brasília até a selva colombiana. Um horror sempre percebido, mas agora exposto em força total", diz o vídeo.

Com a mistura de processos no STF, um governo controlado pelo centrão e uma popularidade em baixa, o 7 de Setembro passou a ser visto como divisor de águas para o bolsonarismo.

Esta semana, duas pesquisas de opinião traçaram o quadro do derretimento do presidente. A PoderData, do site Poder360, mostra que 63% dos entrevistados acham o governo ruim ou péssimo. Nas eleições de 2022, Bolsonaro perderia para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por 55% a 30%.

Na pesquisa Genial/Quaest, Bolsonaro perderia para Lula em qualquer um dos seis cenários previstos e, em alguns casos, poderia vir a perder ainda no primeiro turno, e 62% dos entrevistados disseram que não votariam no presidente -- a maior rejeição entre todos os candidatos.

Apesar de dizer que não acredita em pesquisas, Bolsonaro já insinuou mais de uma vez que poderia não se candidatar. Essa semana, ao conversar com apoiadores, chegou a dizer que "chegar como pato manco não dá", citando a uma expressão norte-americana que se refere a presidentes que chegam ao final do mandato sem força.

ESFORÇO DE CONVOCAÇÃO

Para mostrar que Bolsonaro ainda tem força, a estratégia foi concentrar os protestos em Brasília e em São Paulo, com a participação do presidente nos dois lugares, de manhã na capital federal e à tarde em São Paulo. Organizadores garantem que ônibus lotados estão saindo de diversos lugares --Nordeste, Rio de Janeiro, interior de São Paulo, para se concentrar na Avenida Paulista.

Um dos organizadores do ato em São Paulo, o advogado Jairo Glikson afirma que haverá pelo menos 16 trios elétricos na Paulista. Nos grupos bolsonaristas, fala-se em grupos que se dirigem a Brasília, arrecadação de recursos para ônibus e para alimentar os manifestantes.

Nas redes, convocações para o ato vem de pastores evangélicos ligados ao bolsonarismo, como Silas Malafaia e o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), e de militares e policiais militares --na maioria dos casos, da reserva, já que os da ativa são proibidos por lei de estarem em atos políticos.

Ao mesmo tempo, fala-se na participação de "milhares de policiais", apesar das ameaças de governadores e do Ministério Público de punir e processar aqueles que decidirem comparecer mesmo contra a lei.

Uma das bases mais fortes hoje do bolsonarismo, a participação de policiais militares preocupa os governadores pelo potencial de violência que pode vir de homens armados e atraídos pela ideia de dar endosso às ameaças veladas de golpe de Jair Bolsonaro.

A mistura de policiais, militares, evangélicos, famílias e fanáticos de extrema-direita traz o impoderável para o 7 de Setembro deste ano.

"É imprevisível. Esperamos que seja pacífica, mas tom adotado pelo presidente não ajuda", resumiu Fábio Trad.

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