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Brasil

Cassis, Palhano... Histórias a resgatar na luta por justiça social

É preciso ampliar e acelerar o trabalho para esclarecer como a ditadura militar massacrou as organizações dos trabalhadores, prejudicando a todo o povo brasileiro

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O dia 31 de março lembra para os menos jovens o início de um triste, tenebroso e ainda obscuro período da nossa história recente. Nesta data em 1964, teve início o golpe militar que impôs ao país durante pouco mais de duas décadas uma violenta ditadura, contra a qual me opus, aderindo, nos anos 70 e 80, às lutas de resistência ao lado de milhões de brasileiros.

Postei  em minha página no facebook o editorial do O Globo, publicado um dia após o golpe, "celebrando" a implantação do governo militar. Uma peça infame e um insulto ao povo brasileiro que até o golpe das armas experimentava um regime democrático, prestes a introduzir reformas de interesses populares.

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Enquanto relia aquele texto que expõe a postura que norteia um dos maiores conglomerados de comunicação do país, não pude deixar de lembrar, entre milhares de militantes da resistência, de pelo menos duas importantes figuras, expoentes de minha categoria, a dos trabalhadores do ramo financeiro: Adelino Cassis, fundador e primeiro presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília, falecido há menos de dois anos, e de Aluísio Palhano, dirigente sindical bancário, ex-presidente da então combativa Contec, e desaparecido desde maio de 1971, quando foi preso por agentes do DOI-Codi de São Paulo. Na figura deles, vi os milhares de dirigentes e militantes sindicais cassados, presos, torturados, perseguidos ou mortos pelas forças direitistas e antidemocráticas.

Esta história passada nos porões da ditadura, especialmente em relação ao movimento sindical que foi massacrado logo após o golpe, precisa ser plenamente esclarecida. É isso que a CUT, exige da Comissão Nacional da Verdade (CNV), instituída em 2010 com o objetivo de levantar a memória histórica do período de 1946 a 1985. E é por isso que a CUT terá participação intensa no grupo de trabalho sobre movimento sindical que está sendo constituído neste mês de abril na CNV.

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Adelino Cassis e Aluísio Palhano, ambos funcionários do Banco do Brasil, foram dois dos mais de 400 presidentes que tiveram suas entidades sindicais da cidade e do campo invadidas pelos militares logo após o golpe. Eles e suas diretorias foram destituídos e cassados. Uma intervenção que viria a se repetir ao longo dos anos seguintes em centenas de outros sindicatos combativos, tendo seus dirigentes sido perseguidos.

Cassis, então militante do Partido Comunista Brasileiro, o "Partidão", ficou preso dois meses, teve sua casa invadida e uma bíblia da família "apreendida" como material subversivo. Foi demitido do Banco, onde só foi reintegrado após a Anistia em 1979. Nunca abandonou a militância, apesar de todas as dificuldades, atuando na oposição que retomou o sindicato dos interventores em meados dos anos 1970 e tendo papel destacado na criação da CUT em Brasília. Por meio dele, conheci Luis Carlos Prestes, líder comunista de quem Cassis era amigo pessoal e companheiro de militância política. Prestes esteve em Brasília em algumas oportunidades, a pedido de Cassis, para debater conjuntura, reforma partidária e criação de central sindical com o movimento entre o final dos anos 70 e início dos 80.

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Com o golpe militar, Aluísio Palhano foi demitido do BB e se exilou no México. Militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), voltou ao Brasil clandestinamente na década de 1970, mas foi preso em maio de 1971 a partir de delação feita pelo Cabo Anselmo. Testemunhas relatam torturas sofridas por ele durante onze dias no DOI-Codi.  Desde então não há mais notícias de Palhano. A partir da condenação do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, o MPF reabriu o caso e está apurando o envolvimento dos agentes da ditadura no sequestro, tortura e assassinato de Aluísio. A denúncia do MPF contra os algozes de Palhano foi lida em audiência em fevereiro último na Comissão da Verdade de São Paulo.

Várias entidades sindicais têm, de forma isolada, tomado iniciativa de resgatar parte desta história. No ramo financeiro, os Sindicatos de Bancários, como de Curitiba e Porto Alegre, por exemplo, lançaram livros recuperando suas lutas e conquistas. Os Sindicatos de Brasília e de São Paulo também está concluindo suas obras das memórias de 50 anos e de 90 anos de entidade, respectivamente.

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Mas é preciso fazer mais, de forma sistemática e abrangente, revelando como a ditadura militar tentou calar as organizações dos trabalhadores e suas lideranças para impor mudanças na legislação trabalhista, o arrocho salarial, as demissões injustificadas, afetando e prejudicando a vida de todos os brasileiros.

Por isso, a CUT, que ir além de participar do Grupo de Trabalho sobre o movimento sindical na Comissão Nacional da Verdade. Como lembrou o dirigente da Central, Expedito Solaney, em recente artigo, a direção nacional da entidade avaliará brevemente a proposta de transformar a comissão de acompanhamento na CNV em uma Comissão Nacional de Verdade da CUT. Nos mesmos moldes do que já foi instituído na UNE, Fenaj, OAB entre outras.

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A necessidade de acelerar os esforços de resgate da história e aumentar os grupos de trabalho nessa missão estarão em debate em final de maio em um amplo e importante fórum em São Paulo.

Será a hora de estabelecermos com todas as organizações interessadas mais procedimentos para resgatar a dívida com a sociedade, o direito à memória e à verdade.

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