Cruvinel: Temer é um caso agudo de autismo político
A jornalista Teresa Cruvinel classifica como "autismo político" o fato do presidente Michel Temer ter lançado um Centro de Memória que leva seu nome e abrigará peças e documentos relativos a seu governo; "Temer tem uma capacidade singular para converter a realidade em seu próprio discurso. Ele acredita no que diz e pronto"; ela ainda diz que "Nos discursos deste final de percurso, Temer enaltece a si mesmo declarando que colocou o Brasil nos trilhos e entregará ao sucessor um país em ordem. Nada sobre o desemprego; sobre a recessão que sua política econômica austericídia agravou; sobre a alardeada recuperação que vai gerar um pibinho de 1,3%; nada sobre as duas denúncias que contra ele foram apresentadas"
247 - Em artigo, a jornalista Teresa Cruvinel comenta o fato do presidente Michel Temer ter lançado na terça-feira, em Itu, um Centro de Memória que leva seu nome e abrigará peças e documentos relativos a seu governo.
"Anteontem, com a denúncia apresentada pela procuradora-geral Raquel Dodge, ele tornou-se réu no inquérito sobre o decreto dos portos, sob a acusação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Desta vez não poderá gastar recursos públicos para garantir a rejeição da denúncia pela Câmara. Ela irá diretamente para a primeira instância. Segundo pesquisa Ibope deste dezembro, 74% dos brasileiros consideram seu governo ruim ou péssimo, contra apenas 5% que o aprovam (bom ou ótimo)", aponta Cruvinel.
Na opinião da jornalista, "Temer é um caso agudo de autismo político". "Nos discursos deste final de percurso, enaltece a si mesmo declarando que colocou o Brasil nos trilhos e entregará ao sucessor um país em ordem. Nada sobre o desemprego que aumentou depois de sua posse, chegando a 13,9%; sobre a recessão que sua política econômica austericídia agravou; sobre a alardeada recuperação que vai gerar este ano um pibinho de 1,3%; nada sobre as duas denúncias que contra ele foram apresentadas, e rejeitadas graças a uma farta distribuição de cargos e verbas orçamentárias; nem sobre o déficit fiscal, que fechará este ano em R$ 149 bilhões".
"Seu legado reformista resume-se à emenda do teto dos gastos, que vem afetando a qualidade de serviços como educação e saúde, e à reforma trabalhista, que confiscou direitos e instituiu a terceirização irrestrita e o precário trabalho intermitente. Afora estes resultados, será também lembrado como o vice que conspirou contra sua companheira de chapa para herdar-lhe a cadeira, num processo de impeachment de discutíveis fundamentos jurídicos. Agora, neste esforço final para deixar boas lembranças, declarou que ela é "uma senhora correta e honesta".
Para a jornalista, "Temer tem uma capacidade singular para converter a realidade em seu próprio discurso"."Ele acredita no que diz e pronto. Ao Centro de Memória Michel Temer, abrigado pela Faculdade de Direito de Itu, destinou documentos que falam do governo em que ele acredita. A maioria deles é composta por e-mails e discursos. Anteontem, reunindo o ministério pela última vez, encerrou sua fala dizendo que sentirá falta do Fora Temer. A palavra de ordem mais gritada desde maio de 2016 será agora aposentada. Talvez vire lembrança de um tempo que era até ameno, diante do que está por vir", afirma.