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Brasil

Dar sentido a essa rebeldia é o maior ensinamento de 68

Essa nova geração será guardiã da luta por mais direitos. É importante acompanhar essa evolução

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Em Maio de 1968 a França parou com uma greve geral, os movimentos que antes eram dispersos e sem apoio ao decorrer das manifestações começaram a adquirir significado e proporções que para época poucos entendiam a complexidade e a importância daquelas ações, muito menos o que significaria isso anos depois. Com o decorrer das mobilizações e com a resposta do Governo endurecendo o diálogo, o general Charles De Gaulle, então Presidente da França, observou a unificação dos movimentos, o que ampliou a repercussão causada pelos atos que incluíam jovens e trabalhadores. Justamente pelo endurecimento do Estado enfronte as manifestações buscando desmobilizar o comando de greve, com o apoio de partidários e aliados do Governo no intuito de desconstruir a revolução que nascia. Charles De Gaulle sabia que em um ambiente de confronto as melhoras armas para impedir o crescimento de uma consciência de esquerda em seu país era a contrainformação, utilizando argumentos, notas publicadas, artigos em jornais fazendo referência aos Comunistas, que compunham o maior partido de esquerda da França e segundo o governo planejavam um golpe de estado contra a República, com isso, essa bela e emblemática insurreição popular, foi suprimida pelo governo.

Sem dúvida alguma, esse ato de rebeldia foi um dos acontecimentos revolucionários mais importantes do século XX, porque não se deveu a uma camada restrita da população, como trabalhadores ou minorias, mas a uma insurreição popular que superou barreiras étnicas, culturais, de idade e de classe. Se iniciou com uma série de greves estudantis e, em algum momento, explodiu em confrontos com a administração pública e a polícia. A tentativa de o governo acabar com as greves através de ações policiais, gerou um efeito contrário potencializando ainda mais os conflitos que culminaram em um ato de greve geral de estudantes e trabalhadores com ocupações de fábricas em toda a França, às quais aderiram dez milhões de trabalhadores, ou seja, dois terços dos trabalhadores franceses naquela época. A maioria dos insurretos eram adeptos de idéias e bandeiras das esquerdas, socialistas, comunistas ou anarquistas. Muitos viam os eventos como uma oportunidade para sacudir os valores de uma velha sociedade, para poder apresentar idéias avançadas sobre a educação, a sexualidade e o prazer.

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Brasil ano de 1968

Em terras Tupiniquins, também em 1968, a sede de liberdade e a vontade de vivenciar novas aventuras faziam com que jovens, artistas, intelectuais e militantes de esquerda, buscassem quebrar barreiras sociais e valores até então estabelecidos por gerações anteriores. Esse novo tipo de existencialismo faria naturalmente que essa geração buscasse um rompimento com um modelo estabelecido até então, pelos governantes políticos.

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A discussão sobre sexo nas salas de aula, o avanço da moda que era reflexo da rebeldia daquela geração, o uso da pílula anticoncepcional, que provocava mudanças no comportamento da mulher brasileira, o uso da maconha pela classe média alta, muitas vezes até como posicionamento político e ideológica, a referência e necessidade de leitura de autores que tinham uma visão revolucionária como: Karl Marx, Feud, Satrer, Guevara e etc.

No cinema, no teatro, na poesia e na música, essa geração conseguiu mostrar seus talentos, pensamentos e buscar o conflito com o arcaico e o retrogrado. O surgimento da Tropicália é uma das mais importantes manifestações culturais dessa juventude, pois ela nasce através de uma imensa necessidade de expressar, através da arte, o momento que o Brasil vivia. Enfim era uma geração eufórica, avançada, criativa e com muita sede de cultura em todas as áreas da vida.

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E da mesma forma que na França o Brasil vivia em clima de tensão pelo comando militar presidencial que imperava nos dois países. Aqui, quatro anos depois do Golpe Militar, os governantes continuaram com o regime ditatorial, só que de forma mais dura e brutal, censura cultural e de direitos, cassações políticas, torturas, exílio e repressão eram as características principais da política brasileira. Os estudantes e trabalhadores sindicalizados tiveram cassada por lei à participação nas questões políticas e vedada qualquer organização de manifestação. Diante de tanta repressão e perseguição, a indignação tomou conta e estudantes, trabalhadores, intelectuais, artistas e diversos setores da sociedade sentiram a necessidade de criar um movimento de resistência que lutaria contra tudo isso.

Como na França o endurecimento do Governo com a repressão militar e o uso excessivo da força policial foram o estopim social para ascender a inconformidade e o desejo de mudança, no Brasil o fato que marcou a ascendência popular foi a morte do estudante Edson Luiz Lima Souto que chocou todo o país. Durante o seu enterro houveram várias demonstrações de indignação com o sistema que pairava na sociedade brasileira, milhares de pessoas revoltadas se reuniram em frente à Assembleia Legislativa para prestar a última homenagem e o último adeus a Edson Luis.

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A situação era difícil para os estudantes e trabalhadores, à repressão contra os movimentos estudantil e sindical era implacável, um exemplo deste fato foi o chamada "sexta-feira sangrenta", estudantes, trabalhadores, membros de partidos e grupos de esquerda juntamente com boa parte da sociedade civil, enfrentaram a polícia. Esse enfrentamento resultou em mortos e feridos, entre eles um soldado da Polícia Militar. Nesta "sexta-feira sangrenta", o Rio era reflexo do movimento "Maio de 68" que acontecia em Paris.

A violência só aumentava, e os movimentos de esquerda, naquela altura já clandestinos não se rendiam. Os estudantes, com o apoio da classe média e moradores do Centro e da Zona Sul do Rio de Janeiro conseguiram organizar uma das maiores passeatas registradas até então no país durante aquele período. A Cinelândia foi tomada com mais de cem mil pessoas, registrando assim a simbólica "Passeata dos Cem Mil", a maior demonstração de luta e resistência social contra a Ditadura Militar.

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Com a repressão instaurada pela Ditadura, o uso da força militar e policial, a inteligência do Estado sendo utilizada como instrumento para desmobilizar e desconstruir os grupos organizados, a contraiformação pautando as ações do Estado nas rádios, que subsidiariamente, na grande imprensa, conseguia falsamente implantar informações errôneas, taxando como terroristas aqueles que lutavam pela liberdade de expressão e pela democracia, sendo estas as táticas utilizadas pelo comando do Governo Francês para fragilizar e desnutrir o movimento grevista, assim também no Brasil os movimentos de esquerda, estudantil, os trabalhadores organizados, aos poucos perderam força e em 13 de dezembro de 68, durante o governo do general Costa e Silva, foi estabelecido o Ato Institucional Número 5 (AI5). Esse ato legitimava a censura prévia a todos os meios de comunicação e controlava rigorosamente qualquer produção cultural. O Ato Institucional Número 5 se estendeu até 1978 e foi o período mais rigoroso da história política do Brasil.

Brasil 2013

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Nos últimos anos, as rebeliões populares no mundo árabe, em países da América Latina e em partes da Europa mostram um novo acordar e ressurgir de indignação da sociedade e principalmente da juventude, protagonista das maiores manifestações populares deste novo século. No mundo afora, jovens que sonham e buscam liberdade, direitos, queda de planos econômicos, dão o tom de rebeldia contra o velho mundo ocupando espaços públicos como as praças e ruas, entregando um recado claro ao sistema, com gritos, faixas, cartazes e camisetas. Evidente se torna a necessidade de retomar por parte do povo os Direitos e as Negações. No Brasil tivemos a geração da resistência à ditadura e àquela da transição democrática, seguida pela que resistiu ao neoliberalismo dos anos 90 e a geração de hoje, que busca aperfeiçoamento do instrumento democrático, um convívio mais harmônico com a cidade e o meio ambiente, o fim dos preconceitos, e, em geral, melhor qualidade de vida.

Notadamente é perceptível a volta da inquietude questionadora da juventude, que ainda de forma embrionária, se manifesta numa rejeição incipiente às formas dominantes de viver, muitas das vezes sem compreender o por quê e de forma superficial. Mesmo assim, como vanguarda, não mais isoladamente, se insurgem contra a polícia não somente contra a força repressora, mas, também contra o extermínio de jovens, o racismo, a criminalização da maconha, o machismo, o preconceito, a corrupção, contra a tributação e os impostos praticados pelo modelo econômico brasileiro, contra o aumento contínuo de tarifas sem resultados práticos de melhoria de sistemas ou equipamentos públicos, sem esquecer da falência do sistema partidário e o envelhecimento do diálogo político.

É preciso negarmos a nós mesmos, viventes do atual modelo político, para fazermos uma autocrítica e uma análise realista do momento político e social que vivemos, importante também avaliar qual tem sido nossa contribuição para sua melhoria ou estagnação, as contradições e contemporizações deste modelo político e o reflexo disso na sociedade durante anos. O povo que foi às ruas proporcionou um significado às suas próprias insatisfações clamando por sinceridade, honestidade, ética, compromisso, cumprimentos de promessas, palavras e acordos. Estes temas, pautados de Norte a Sul do país, apresentavam como mérito de conduta em todas as mobilizações, a insatisfação geral, questionando a representatividade das esferas de poder e representação social. Obviamente, parte de toda inquietude é manipulada por informações de interesses, que conflitam com a realidade. Sobre este assunto, é importante observar que à disputa de poder passa pela gestão da informação e pelo novo modelo de comunicação social por parte das redes. Mas, antes de dar qualquer sentido aos atos que tomaram as ruas do país é necessário conectar esta parcela da juventude na luta por uma política mais global.

13 de Junho de 2013

Embora não possamos antever a configuração do movimento que a rebeldia latente da juventude promete eclodir, podemos apostar que será um movimento de caráter juvenil e popular, autônomo em relação às instituições e corporações que não se adequarem a este momento, e, com fortes traços culturais. O recado das ruas tem sido claro, e com a ampliação de direitos, a democratização do acesso a universidade, o crescimento da economia interna e externa, o poder de compra, e, a ascensão das classes sociais atingimos um outro patamar de estrutura social, obviamente, aumenta-se o nível de exigência por parte da população. A cobrança é consequência do crescimento e da evolução econômico social do país.

Todos os componentes desta estrutura política - partidos, sindicatos, organizações sociais, movimentos organizados e a esquerda -, dentro desta esfera de disputa de poder, precisa produzir um novo ambiente de diálogo, atualizando e avançando em novas propostas de modelo de gestão de Estado e organização social. O espaço de disputa social é contínuo, assim também é a evolução da comunidade com a chegada de novas tecnologias e o acesso prático à informação, condutor geracional. Mais do que nos prepararmos, devemos disputar a hegemonia do senso comum, no sentido de conduzi-los para uma política mais ampla. Porém é necessário rever nossas posições e propostas, zerar nossas bandeiras observando o que já foi alcançado e apontado, nos norteando para o avanço.

Faz-se urgente e necessário também, gestar um novo movimento que não seja só um ato de rebeldia com a cultura dominante, mas que consiga sim produzir algo novo, que traduza este sentimento e esta sensação de transformação, com bases fortes, imprimindo nossa característica tropical, heterogenia, com pilares democráticos, observando a necessidade de repensar o convívio da cidade com o meio ambiente, a integração entre os povos por meio da comunicação universal e acima de tudo resgatar o ser-humano como agente principal de transformação. Construir um ambiente coletivo de diálogo e de expressão artístico e cultural, maduro, consciente e consistente, assim como a semana de arte moderna, a Tropicalia e outros que representaram bem suas respectivas gerações.

Partido, Governo e Movimentos Sociais

Essa nova geração será guardiã da luta por mais direitos. É importante acompanhar a evolução destes novos direitos conjunturalmente, assim como a juventude de 68 queria as reformas de base, hoje, esta nova juventude avança por lutas como a da Reforma Política ampla, Reforma Tributária, Reforma da Administração Pública e de lutas de natureza ambiental, de melhoramentos democráticos, principalmente na comunicação, além de seguir na luta por mais direitos aos jovens trabalhadores e na conquista de mais avanços na pauta de Direitos Humanos, de defesa da soberania nacional e da paz. As mentes e os corações dos jovens estão prioritariamente em outros lugares: nas questões ecológicas, nas liberdades de exercício da diversidade sexual, nas marchas da liberdade de forma geral, bem como a livre expressão na internet, na descriminalização das drogas leves, nos temas culturais, entre outros temas, que estão longe das prioridades governamentais e partidárias. Essa é uma tarefa irrecusável e inadiável das forças consequentes em sua opção política, para que possamos assim, seguir na construção de um Brasil onde a justiça social, a fraternidade e a solidariedade não sejam meros conceitos e sonhos, e sim, realidade e vida.

O PT e o Governo possuem condições objetivas para dialogar com os jovens a partir de suas bandeiras e seu projeto de país, mas, para isso, principalmente o Partido dos Trabalhadores, precisa ir além das sinalizações e congressos, precisa efetivamente ampliar seus interlocutores e atores políticos, possibilitando construir novas pontes de diálogos com esta nova geração, renovando sua linguagem e seu modelo de gestão interno, ampliando seu lastro social, construindo um ambiente de interação com a comunidade, convocando-a e convidando-a à participar dos fóruns de debate e escolha de seus candidatos, assumindo como prioritários temas como os ecológicos, os culturais, os das redes alternativas, os da libertação nos comportamentos sexuais, em um novo modelo de gestão urbana, entre outros. Falar aos jovens, mas acima de tudo ouvi-los, recepcionando de forma madura e conexa suas reivindicações, tanto para dentro do partido quanto para fora, tanto para dentro do governo, quanto o governo fazer dessa escuta ferramente de comunicação social e resposta de gestão para fora. Devemos ter a consciência de que os que foram as ruas são a ponte do futuro, do novo e que só construiremos esse futuro de forma sensata colocando-os em primeiro plano ou teremos um futuro triste, opaco, sem a alegria, sonhos e utopia, até que eles se levantem e busquem a luz, por si só, mas, se assim for, não teremos aprendido com o ano de 1968. Tão Longe e tão perto!

Do blog De tudo um pouco

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