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Brasil

Dedeco e Chorão: os líderes dos caminhoneiros disputam espaço na categoria

Na busca por protagonismo diante de um greve de caminhoneiros que muitos acham que é inevitável, os dois representantes da categoria ocuparam espaços antagônicos na disputa por visibilidade dentro do movimento; Dedeco, com um discurso mais inconformado e inflamável, tem sido pouco recebido por representantes do governo; Chorão, mais articulado junto aos meios de comunicação e ao governo federal, tem perdido espaço com a base da categoria

Dedeco e Chorão: os líderes dos caminhoneiros disputam espaço na categoria (Foto: REUTERS/Ricardo Moraes)
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Do Brasil de Fato - "Deu a entender que o governo estava criando uma liderança que ficasse sempre a favor e seja realmente marionete do governo [Bolsonaro (PSL)]". Assim, Wanderlei Alves, 45 anos, conhecido como "Dedeco", uma das lideranças dos caminhoneiros forjadas no Whatsapp, fala sobre Wallace Landim, o "Chorão", outro que costuma falar à imprensa em nome da categoria.

As duas lideranças ascenderam no movimento após a greve que paralisou o país em maio de 2018, quando milhares de caminhoneiros cruzaram os braços e impediram o tráfego de pessoas e mercadorias nas rodovias brasileiras. Já naquela época, a categoria mantinha os sindicatos distantes das decisões do setor e se organizava a partir do Whatsapp. A metodologia, de aparente sucesso no ano passado, tem aprofundado os rachas no movimento, que se fragmenta a cada semana. Chorão afirma participar de "pelo menos 850" grupos de conversa no aplicativo. Dedeco diz não ser capaz de calcular.

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Na busca por protagonismo, os dois representantes da categoria ocuparam espaços antagônicos na disputa por visibilidade dentro do movimento. Dedeco, com um discurso mais inconformado e inflamável, tem sido pouco recebido por representantes do governo, mas é exaltado por milhares de caminhoneiros. O condutor demonstra influência considerável sobre o movimento nas regiões Sul e Sudeste do país.

Por outro lado, Chorão, mais articulado junto aos meios de comunicação e ao governo federal, tem perdido espaço com a base da categoria, mas é visto em reuniões e nas redes sociais com ministros como Onyx Lorenzoni (DEM), da Casa Civil, Tereza Cristina (DEM), da Agricultura, e Tarcísio Gomes de Freitas, da Infraestrutura. No Centro-Oeste, onde predomina o agronegócio, e Norte, são as regiões onde tem mais prestígio.

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Ambos foram candidatos na última eleição, em outubro de 2018, surfando na popularidade conquistada durante a paralisação de um ano atrás. Dedeco, apadrinhado pelo senador Álvaro Dias (Podemos) se lançou, também pelo Podemos, para deputado federal pelo Paraná. Chorão, que tem a carreira política bancada por Ronaldo Caiado (DEM), governador goiano, disputou o mesmo cargo por Goiás. Nenhum deles se elegeu.

O governista

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No último dia 22 de abril, Dedeco conseguiu ser recebido pela primeira vez pelo governo federal. Foi convidado para uma reunião com o ministro Tarcísio Freitas. Após quatro horas de conversa, os caminhoneiros foram convencidos a não entrar em greve. A promessa feita pelo Palácio do Planalto é de que as empresas que descumprirem a tabela do frete, conquista da categoria na greve de 2018, serão denunciadas no site da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

A reunião na Esplanada dos Ministérios foi necessária para acalmar os ânimos do grupo liderado por Dedeco. Cinco dias antes, em 17 de abril, Chorão havia se encontrado com Tarcísio Freitas e Tereza Cristina. Após a reunião, o caminhoneiro transmitiu em suas redes uma mensagem dos representantes do governo se comprometendo com o cumprimento da tabela de fretes. No mesmo dia, a ministra da Agricultura disse a jornalistas que a "tabela do frete não veio para ficar", revoltando parte da categoria e constrangendo o representante do setor.

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"Ela defende o dela, nós defendemos o nosso. Hoje, nós estamos na UTI, e estamos buscando esse remédio para salvar a categoria enquanto tem tempo, através do diálogo. Hoje, nós temos diálogo com o governo, todo mundo vê que estamos dialogando", afirma Chorão.

Para Dedeco, o episódio reforça a tese de que o governo teria escolhido Chorão para "passar recados" à categoria e mostrar adesão ao discurso governista. "O Onyx [Lorenzoni], no meu ponto de vista, tentou criar uma liderança pra ficar do lado dele, [mostrando] que tudo estava bom, e aqui na ponta não estava nada bom. Eu sou caminhoneiro, [e sei que] não está bom. A imagem que ele passava é que estava tudo bem, um mar de rosas, e nós sofrendo aqui". O condutor afirma que, se houver paralisação, ela será batizada de "Greve Onyx Lorenzoni."

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Sem negar os privilégios e os acessos que têm na Esplanada dos Ministérios, Chorão legitima a intervenção de Lorenzoni, é contra qualquer formato de paralisação e defende as posições do Planalto nas negociações. "A gente conseguiu um canal de diálogo com o governo e percebemos que o governo está trabalhando e fazendo a parte dele. Aí, tem pessoas que não participam, que não estão em Brasília, não participou do movimento, que quando veio aqui, entrou na sala, tirou uma foto e saiu. Agora, essas pessoas querem mídia", acusa.

Nos grupos de Whatsapp, Chorão passou a ser atacado por seu posicionamento pró-governo

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O compromisso estreito com o governo transformou Chorão em um alvo fácil para a categoria. O caminhoneiro passou a ser atacado em suas redes sociais e no Whatsapp. "Esse chorão não me representa", afirma um integrante dos grupos no aplicativo. Para outro "a esquerda está por trás do Chorão. Fiquem atentos", alerta.

Em segundo plano

Enquanto o Executivo federal tenta interferir nos rumos da categoria, as pautas apresentadas pelos caminhoneiros para a melhoria nas condições de trabalho seguem em segundo plano. Na principal delas, a luta pela manutenção do preço do diesel, os condutores sofreram um duro golpe. No último dia 17 de abril, a Petrobras confirmou o aumento de R$ 0,10 no litro do combustível, ou 4,8%. O preço passou para R$ 2,24, muito próximo dos R$ 2,26 que estavam previsto para 12 de abril – o reajuste não ocorreu após intervenção direta de Jair Bolsonaro na estatal.

O Projeto de Lei que regulamenta a política de frete mínimo para transporte rodoviário de carga, subordinada a ANTT, foi uma das conquistas da paralisação dos caminhoneiros em 2018, mas não está sendo cumprido pelos contratantes, de acordo com os condutores.

Sobre a subalternização das pautas à agenda do governo e ao entrave político entre os protagonistas, Chorão se defende. "Eu foco na pauta da categoria, pelo que estamos lutando e buscando. Não vejo essa questão de divisão. Todo mundo está num objetivo só, que é trabalhar pelos nossos direitos. Eu tô trabalhando e estou com a porta aberta dentro do governo para buscar esse objetivo o mais rápido possível".

Dedeco segue a mesma linha: "Existem pessoas que lutam pela classe e outras que têm interesses próprios. Eu sou um cara que luta pela classe. Existe um ego e jogo de interesses de um lado, e de outro não. Eu sou um cara que já peitou três governos, o da Dilma [Rousseff (PT)], do [Michel] Temer (MDB] e agora o do Bolsonaro. Fiz isso porque sou classe, eu não luto por ideologia política. Eu luto pela classe".

Enquanto trafegam pelas rodovias que levam a Brasília, a paralisação, desejada por parte da categoria, segue sendo um assunto espinhoso para os líderes do movimento. "Nesse momento, não há clima. Mas se não for cumprido o que nos prometeram, nós podemos parar o Brasil em três dias", afirma Dedeco.

Chorão rebate: "Nós estamos trabalhando. Se ele para em três dias, ótimo. Agora, a gente vai ver se para. Essas mesmas pessoas que dizem que param, estavam chamando para a greve no dia 30 [de março]. O objetivo nosso não é dividir a categoria, coisa que o pessoal está colocando aí. Me objetivo é unir e seguir em frente em prol da categoria. Se eles quiserem me ajudar, ótimo", finaliza

O Brasil de Fato procurou a Casa Civil, por meio da assessoria de imprensa, para que o ministro Onyx Lorenzoni respondesse às acusações de Dedeco. Até o fechamento da matéria, não houve resposta.

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