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Brasil

Dilma se aproxima dos Sem Terra com Stédile, do MST

Presidente procura recuperar terreno perdido no setor de reforma agrária; na segunda-feira 4, vai a Arapongas (PR) para inagurar programa de agroindústrias ligadas a assentamentos legalizados pelo governo federal; ali, sob coordenação do MST há 93 famílias que produzem de frutas a leite em 700 hectares; até dezembro, Dilma era criticada pelo líder João Pedro Stédile; "Esse governo não faz nada pela reforma agrária"

Dilma se aproxima dos Sem Terra com Stédile, do MST
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247 – A presidente Dilma Rousseff quer recuperar o terreno perdido entre os camponeses e suas lideranças, especialmente o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), liderado por João Pedro Stédile. Nesta segunda-feira 4, ela estará no assentamento Diorcelina Folador, a 30 quilômetros de Londrina, para lançar o programa nacional de agroindútrias ligadas a áreas com reforma agrária feita pelo governo federal. O governo Dilma tem o pior desempenho em matéria de desapropriações de terras no campo desde o governo Fernando Collor, com um total de 86 imóveis confiscados. Essa marca é inferior às regitradas nas administrações de José Sarney, Fernando Henrique e Lula.

O movimento marca uma tentativa de aproximação de Dilma da liderança do MST, que vem desferindo fortes críticas às equipes federais que cuidam do tema. Segundo João Pedro Stédile, o diálogo é sempre difícil e marcado pela arrogância por parte dos executivos do governo. A inauguração do programa de agroindústrias, que vem sendo gestado há cerca de um ano na administração federal, é considerada importantíssima pelo MST no sentido de mostrar que, bem organizada, a reforma agrária pode ser produtiva e lucrativa.

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Abaixo, texto com detalhes do evento, que atrai também a ministra chefe do Gabinete Civil, Gleise Hoffmann, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e o governador do Paraná, Beto Richa:

A presidenta Dilma Rousseff e o dirigente nacional do MST João Pedro Stedile visitam juntos o assentamento Dorcelina Folador, no município de Arapongas (a 30 km de Londrina), para o lançamento do programa de agroindústrias em assentamentos da Reforma Agrária do governo federal, nesta segunda-feira, às 9h.

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Nessa atividade, será inaugurada a agroindústria da Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União  Camponesa (Copran). Participam também da atividade a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho e o governador do Paraná, Beto Richa, além de prefeitos, deputados e vereadores do estado.

O programa é uma demanda antiga dos movimentos do campo, que pretendem avançar na organização dos assentamentos em cooperativas e industrializar a produção, para agregar valor e gerar renda aos trabalhadores rurais. Depois de mais de um ano de construção do programa, o governo lança o programa.

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A Copran é uma cooperativa de assentados da Reforma Agrária, fundada em 1997 no município de Tamarana, no Norte do Paraná. Hoje com sede em Arapongas, no Assentamento Dorcelina Folador, que abrange 10 municípios.

A cooperativa tem como expressão maior o fortalecimento da Agricultura Camponesa, por meio do esforço coletivo em um processo de cooperação de seus associados.

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A cooperativa dispõe aos seus cooperados a difusão de tecnologia de produção por meio de um Centro de Formação e Produção, desenvolvendo atividades como bovinocultura de leite, produção de hortaliças (horta mandala), unidade de produção e maturação de bananas. As técnicas a serem difundidas aplica-se a realidade das famílias.

A Copran articula um conjunto de cooperativas da Reforma Agrária, que forma uma rede que tem a marca Campo Vivo. Os cooperados estão organizados em linhas de produção e, seus produtos, são beneficiados, industrializados e entregue para programas institucionais (PAA e PNAE), e mercado convencional que é o caso das frutas, verduras, leite, iogurte, bebida láctea e queijos.

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A cooperativa tem um laticínio moderno, onde produz uma variedade de derivados do leite, com a capacidade diária de 90 mil litros de leite. Além da estruturação da cadeia produtiva do leite em um raio de 150 km a partir de sua sede.

Assentamento

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Localizado na região norte do Paraná, mas precisamente no município de Arapongas a 30 km de Londrina, o assentamento Dorcelina Folador com área total de 756 hectares, possui 93 famílias assentadas, perfazendo um total médio de 600 pessoas entre jovens, crianças e adultos, sendo esta a maior comunidade rural do município.

O município de Arapongas possui uma população média de 100 mil habitantes, sendo destes apenas 5% estão nas áreas rurais, e tem como carro forte a indústria moveleira que atende a todo o Brasil.

No inicio a organização da área era feita através dos núcleos de 10 familias que se reuniam a cada 15 dias nas casas, a família recebia todo o núcleo onde preparava café, chimarrão, bolo e mandioca frita, enquanto confraternizavam traçavam planos para o futuro do assentamento.

Hoje após 11 anos, o assentamento Dorcelina Folador, mantém a organização dos núcleos de famílias e trabalha na perspectiva dos setores, enfatizando a questão de gênero no setor produtivo. As casas estão construídas em linha de vila rural sendo que cada lote possui 2,5 alqueires ou seja 06 hectares por família.

Com uma produção diversificada de alimentos, como: café, leite, vassoura, mandioca, milho, entre vários alimentos produzidos pelas famílias.

Ocupação

Os Sem Terra ocuparam em 1999 a antiga fazenda São Carlos. Na época, os proprietários sofriam um processo que previa o confisco em leilão pelo Banco do Brasil, em troca de uma dívida de quase treze milhões de reais.

Assim, o MST organizou as famílias acampadas na região e decidiu participar do leilão, oferecendo e ocupando a áreas inicialmente com 20 famílias que foram prontamente despejadas pela polícia. O banco confiscou a fazenda, que passou a pertencer à União e ficou passível de reforma agrária. Clique e veja gráfico com dados sobre o histórico de desapropriações para fins de reforma agrária realizados pelo governo federal.

Abaixo, entrevista de João Pedro Stédile reproduzida pelo site do Instituto Humanitas Unisinos:

Terça, 11 de dezembro de 2012

Stédile cobra reforma agrária do governo Dilma

Há mais de 30 anos na luta dos trabalhadores rurais sem terra, João Pedro Stédile, um gaúcho descendente de italianos, ficou conhecido pela forma direta como manifesta suas opiniões políticas. O coordenador do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) avalia que o Brasil passa por um refluxo no movimento popular. Stédile dá nota oito para a presidente Dilma Rousseff e cinco para todo o governo, que para ele reúne setores da burguesia e dos trabalhadores.

A entrevista é de Celso Horta e publicada no jornal ABDC MAIOR, 08-12-2012.

Eis a entrevista.

Vocês enquadram a gestão do PT dentro do modelo do neo-desenvolvimentismo? Por que?

A formulação que os movimentos sociais fazemos, entre eles o MST, a via campesina, é que de os governos Lula e Dilma são fruto de uma frente política de classes da sociedade brasileira. Dela participam desde a grande burguesia até os mais pobres. E isso dá estabilidade e popularidade ao governo, porém o mantém como governo de composição de classes, com decisões heterogêneas e, às vezes, até contraditórias, ora beneficiam a burguesia, ora os trabalhadores, ora os mais pobres. No plano econômico, o próprio governo tem se auto-definido como neo-desenvolvimentista. É uma alternativa importante ao projeto tucano e do imperialismo, o neoliberalismo. O neo-desenvolvimentismo procura desenvolver políticas que gerem crescimento econômico e distribuição de renda. Isso é importante, porém insuficiente. Os problemas graves da sociedade brasileira, como emprego para todos, terra para todos sem terra, universalização da educação, moradia digna para todos, e acesso à cultura, somente conseguiremos resolver com reformas estruturais. E elas somente serão viáveis com a retomada da mobilização de massas e se tivermos, dentro do governo, uma correlação de forças de partidos mais compromissados com os trabalhadores.

Em relação à reforma agrária, quais os avanços e recuos durante estes dez anos?

Nos últimos dez anos, não houve avanços em termos de reforma agrária. Reforma agrária é uma política pública que leva a democratização da propriedade da terra, como bem da natureza, ao maior número possível de seus cidadãos. Nos últimos dez anos, se ampliou a concentração da propriedade da terra. E pior, concentrou inclusive nas mãos de empresas de fora da agricultura e do capital estrangeiro. O governo Dilma não conseguiu nem resolver o problema social das 150 mil famílias que estão acampadas, algumas há mais de cinco anos, ao longo de estradas brasileiras. Por tanto, o governo Dilma abandonou a reforma agrária, iludido com o sucesso do agro-negócio, que produz, ganha dinheiro, mas concentra a riqueza e a terra e aumenta a pobreza no campo.

Como você o avalia o governo Dilma do ponto de vista ideológico: de um a 10, qual a nota?

A presidenta Dilma tem um bom desempenho pessoal e ideológico, daria oito. A composição de seu governo, formada pelas forças políticas que detêm o controle dos ministérios, é bem pior do que no governo Lula. São prepotentes e desconhecem as prioridades do povo. Ainda estão navegando com as políticas sociais do governo Lula. Daria 5 para eles.

Gestões municipais progressistas podem ajudar o fortalecimento de organizações como o MST que defendem a agricultura familiar e a economia solidária?

Nós somos devotos de Santo Antonio Gramsci, o mais interessante dos santos italianos, sobretudo porque foi um sábio e comprometido com os trabalhadores. E ele dizia que a luta de classes ocorre em todos os espaços da sociedade moderna. Seja nas disputas eleitorais, seja em muitos espaços de pequenos poderes, que ele chamava de "estado ampliado". Por tanto, todos os espaços, um jornal, uma rádio, uma televisão comunitária, um sindicato, uma prefeitura, um governo do estado... Todos são espaços que podem acumular forças para o projeto da classe trabalhadora ou podem acumular forças para os capitalistas e os exploradores. Nós acreditamos e defendemos que as prefeituras podem e devem ser espaços importantíssimos para desenvolver políticas públicas a favor das necessidades do povo, democratizar a participação popular nas decisões municipais, etc.

Há partidos e organizações de vanguarda preocupados com esta construção? Que movimentos você enxerga como atores políticos no futuro imediato e de médio prazo?

Infelizmente, no sentido genérico e incluindo todas as categorias do campo e da cidade, vivemos um período de refluxo do movimento de massas. E isso retirou força política para a classe atuar nas disputas da sociedade. Porém, esses períodos são limitados, em algum momento virá um novo processo de ascenso. Ninguém sabe quando, nem como. E somente nos períodos de reascenso é possivel rearticular formas organizativas e forças políticas-ideológicas. Por isso que agora estamos vivendo uma pasmaceira, em termos de organização política, que nos leva apenas a disputar eleições. Que são necessárias, porém insuficientes para o projeto da classe trabalhadora. Então, em períodos difíceis como esse, temos de investir na formação de militantes, no estímulo da luta social, e na construção de meios de comunicação alternativos...até que a maré mude.

O MST há muito denuncia a judicialização da política no Brasil. Esta ofensiva de direita em torno da exploração política do mensalão, como ferramenta de combate ao PT, é parte do mesmo processo de subordinar direitos políticos ao judiciário?

Claro. A classe dominante brasileira é muito esperta e experiente. Não é por nada que manda há 500 anos. Ela sabe que não tem hegemonia no governo federal. Participa, mas não manda. Então, para se contrapor às forças da classe trabalhadora, nos últimos dez anos, a prioridade da burguesia, além de ganhar dinheiro na economia, tem sido utilizar-se do judiciário e dos meios de comunicação para combater as idéias e os programas da classe trabalhadora. E o episódio recente do STF é apenas um capítulo dessa ofensiva e controle hegemônico que a burguesia tem sobre o judiciário e o usará contra todos os que assumirem compromissos claros com a classe trabalhadora.

Que peso você atribui à regulação da mídia na construção de um país democrático e socialmente justo?

A classe dominante tem no controle hegemônico da mídia, uma de suas principais armas para manter o controle da população, enganá-la e fazer a luta de classes contra o povo e os trabalhadores. Por isso, é fundamental trabalharmos em duas direções: primeiro, lutar pela democratização dos meios de comunicação. Segundo, construirmos nossos próprios meios de comunicação populares, para fazer essa disputa de idéias, de forma democrática, mas com as mesmas condições.

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