Marcio Pochmann: 'temos de escrever o Brasil com outras mãos'
O economista Marcio Pochmann afirma que tem uma visão otimista acerca do Brasil; para ele, estamos vivendo o terceiro momento decisivo da nossa história, depois da Abolição e da década de 1930; ele diz: “o que eu quero chamar a atenção nesse momento em que nós estamos decidindo o que vai ser o Brasil dos próximos anos, parte da ideia de que nós estamos perdendo o jogo, mas nós podemos virar esse jogo. E essa virada depende de a gente não baixar a cabeça, nós não desistirmos, nós termos clareza da oportunidade histórica que nós temos de escrever o Brasil com outras mãos"
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247 - O economista Marcio Pochmann afirma que tem uma visão otimista acerca do Brasil. Para ele, estamos vivendo o terceiro momento decisivo da nossa história, depois da Abolição e da década de 1930. Ele diz: “o que eu quero chamar a atenção nesse momento em que nós estamos decidindo o que vai ser o Brasil dos próximos anos, parte da ideia de que nós estamos perdendo o jogo, mas nós podemos virar esse jogo. E essa virada depende de a gente não baixar a cabeça, nós não desistirmos, nós termos clareza da oportunidade histórica que nós temos de escrever o Brasil com outras mãos."
Em entrevista ao editor do 247 Gustavo Conde, Marcio Pochmann falou sobre a reforma trabalhista - e seus efeitos deletérios em toda a extensão do setor do trabalho -, sobre a reforma da previdência - fazendo uma análise histórica dos caminhos técnicos da seguridade social no Brasil e no mundo -, e sobre a Lava Jato e seus efeitos na economia brasileira.
Presidente da Fundação Perseu Abramo, professor da Unicamp e autor de mais de 40 livros, Pochmann também falou sobre a situação política. Ele diz: “eu tenho uma visão otimista acerca do Brasil. Porque parto do pressuposto que nós estamos vivendo o terceiro momento histórico decisivo do país. O primeiro momento histórico foi justamente a década de 1880 que fez com que o Brasil abandonasse um modelo arcaico de escravidão e ingressasse no capitalismo, mas obviamente isso não foi feito de forma tão simples como desejavam os abolicionistas.”
Ele prossegue: “Rui Barbosa entre outros autores fundamentais imaginavam uma outra saída da escravidão, que incorporasse esses escravos recém libertos na sociedade, com a abertura de escolas, distribuição de terras, mas infelizmente isso não foi possível. Houve [inclusive] um projeto de branqueamento que excluiu os negros e assim por diante. Mas [a despeito desses problemas] a década de 1880 é chave para entender o Brasil.”
O ex-presidente do Ipea avaliou, na sequência, o segundo momento decisivo, a década de 30: “um segundo momento histórico fundamental do Brasil foi a década de 1930. O projeto dos tenentistas era um sonho de Brasil muito diferente. Se você pegar Osvaldo Aranha. Ele foi o presidente do Clube 3 de outubro. Em 1932 tinha lá um projeto de Brasil que dizia o seguinte: ‘o Brasil é um país capitalista. O lucro deve ser valorizado’. Ora, mas para isso ele precisa ser tributado.”
Pochmann explica a situação inusitada: “estamos hoje em 2019 e o lucro no Brasil não é tributado. Ali também se dizia que a propriedade da terra tinha que ser respeitada, mas ela tem que cumprir uma função social. E nós temos hoje, infelizmente, uma parte do Brasil que não cumpre a função social. Então a década de 1930 foi um momento decisivo que permitiu sair da sociedade agrária e construir um projeto urbano e industrial. Com muitos problemas, mas de qualquer maneira é uma década decisiva. O Brasil, a partir de 30 é outro país.”
O atual presidente da Fundação Perseu Abramo introduz, a partir daí, sua compreensão do momento atual: “No meu modo de ver, nós estamos vivendo um momento decisivo no país, nesse sentido. Nós temos a derrota mais grave da esquerda desde 1964. Em 64, nós tivemos uma derrota estratégica. Porque não sobrou quase nada da esquerda. Nós temos agora uma derrota tática. Nós ainda temos partidos de esquerda, temos ideias, temos propostas estamos nas ruas, estamos de cabeça erguida, disputando um quadro dramático.”
Pochmann aprofunda o raciocínio: “então, o que eu quero chamar a atenção nesse momento em que nós estamos decidindo o que vai ser o Brasil dos próximos anos, parte da ideia de que nós estamos perdendo o jogo, mas nós podemos virar esse jogo. E essa virada depende de a gente não baixar a cabeça, nós não desistirmos, nós termos clareza da oportunidade histórica que nós temos de escrever o Brasil com outras mãos.
O professor da Unicamp conclui: “para isso é necessário a dedicação, o trabalho que você [Pochmann se refere o entrevistador e ao jornalismo independente] vem realizando, esse diálogo, essa difusão do conhecimento – e é uma luta contra os ‘grandões’ da imprensa – mas nós não vamos baixar a cabeça, nós temos uma grande possibilidade de reconverter o Brasil. E eu acredito nisso e coloco todo o meu esforço nessa perspectiva de construir um Brasil diferente.”
Marcio Pochmann ainda acrescenta: “então, não é possível [realinhar o Brasil ao curso de sua história], obviamente, com a Emenda Constitucional 95, que praticamente reduz os investimentos na área social. Isso nos levará a sermos um país muito pior do que nós já fomos e nós precisamos reagir a isso e reagir de forma inteligente, de forma democrática, reagir mantendo a esperança.
E fecha sua leitura, manifestando determinação política: “nós vamos dar uma resposta que outros tentaram dar no passado e não conseguiram. Nós não vamos abrir mão dessa perspectiva.”
Assista a entrevista com Marcio Pochmann:
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