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Presidente da CBF e filho de Herzog batem boca na Folha

Em artigos, José Maria Marin, ex-governador de São Paulo (1982-83), classifica como calúnia e difamação acusações de que foi responsável pela morte de Herzog; já Ivo Herzog, filho do jornalista, diz que é intolerável que o anfitrião do principal evento esportivo da história do Brasil seja alguém que incitou a violência contra opositores da ditadura

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247 – O ex-governador de São Paulo (1982-83) e atual presidente da CBF, José Maria Marin, trocou farpas com o filho do jornalista Vladimir Herzog, Ivo Herzog, em artigos na Folha. Um se defende das acusações de que foi responsável pela morte de Herzog, outro ataca sua autoridade como anfitrião do principal evento esportivo da história do Brasil. Leia:

Campanha sórdida - JOSÉ MARIA MARIN

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É calúnia e difamação dizerem que fui responsável pela morte de Herzog. Princípios republicanos sempre me guiaram

"Nobre deputado Wadih Helu, realmente o assunto levantado por V. Exa. nessa tribuna deve merecer uma atenção toda especial não só desta Casa, mas, principalmente, por parte do sr. secretário de Estado da Cultura e por parte do sr. governador do Estado." ("Diário Oficial do Estado de São Paulo", em 9/10/1975, p. 62.)

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É uma calúnia e difamação declararem que fui responsável pela tortura e morte do jornalista Vladimir Herzog. E explico por quê. Em outubro de 1975 -38 anos atrás-, como deputado estadual, solicitei o aparte acima ao discurso que fazia o então deputado Wadih Helu para chamar a atenção de nossos governantes sobre o jornalismo parcial que, no meu entendimento, ocorria na TV Cultura.

Pedi providências do então secretário da Cultura, José Mindlin, e do próprio governador, Paulo Egydio, para esclarecer o sucateamento que ocorria em uma das poucas emissoras em que, à época, havia programas voltados à boa informação educacional e cultural para o povo paulista. Nada mais. Nesse aparte não pronunciei o nome de ninguém e me limitei apenas ao que a mídia comentava.

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Os lamentáveis fatos que aconteceram depois nada têm a ver comigo, como insistem alguns. Só mentes doentias e perversas, ou cegas pela paixão, podem ver nessa simples recomendação qualquer acusação nesse ou naquele sentido.

Ou, pior, sustentar que dessa manifestação parlamentar possa ter nascido qualquer outra consequência, a não ser a simples apuração do motivo por que a TV Cultura havia interrompido a divulgação das obras e realizações feitas pelos governos estadual e municipal. Esse era o único objeto do discurso de Helu.

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Nos anos que se sucederam, desempenhei cargos de significativa importância, como vice-governador de São Paulo, presidente da Federação Paulista de Futebol e governador de São Paulo no biênio de 1982-83. Tinha, portanto, visibilidade e, apesar disso, não sofri nenhuma crítica ou menção de que eu havia sido "responsável" pela morte de Herzog.

Um discurso genérico, feito numa Assembleia Legislativa, jamais poderia ter gerado coisa alguma, quanto menos uma prisão 20 dias depois. Mais: é sabido por todos que atuavam naqueles tempos que os deputados não tinham o menor poder sobre os órgãos de Estado.

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Na época do regime militar, eu era, sim, deputado de um partido governista, tanto quanto muitos outros políticos que hoje apoiam o governo federal. Nem por isso esse ou aquele pode sofrer injustas ou agressivas acusações pelo histórico de vida pública que possuem. Ninguém deve negar a própria biografia. E a minha vida pública sempre foi -em todos os momentos- pautada pelos princípios republicanos que até hoje me guiam.

Quem faz de conta ignorar a história do Brasil não pode impunemente me caluniar ou difamar. Tenho orgulho de ter governado o maior Estado da Federação e, dentre tantas atitudes ali adotadas, ter extinguido o Dops de São Paulo e transmitido o cargo ao governador Franco Montoro, meu sucessor, de forma absolutamente democrática. Aprendi que liberdade e justiça devem andar lado a lado.

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A minha atenção hoje está totalmente voltada ao futebol brasileiro. O meu maior desejo é cumprir com as minhas responsabilidades à frente da CBF. E, principalmente, conquistar a Copa das Confederações e o tão sonhado hexacampeonato na Copa do Mundo de 2014. Não estou medindo esforços.

Cheguei aos 80 anos com a certeza de que cumpri e continuo cumprindo decentemente todas as missões que me foram confiadas, sem nenhum arrependimento. Não permitirei que mentiras repetidas à exaustão pareçam verdades aos olhos de alguns. Hoje penso, respiro e vivo o futebol brasileiro 24 horas por dia. Assim é a minha vida e a minha história.

A Copa do Mundo é nossa, não dele - IVO HERZOG


É intolerável que o anfitrião do principal evento esportivo de nossa história seja alguém que incitou a violência contra opositores da ditadura

Abro aspas: "Queremos prestar nossos melhores cumprimentos a um homem que, de há muito, vem prestando relevantes serviços à coletividade, embora nem sempre tenha sido feita justiça ao trabalho (...) Queremos trazer nossos cumprimentos e dizer do nosso orgulho em contar na polícia de São Paulo com o delegado Sérgio Paranhos Fleury".

Essa é apenas uma pequena parte do discurso proferido por José Maria Marin no dia 7 de outubro de 1976, quase um ano após a morte do meu pai. Poucos dias antes de seu assassinato, Marin havia subido à tribuna para pedir providências do Estado contra a TV Cultura, "a fim de que a tranquilidade volte a reinar não só nessa casa, mas principalmente nos lares paulistanos".

José Maria Marin não apenas incitou ações de violência contra os jornalistas que se opunham à ditadura brasileira (1964-1985), como também pediu o reconhecimento ao, para ele, exemplar trabalho executado pelos torturadores, sequestradores e assassinos daquele período.

Sérgio Fleury foi o principal agente do governo de comando das ações "secretas" do DOI-Codi em São Paulo. Centenas de pessoas foram presas e torturadas. Dezenas assassinadas. De algumas, até hoje, os familiares não têm informação sobre o paradeiro dos corpos.

O Brasil receberá o mundo para o maior evento esportivo de nossa história. O anfitrião dessa festa, nosso principal representante, será José Maria Marin. Ou não! Acredito que, à medida que revelarmos o caráter dessa pessoa, aqueles que estão à frente do nosso futebol e outros setores da sociedade pedirão sua saída.

É aceitável uma entidade privada ter na sua liderança uma pessoa de princípios que, suas próprias palavras o confessam, seguem na direção oposta à democracia e à defesa dos direitos humanos? Eu acho que não.

Há inúmeros casos de empresas que substituíram seus presidentes ao descobrirem fatos passados que conflitavam com os valores institucionais. A Fundação Livestrong, criada pelo ciclista Lance Armstrong, o removeu da presidência com a revelação do uso de doping.

Quais os valores dos representantes do nosso futebol?

A CBF, as 27 federações estaduais de futebol e os 20 clubes da série A têm agora conhecimento do passado de Marin. Cópias de seus discursos e da petição com mais de 53 mil assinaturas pedindo sua saída foram entregues a essas entidades.

Nosso país se orgulha da alegria e receptividade de seu povo. Um povo que sofreu as maiores demonstrações de intolerância da história da humanidade: o quase extermínio dos povos indígenas. Séculos de escravidão. E décadas de autoritarismo de um Estado não democrático.

Hoje, conquistamos a democracia com a contribuição de movimentos sociais e com inúmeras concessões (ainda difíceis de digerir), como a Lei da Anistia. Mas, dentre aqueles que violaram direitos humanos e executaram ações de tortura e assassinato, há não só os que não puderam ser trazidos à Justiça, como muitos que nem sequer têm seus nomes conhecidos.

Pensar em recompensar um desses personagens com a glória de ser o responsável por receber o mundo em nome do povo brasileiro na ocasião da Copa do Mundo é inaceitável. Intolerável. A Copa do Mundo é nossa. Não do Marin.

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