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Prisco, uma cria do PT que se voltou contra o criador

Greve da PMBA mostra que os autores do maior tombo político da era Wagner são os mesmos apoiados pelos petistas na paralisação de 2001, numa versão bem piorada

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Diz o jornalista Paulo Oliveira, de A Tarde, que Marcos Prisco está para o governo de Jaques Wagner como Osama Bin Laden está para os EUA.

Os EUA, como se sabe, treinaram, armaram e financiaram Bin Laden para combater a invasão do Afeganistão (de 1979 a 1989) pela antiga União Soviética e em 11 de setembro de 2001 viram sua cria produzir e gerar o atentado do World Trade Center, o maior da história.

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O PT, como se sabe, embarcou de corpo e alma no apoio à greve da PM de 2001, contra o governo César Borges, o penúltimo da era carlista. Agora, assistiu Marcos Prisco, um dos líderes de 2001, comandar a ocupação da Assembleia Legislativa e deflagrar a greve que abalou a reputação política do governo de Jaques Wagner.

Wagner apanhou forte da mídia, especialmente do sul. O mínimo que disseram foi que se trata de um governo "fraco", claudicante. Como se o governador, que emergiu para o cenário político no movimento sindical, habituado a emparedar empresários, não soubesse o que fazer quando se viu emparedado. Deu um upgrade no seu mar de desgastes com a invasão e desocupação da Assembleia na manhã desta quinta. Mas o estrago já está feito, no corpo da PMBA, com a necessidade de restaurar a quebra da ordem hierárquica, e no governo do PT, que pegou o irremediável carimbo de ter criado cobra para se morder ao custo de imensa repercussão internacional negativa.

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A INAUGURAÇÃO DO TERROR

Nos ciclos governistas se dizia que havia sérios indícios do envolvimento de grevistas nos atentados contra mendigos nas ruas. Dentre as 122 vítimas de assassinato contabilizadas na capital baiana em menos de uma semana, Jesline Carvalho, de 20 anos, foi morta quando amamentava o filho bebê na Praça da Piedade, coração de Salvador.

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Também teriam apontado armas para a cabeça de motoristas de ônibus, mandado os passageiros descerem e atravessado os veículos na pista. Ou tomado de assalto um ônibus escolar cheio de crianças e ordenado que todo mundo descesse para tocar fogo no carro. Tais atos - atitudes deliberadas de afronta ao Estado - foram deflagrados simultaneamente à ocupação da Assembleia e eram ingredientes novos nas paralisações da PM. Nas anteriores, em 1981 e em 2001, não houve nada similar.

Com o adendo: o governo sempre disse tratar-se de movimento articulado, em nível nacional. As gravações divulgadas pela Globo no Jornal Nacional da noite de quarta robusteceram os indícios de que os argumentos do governo estavam certos. Ficou evidente que a pretensão era conturbar, também, o carnaval em Salvador, Rio e São Paulo.

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Se o movimento queria produzir pânico na população, conseguiu. E evidenciou que o Prisco de 2001, se sofisticou, para pior, na arte de parar PMs. Esteve no Ceará e no Maranhão também participando de movimentos grevistas. Na Bahia de Jaques Wagner, conseguiu seu maior sucesso, a adesão quase total da PM.

Claro que Marcos não é essa liderança toda. Não tem força para paralisar uma corporação de 30 mil homens. Se assim o fosse, haveríamos de concluir que a PM baiana teria dois comandos, o do governo e o paralelo. Fogo só pega em palha seca e Prisco teve a iniciativa de riscar o fósforo.

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Há no seio da PM baiana uma insatisfação incontida por conta de acordos não cumpridos na greve de 2001, como o pagamento da GAP V, mais problemas de gestão, segundo especialistas. Juntou alhos com bugalhos. O governo, por incompetência ou prevaricação, avaliou mal e se deu mal.

Ou melhor, provou do veneno da cobra que ele ajudou a nutrir de uma forma ou de outra. Prisco ganhou na Justiça o direito de ser reincorporado, apoiou Jaques Wagner na campanha de 2006 e acalentava a esperança de voltar à tropa. Não foi atendido e andava nas redações de jornais a se queixar da ingratidão.

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Entre os petistas, houve até quem tivesse sugerido a integração dele ao governo num cargo qualquer, uma espécie de cala-boca. Wagner não quis, ele seguiu outro caminho e deu no que deu. O prejuízo não foi só para o governo. A Bahia também saiu melada com a intensa repercussão internacional negativa. O que vai exigir, tal e qual a restauração da ordem hierárquica na PM, longo e penoso processo de reabilitação, já que o governo ficou sob suspeita. De fraqueza.

A INVASÃO DA ASSEMBLEIA

O governo decidiu invadir a Assembleia e desocupar o prédio a partir das gravações, feitas pela Polícia Federal, com ordem judicial, e deliberadamente vazadas para a imprensa, que provaram as articulações de Prisco com outros líderes nacionais, do Rio especificamente.

Nas gravações, ele pedia para os colegas virem para a Bahia imediatamente. E até descartou a proposta de incêndio de duas carretas na BR-116, para esquentar a greve em Salvador com o propósito de criar situações similares no Rio e em São Paulo, visando o alvo maior, inviabilizar o carnaval nas três cidades (o que daria uma repercussão internacional para o Brasil, sem precedentes em termos de danos).

Era algo por demais pretensioso em termos de desafio ao Estado. E aí o problema deixou de ser de Dilma e Wagner para se tornar mais de Dilma. Foi a gota d'água. Agir rápido era fundamental. Ao mesmo tempo em que Dilma tirou do comando das operações na Bahia o general Gonçalves Dias, comandante da 6ª Região Militar, que recebeu bolo dos grevistas e chorou emocionado, o esquema político foi acionado.

Na tarde de quarta, o secretário César Lisboa, das Relações Institucionais, ficou encarregado de reunir-se com os deputados estaduais da base governista e o próprio governador Jaques Wagner com os federais e mais os senadores. Queria sondar os ânimos políticos. E havia posições divergentes.

Na reunião dos estaduais, o deputado Sargento Isidório (PSB), um dos líderes da greve de 2001, e o Capitão Tadeu (PSB), egresso da PM que se dizia contra a greve, mas a favor do 'movimento reivindicatório', dominaram a cena. Ambos foram contra a invasão da Assembleia e a prisão dos líderes do movimento. Os demais ficaram mais tempo calados do que falando. Ficaram com medo dos dois, mais militares do que governistas, irem contar e criar indisposições futuras entre os PMs.

A bancada federal foi mais incisiva. Após Wagner expor todas as ações de boa vontade que diz ter tido, manifestaram-se francamente favoráveis ao endurecimento do jogo. O caminho estava pavimentado. O governo cujos principais mandatários já tinham apoiado uma greve na mesma corporação estava com carta branca para agir com o rigor que outrora combatia. E era um caminho de mão única: ou agia ou se desmoralizava, detonado pelas cobras que ele ajudou a criar.

Detalhe curioso: a senadora Lídice da Mata, presidente do PSB na Bahia, o partido de Isidório e Tadeu, fazia a ressalva, de que sempre olhou o apoio a movimentos com o da greve de 2001 com um pé atrás. 'Eles nunca nos apoiaram, nunca votaram na gente e carregam armas'. Pena que tal avaliação não foi feita pelas esquerdas em 2001, ávidas que eram, em atingir o carlismo.

A VOLTA DO CIPÓ

Hélio Schwartsman, em artigo na Folha de São Paulo, diz que há algo de pedagógico na alternância do poder. Diz ele: "Percebemos com que facilidade situação e oposição trocam de papéis e de princípios. A greve da PM baiana é uma oportunidade sem igual de ver a natureza humana em ação. Em 2001, membros da corporação deflagraram uma paralisação que também degenerou em violência. Na ocasião, o PT, por intermédio de Lula, defendeu a legitimidade da greve e responsabilizou o governo baiano, que era do PFL, pela barbárie. Hoje, o governador petista Jaques Wagner chama alguns grevistas de bandidos e se recusa a negociar".

É algo para se refletir. Ressalte-se: não é verdade o fato de que Wagner tenha se recusado a negociar. Pelo contrário, deu mais a sensação de estar sem saber o caminho a seguir. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, desembarcou em Salvador dizendo ter feito reserva de vagas em presídios de segurança máxima para encaminhar os policiais militares grevistas. Algo desastrado para quem pretendia construir uma saída tranquila num conflito com policiais.

Seja como for, havemos de convir, o PT de hoje é muito diferente do de 2001, quando ainda não havia chegado ao poder. Naqueles tempos, era o dono da moralidade, até que veio o mensalão e desmontou a máscara. Ideologicamente também nada tem a ver. Em 1988, por exemplo, o diretório nacional do partido publicou uma circular manifestando sua oposição frente à nova Constituição, em vias de nascer, após o fim do regime militar:

"O PT, como partido que almeja o socialismo, é por natureza um partido contrário à ordem burguesa, sustentáculo do capitalismo. (...) rejeita a imensa maioria das leis que constituem a institucionalidade que emana da ordem burguesa capitalista, ordem que o partido justamente procura destruir".

Nítida posição de esquerda extremada, abandonada progressivamente na década de 1990. Talvez até devesse assim ser. Era num tempo em que Lula bradava que se alguém visse um terreno abandonado "é para invadir". Ele se candidatava à Presidência, mas não imaginava o tamanho da responsabilidade quando lá chegasse. Não cultivou a serenidade que depois cobraria.

Em 2001, estava longe disso, mas ainda perto de apoios a movimentos como a greve da PM. O PT de hoje, inclusive o da Bahia, é outra coisa. Botou em seus braços inimigos de outrora, os "picaretas" que ele tanto criticava. Virou a casaca e entrou de sola no esquemão.

Como pagou caro agora com Prisco, um dia ainda pagará pelo abraço incondicional aos picaretas. Nada será novo. Apenas "a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar", como diz o poeta.

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