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'Vivemos um clima mais pesado do que em 1964', diz Roberto Amaral

Michel Temer receber quase 50 deputados para negociar voto contra denúncia é apenas um dos aspectos que mostram "putrefação da política brasileira", diz cientista político; para Amaral, "vivemos um clima mais pesado do que o clima de 1964. E as pessoas achando que a ordem normal das coisas continua"

Michel Temer receber quase 50 deputados para negociar voto contra denúncia é apenas um dos aspectos que mostram "putrefação da política brasileira", diz cientista político; para Amaral, "vivemos um clima mais pesado do que o clima de 1964. E as pessoas achando que a ordem normal das coisas continua" (Foto: Aquiles Lins)
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Eduardo Maretti, da RBA - A agenda do presidente Michel Temer hoje (3) trouxe uma sequência impressionante de reuniões com 45 deputados, a imensa maioria do chamado baixo clero, com os quais negocia o voto que darão no momento em que decidirem no plenário a segunda denúncia do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. No Twitter, Temer justifica o balcão de negócios com naturalidade. "Bom dia! Tenho o dia cheio de reuniões com parlamentares. O diálogo é fundamental para a harmonia entres os poderes. Vou conversar com representantes de todos os partidos da base, de todas as regiões do Brasil. É uma rotina que sempre mantive", escreveu.

O cientista político Roberto Amaral, ex-presidente do PSB histórico, considera esse um exemplo "gravíssimo" da situação do país. Mas situa as negociações de Temer num contexto mais dramático e amplo. Para ele, ninguém tem dúvida de que o Congresso vai rejeitar a segunda denúncia de Janot, por organização criminosa e obstrução à Justiça. Inclusive porque, no atual contexto, as instituições não só não atuam, como são cúmplices.

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"As instituições estão nisso também. Um dos responsáveis por tudo o que está ocorrendo é o poder Judiciário. A começar pelo STF, e juízes que não julgam, juízes que passam o tempo viajando, os que privilegiam questões políticas em detrimento do Direito", diz. O ambiente do país é hoje ilustrado pelo chocante caso do suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier de Olivo, após ter sido preso. Para Amaral, "vivemos um clima mais pesado do que o clima de 1964. E as pessoas achando que a ordem normal das coisas continua".

Além do Judiciário, começando pela "mais alta corte do país", a cumplicidade com o atual estado de coisas passa pela imprensa, em sua opinião. "Os tribunais acham normal o balcão em que a presidência da República se transformou. Isso é um escândalo. Temer negocia abertamente e a imprensa também acha normal."

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Amaral menciona o fato de empresários anunciarem que vão gastar dinheiro nas eleições para eleger os seus quadros. "São contra o financiamento público porque têm essa máquina. Isso é crime, é inconstitucional, abuso de poder econômico, mas é festejado. Também é normal um assessor de Temer (Rocha Loures) correndo com uma mala com milhares de reais e o ex-ministro Geddel (Vieira Lima) com um bunker em Salvador onde guardava R$ 50 milhões. Tudo é normal no Brasil. De outro lado, um Congresso sem legitimidade e não representa a vontade nacional."

O analista político Antônio Augusto Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), avalia que Temer deve conseguir se livrar da segunda denúncia com certa facilidade. "Ele recebe o maior número de deputados para se cercar das garantias de que conseguirá atingir os 172 votos, por omissão, ausência, abstenção ou voto a favor no dia da votação. Atingir esse número de votos é fácil. Só a Dilma, que não dialogou com ninguém, não conseguiu." O caso da segunda denúncia está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), mas toda a movimentação do presidente da República obviamente mira o plenário.

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Em relação à votação da primeira denúncia, quando Temer venceu por 263 a 227 votos, Queiroz acredita que dificilmente o presidente conseguirá votação maior, mas terá número suficiente "para salvar a ele mesmo e os dois ministros envolvidos nas denúncias (Moreira Franco, da Secretaria Geral, e Eliseu Padilha, da Casa Civil)".

Na opinião do analista, os deputados dispostos a trocar o voto por algum tipo de favor "se prestam a esse tipo de atitude mesmo contrariando o eleitor", mas usam a situação também pensando em 2018. "Eles vão para a eleição sem financiamento empresarial de campanha. Qualquer vantagem que possam conseguir do governo, seja liberando emendas, seja garantindo cargo nos estados, para eles é um incremento para ajudar na eleição."

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Para Amaral, o balcão de negócios é claro, mas muitos deputados têm até consciência de que não vão se reeleger. "Está claro que metade sabe que não vai retornar, então é o momento dos negócios. É um momento da putrefação da política brasileira."

Temer não se reúne apenas com deputados. Na segunda-feira (2), ele recebeu o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, oficialmente para negociar verbas para obras do Rodoanel paulista. Após o encontro, Alckmin se manifestou conforme roteiro do Palácio do Planalto. "Eu acho pouco provável que (a segunda denúncia) prospere, porque já na primeira denúncia não prosperou", disse. O voto do relator, do mesmo partido de Alckmin, deputado Bonifácio Andrada (PSDB-MG), será favorável a Temer.

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