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Cultura

Escritora relata como foi seu linchamento virtual após comentar caso Raduan

"Eu não receberia prêmio de um governo que deu um golpe, agiu em desacordo com a Constituição, tirou uma presidente que eu julgava íntegra e honesta e tem feito tantas barbaridades", diz a escritora Ivana Arruda, que relata ter levado uma surra nas redes, ao questionar a atitude de Raduan Nassar

"Eu não receberia prêmio de um governo que deu um golpe, agiu em desacordo com a Constituição, tirou uma presidente que eu julgava íntegra e honesta e tem feito tantas barbaridades", diz a escritora Ivana Arruda, que relata ter levado uma surra nas redes, ao questionar a atitude de Raduan Nassar (Foto: Leonardo Attuch)
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247 – "Eu não receberia prêmio de um governo que deu um golpe, agiu em desacordo com a Constituição, tirou uma presidente que eu julgava íntegra e honesta e tem feito tantas barbaridades", diz a escritora Ivana Arruda, que relata ter levado uma surra nas redes, ao questionar a atitude de Raduan Nassar. Leia, abaixo, seu artigo:

Você receberia prêmio de um governo golpista?

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Por Ivana Arruda Leite

"Você receberia um prêmio de um governo golpista?" Essa foi a pergunta que eu tive a sandice de colocar na minha página do Facebook depois doocorridoentrega do Prêmio Camões a Raduan Nassar.

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Uma pergunta sincera e legítima que, claro, trazia embutida minha resposta. Eu não receberia prêmio de um governo que deu um golpe, agiu em desacordo com a Constituição, tirou uma presidente que eu julgava íntegra e honesta e tem feito tantas barbaridades.

Deus me livre de receber um prêmio dessa gente. Caso eu estivesse muito dura e não pudesse me dar ao luxo de recusar a grana -ou caso eu achasse que minha obra vale 100 mil euros, venham eles de onde vierem-, eu pediria à comissão que depositasse o montante na minha conta e desse o assunto por encerrado. Sem festa nem discurso.

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Os primeiros comentários na minha página foram civilizados e tentavam me esclarecer: 1) O prêmio foi dado no governo Dilma Rousseff (mas ela já estava afastada na ocasião); 2) Quem deu o prêmio foi o Estado, não o governo.

Só que aí os comentários foram subindo de tom, e a minha página virou um lamaçal de ofensas e barbaridades. A alcateia petista ignara babava e soltava fogo pelas ventas.

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Como eu dou um boi para não entrar numa briga e uma boiada para sair dela o mais rápido possível, deletei o post. Vade retro! Voltem para o inferno de onde vocês saíram. Afasta de mim, ó Pai, o visgo fétido que os fascistas intolerantes espalham por onde andam. Fascistas, é esse o nome de quem não admite que você tenha opinião contrária.

Sim, Raduan é um de nossos maiores escritores vivos e merece todo o meu respeito. A devoção que tenho por seus livros é inatingível e inatacável. Sendo ele quem é, pode falar o que quiser. Mesmo eu não concordando com uma só palavra, dou risada e deixo para lá. O máximo que posso pensar é: os autores geniais são homens comuns, tão sujeitos a falhas quanto qualquer outro.

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Já o discurso do ministro da Cultura, Roberto Freire, me fez morrer de vergonha, para dizer o mínimo. É inadmissível que um ministro que estava ali para entregar um prêmio se meta num bate-boca ridículo e palanqueiro como aquele.

Também foi lamentável a reação da plateia. Ok, eram todos petistas, estavam ali para render graças ao escritor petista, mas as vaias e palavras de ordem foram tão ridículas e inapropriadas quanto as do ministro.

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Raduan assistiu impávido a um espetáculo lamentável. Note-se que, em seu pronunciamento, não falou sobre literatura. Aliás, só saiu da toca porque viu ali ótima oportunidade para fazer seu discurso político.

Ora, se Raduan pode falar, se o ministro pode falar (ou quase), se a plateia pode vaiar, eu também quero expressar minha opinião sem ser bombardeada pela torcida enlouquecida do burro-petismo.

Quase todos os meus amigos são petistas. No meio literário contam-se nos dedos de uma só mão os que têm coragem de dizer que sonham com o dia em que Lula fará companhia a José Dirceu nos banhos de sol matinais.

Mesmo assim, somos (ou éramos) capazes de sentar num boteco e discutir a premiação do Raduan até altas horas entre gritos, dedos na cara, deboches e incontáveis baldes de cerveja. No final, sairíamos todos bêbados e tão amigos quanto antes.

Mas parece que discussão analógica virou coisa fora de moda. Agora a onda é escrever no Facebook o que pensamos, correndo o risco de levar chicote no lombo caso nossa opinião não esteja dentro do que preconiza o missal da estrela vermelha.

A sorte é que sempre tem um "jornal golpista" que dá espaço para desabafarmos.

Ivana Arruda Leite é escritora e publicou os livros "Hotel Novo Mundo" e "Cachorros"

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