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Cultura

Festival de Locarno: Cinema independente para questionar o mundo

Entre outros aspectos, vale ressaltar o cinema como declaração de solidariedade

(Foto: Divulgação)
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Sergio Ferrari, de Locarno, Suíça, 247 - No dia 3 de agosto, sobe a cortina no Festival de Cinema de Locarno, que recupera sua plena forma após uma edição cancelada (2020) e outra reduzida pela metade (2021) devido à pandemia.

Com um programa amplo e variado, Locarno busca defender, assim, seu lugar no top 10 do ranking europeu, colocando-se na lista dos grandes logo atrás de Cannes, Veneza, Berlim e San Sebastián (País Basco, Espanha) (https://www.locarnofestival.ch/it/LFF/home).

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Giona Nazzaro, o novo diretor artístico, ao apresentar o programa desta 75ª edição –que inclui 226 filmes de mais de cem países, entre os quais 105 são estreias mundiais–, ressaltou que Locarno permanece fiel à sua vocação de liberdade e que pretende oferecer um espaço para descobrir e debater o cinema em todas as suas formas, "com um olhar sempre firme para o futuro".

E olhar para o futuro para um festival que, desde sua criação, em 1946, aposta na centralidade do cinema independente de autor (*) implica captar, em particular, a atenção do público jovem. É um grande desafio focar nos jovens que hoje têm uma relação completamente diferente com as imagens, admite, por sua vez, Marco Solari, que desde 2000 preside o festival.

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A digitalização e a inteligência artificial estão abrindo caminho para desenvolvimentos inimagináveis, também no mundo do cinema e dos festivais. "A tarefa não é mais apenas entreter, mas também educar", disse Solari a repórteres no início de julho, e motivou a ajudar as próximas gerações a reconhecer o belo, o justo, o profundo e a acreditar nos valores nos quais toda a convivência humana se baseia ou deveria ser baseada.

Tsunami de imagens

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A Piazza Grande (Praça Grande), no coração de Locarno, a apenas 50 quilômetros da fronteira com a Itália e a 120 quilômetros de Milão, continua sendo a principal carta de apresentação do Festival de Cinema de Locarno.

Com 8.000 cadeiras dispostas no calçadão central –algumas das quais são recolhidas à meia-noite após a apresentação–, a Piazza é uma das maiores "salas" ao ar livre da Europa e, inclusive, do mundo. Em seu próprio estilo e particularidade, pode competir em pé de igualdade com a própria Kinepolis, de Madri, considerada o maior complexo do planeta, com espaço para 9.200 espectadores, distribuídos em 25 salas.

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A tela gigante da Piazza, de 364m2 (26x14), permite que os espectadores se sentem a mais de 100 metros de distância sem que o som ou a imagem percam a qualidade. Medidas e dimensões que, juntamente com o charme dos prédios antigos que circundam o local, particularmente iluminados durante o festival, e com o clima de verão quase mediterrâneo da Suíça italiana, em agosto, fazem da Praça Grande um palco de cinema único sob as estrelas.

Dezessete filmes de onze países serão exibidos lá, incluindo dez estreias mundiais. A seleção estreia no dia 3 de agosto com Bullet Train, do diretor estadunidense David Leitch e com a participação de Brad Pitt e Sandra Bullock. A coprodução suíço-alemã Alles über Martin Suter. Ausser die Wahrheit (Tudo sobre Martin Suter. Além da verdade), estreia mundial de André Schäfer encerrará a 75a edição no segundo sábado de agosto.

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Nessa ocasião, o selo latino-americano estará pouco presente na Piazza Grande. Apenas o filme My Neighbor Adolf (Meu vizinho Adolf), de Leon Prudovsky, coproduzido por Israel, Colômbia e Polônia, fornece um cenário e temática sul-americanos.

Na Competição Oficial, dos 17 filmes que concorrem ao Leopardo de Ouro, o principal prêmio de Locarno, duas estreias mundiais têm presença latino-americana: Tengo sueños eléctricos (Tenho sonhos elétricos), de Valentina Maurel, belga-costarriquenha, e Sermon to the Fish (Sermão do Peixe), de Hilal Baydarov, com a participação do México, Azerbaijão, Suíça e Turquia.

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Portas abertas para o cinema latino-americano

No entanto, Locarno 2022, que acontece não só na Piazza Grande, mas também em outras dez salas espalhadas pela cidade –e que funcionarão desde o início da manhã até a meia-noite durante os dez dias–, não vira as costas para o cinema latino-americano. Desde as origens do festival, esse sempre foi um polo central de atração para o público suíço.

A sessão Open Doors (Portas Abertas), resultado da colaboração do festival com a Agência Suíça de Cooperação e Desenvolvimento por duas décadas, este ano se centra na produção de filmes de 22 países da América Latina, com foco principalmente na América Central e no Caribe.

É o início de um programa de três anos, que também prevê para 2023 e 2024 uma janela europeia de impacto particular para jovens cineastas e diretores do continente latino-americano.

Oito longas-metragens e dez curtas-metragens, refletindo o próspero cinema independente da região, compõem a programação oficial. O público do festival, assim como centenas de produtores/as e distribuidores/as, poderá acessar filmes que, normalmente, estão fora dos circuitos comerciais tradicionais.

Entre eles, 90 minutos, da diretora hondurenha Aeden O'Conner Agurcia; Ayiti Mon Amour, uma coprodução haitiana-estadunidense, de Guetty Felin; La opción cero, uma coprodução brasileira-cubano-colombiana, de Marcel Beltrán; e Medéia, da jovem cineasta costarriquenha Alexandra Latishev Salazar.

Completa o programa de Open Doors, o filme estadunidense-jamaicano Right near the beach, de Gibrey Allen; Roza, do diretor guatemalteco Andrés Rodríguez; Una película sobre parejas, produção dominicana de Natalia Cabral e Oriol Estrada; e Todos los peces, da pujante diretora salvadorenha Brenda Vanegas.

Após sua estreia mundial, em 8 de agosto, Brenda Vanegas participará em uma mesa redonda com diretoras/es convidadas/os sobre a temática das narrativas e das realidades das mulheres através do cinema da América Central e do Caribe.

Uma característica singular do Festival de Locarno: quando cada exibição da competição internacional termina, assim como algumas das outras sessões, as/os respectivas/os diretoras/es, produtoras/es, atrizes e atores podem debater amplamente com o público –sem qualquer restrição ou credencial– em um espaço particularmente democrático especialmente dedicado a esse tipo de intercâmbio.

O cinema como declaração de solidariedade

Refletir sobre conteúdos e antecipar os desafios do cinema nesta época faz parte da paixão artística de Giona Nazzaro, diretor da mostra de Locarno e que está ligado a ela há anos. Nazzaro também foi responsável pela Semana da Crítica do Festival de Cinema de Veneza, Itália, e membro do Comitê de Seleção do Festival de Roterdã, nos Países Baixos.

"A seleção de filmes que elaboramos após a exibição e avaliação de mais de 3.000 títulos (de todos os formatos e durações) tem como objetivo ser um sinal de um tempo e de um cinema em movimento", diz ele. Um tempo histórico que se move em várias direções ao mesmo tempo e um cinema que questiona o mundo e como viver de forma responsável, sustentável. "A imagem é um testemunho e uma declaração de solidariedade. Mesmo quando coça e queima", diz Nazzaro.

E o diretor conclui: "Aprender incansavelmente a olhar juntos significa retomar o diálogo para redescobrir o sentido de nossas comunidades. É a lição fundamental do cinema de acordo com Rossellini".

A aposta é dobrada e, nesse caso, é afirmada sem negociar, diz Nazzaro: o Festival de Cinema de Locarno é um bastião do cinema de autor. Do cinema jovem e emergente. Do cinema que ainda não chegou. Dos jovens que dão seus primeiros passos. Dos Leopardos do Amanhã (o Leopardo de Ouro é o prêmio mais importante do festival) que forjam o cinema contemporâneo mais emocionante do mundo.

Locarno se inicia. Perto, geograficamente, mas longe, conceitualmente, da mostra elitista de Cannes ou da aristocrática Veneza. Um festival que, embora flerte com as vedetes do cinema norte-americano e se volte para a França, a Itália e a Alemanha para encontrar um perfume internacional, continua acreditando profundamente no cinema independente onde se impõe a personalidade do diretor ou da diretora. Distancia-se dos grandes estúdios comerciais permitindo que as/os cineastas expressem sua própria personalidade artística, sem pressões ou condicionantes. E, acima de tudo, em um ambiente cultural aberto e com uma programação sem autocensuras. A cortina se abre... para sonhar sob as estrelas...

(*) Filme de autor ou cinema de autor é uma expressão usada para descrever os filmes de um diretor de cinema ou de um roteirista que refletem sua personalidade artística. Este termo procura, antes de tudo, ligar a obra de um cineasta aos temas preferidos e à coerência de um estilo inovador e singular. (Fonte: Wikipedia).

Tradução: Rose Lima.

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