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Cultura

“O bolsonarismo é o racismo e a morte como políticas de governo”

A cantora Alliye de Oliveira e o professor Acauam Oliveira concordam com a reflexão, debatida no programa “Um Tom de resistência”, apresentado por Ricardo Nêggo Tom na TV 247. Os dois se lembraram da recente declaração racista do secretário Mário Frias contra o historiador Jones Manoel. Assista

Alliye de Oliveira e Acauam Oliveira (Foto: Reprodução)
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247 - Autor da introdução do livro “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais MC’s, Acauam Oliveira classificou como a “realização de um sonho” poder ter participado do trabalho de artistas que representam muito, e em vários sentidos, para a cultura periférica brasileira. “Acho que a palavra principal para descrever essa experiência é ‘realização’, por estar ali fazendo um trabalho que, em alguma medida, estava produzindo alguma coisa junto aos meus ídolos. Ao mesmo tempo que foi o texto mais difícil que eu já escrevi na vida, porque Racionais não é qualquer coisa. Eles representam muita coisa, em vários sentidos, para muita gente. Muita coisa para o povo preto, para o pessoal da periferia, para a história do País, para a história da música popular e para a mudança do imaginário do que significa ser negro no Brasil. Foram as dez páginas mais difíceis que eu escrevi na vida”, relembra Acauam.

A gestão da arte e da cultura do País, que atualmente está nas mãos do ator Mário Frias, levantou um debate acerca do racismo como política de governo no bolsonarismo. A fala racista do atual secretário contra o historiador negro Jones Manoel, dizendo que ele precisava de um “bom banho”, foi lembrada no programa. Para Alliye de Oliveira, essa fala ilustra bem a sofisticação do racismo nesse país, que usa de palavras de duplo sentido para tentar mascarar a intenção. Você pode chamar uma pessoa de suja em função da aparência, ou pelo seu mau-caratismo. Ela maquia bem todo esse discurso racista que está infiltrado na nossa sociedade”. Acauam avalia que tudo no bolsonarismo é mais explícito. Principalmente, o racismo. “O bolsonarismo é a morte tornada política de governo. E esse comentário racista é a cara do bolsonarismo. É isso que ele representa para os pretos do País. Uma política de destruição. E é nesse lugar que eles querem nos ver. Nós (negros) somos os sujos, os feios, aqueles que devem ser eliminados”.

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O professor também classifica a atual gestão da cultura no País como inexistente. Para ele, “não existe gestão de cultura no governo Bolsonaro. Pelo menos, não como a gente compreende tradicionalmente. A primeira coisa que precisamos fazer é colocar isso bem claro para que não normalizemos isso que estamos chamando de governo”. Alliye, que morou mais de dez anos na França, concorda com Acauam e entende que “Bolsonaro é uma materialização de uma vontade que talvez esteja também fora do Brasil. Eu acredito que somos um país extremamente ameaçador para outras nações, pelo porte de país, pela quantidade de pessoas que tem, com a quantidade de recursos naturais e de potencial humano que dispomos na nossa sociedade, de norte a sul. O Brasil é um projeto muito audacioso para quem é supremacista e defende princípios aristocráticos. Imagine um país como o nosso, liderando econômica e culturalmente, com toda essa mistura de pessoas e com a sua diversidade de pessoas rica e também ameaçadora, para quem está vendo de fora. Eu vejo Bolsonaro como a luva perfeita para a mão que quer sabotar o desenvolvimento de países como o nosso”.

O epistemicídio da representatividade cultural negra, sob o viés da apropriação cultural, também esteve em pauta. A invisibilização de artistas negros na Bossa Nova, como é o caso de Johnny Alf, um dos criadores do gênero, suscitou algumas reflexões no debate. “Johnny Alf de fato foi uma grande inspiração para Tom Jobim. Assim como Pixinguinha, Villa Lobos, Cole Porter e Henri Salvador também foram. Eu acredito que no meio musical essa questão do racismo não tenha se espalhado de uma maneira tão radical, como midiaticamente falando. Eu acredito, como até hoje acontece, que o negro, o preto não é, entre aspas, um produto vendável, apresentável. Não é apenas o Johnny Alf. Temos várias cantoras desse período que surgiram no apartamento da Nara Leão, que fazem sucesso fora do Brasil e que aqui ninguém nunca ouviu falar”, analisou Alliye.

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Acuam, que também é pesquisador musical, lembrou da importância da Bossa Nova como um movimento de afirmação da “branquitude” brasileira na música internacional. “Tem um texto da Liv Sovik em que ela vai dizer que a Bossa Nova serviu para o pessoal de Ipanema e da zona sul do Rio de Janeiro provar no exterior que eles também eram brancos. Chegar lá fora e dizer ‘somos brancos diferentes, a gente toca samba, tem mais suingue, mas nós somos brancos também’. Enquanto isso, muitos dos precursores, gente que estava lançando uma nova linguagem musical internamente, e que era negra, não desfrutavam dos mesmos frutos de privilégio. Mas se a Bossa Nova é uma mistura de samba e jazz, o que tem de branco aí?”.

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