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Economia

Banco Central deixa claro que a taxa básica de juros ficará alta por "tempo prolongado" no Brasil

Mantida em 13,75% na reunião de ontem do Copom, a taxa de juros real no Brasil, descontada a inflação, é uma das maiores do mundo

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
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BRASÍLIA (Reuters) – Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Banco Central decidiu nesta quarta-feira manter a Selic em 13,75% ao ano e ressaltou que a incerteza fiscal e a deterioração nas expectativas de inflação do mercado elevam o custo para que a autoridade monetária atinja suas metas.

"A conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária", informou o comunicado da reunião do Copom.

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"Tal conjuntura eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional", acrescentou.

Nesse cenário, com uma "deterioração em prazos mais longos" das expectativas para a inflação, o comunicado "reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas", ressaltando novamente que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste nos juros caso o processo de desinflação não transcorra como esperado.

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A manutenção da taxa básica de juros pela quarta reunião consecutiva foi decidida por unanimidade pela diretoria do BC e está em linha com a expectativa do mercado, de acordo com pesquisa Reuters, segundo a qual todos os 30 economistas consultados esperavam continuidade da Selic no mesmo nível.

O BC também endureceu o tom em outro trecho do comunicado. Em dezembro, afirmava que seguiria avaliando se a estratégia de manutenção da Selic por período "suficientemente prolongado" seria capaz de assegurar a convergência da inflação. Agora, diz que está avaliando se a manutenção da taxa "por período mais prolongado do que no cenário de referência" será capaz de atingir o objetivo.

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O cenário de referência do BC leva em conta a trajetória para os juros sinalizada por analistas do mercado na pesquisa Focus --a qual tem apontado a expectativa de corte de juros a partir de setembro deste ano.

Apesar dos alertas, o BC manteve equilibrado seu balanço entre fatores de risco de alta e de baixa para a inflação, sem alteração significativa em relação ao comunicado de dezembro, mas destacou que a decisão para a Selic considerou um balanço de riscos "com variância ainda maior do que a usual" para a inflação prospectiva.

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Com a decisão, o BC manteve a Selic a um patamar 11,75 pontos acima da mínima histórica de 2% ao ano, atingida em meio à pandemia de Covid-19 e que vigorou até março de 2021. A taxa básica segue no nível mais alto desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano.

Na avaliação do colegiado, apesar de “algum arrefecimento” nos níveis de preços, a inflação ao consumidor e a inflação subjacente (que desconsidera fatores de maior volatilidade) seguem acima do intervalo compatível com a meta.

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O BC ponderou que a atividade econômica no Brasil segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom.

O primeiro encontro do Copom após uma troca de governo com um Banco Central formalmente autônomo ocorreu após críticas de Lula à condução da política monetária e em meio a um ambiente de alta nas expectativas para a inflação e piora nas projeções para a taxa básica de juros.

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DESANCORAGEM

Nesta quarta, o BC também piorou suas estimativas para a inflação. A autoridade monetária informou que, em seu cenário de referência, as estimativas para a inflação estão em 5,6% para 2023 (contra 5,0% na reunião anterior) e 3,4% em 2024 (ante 3,0%).

A autoridade monetária ainda incluiu no comunicado um cenário alternativo, no qual a Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante. Nele, as projeções de inflação ficam em 5,5% para 2023 e em 2,8% para 2024 --acima da meta no primeiro caso e abaixo no segundo.

Na avaliação do economista-chefe da Genial, José Márcio Camargo, o comunicado foi incisivo em chamar a atenção para a desancoragem das expectativas e "foi bastante indicativo do fato de que a manutenção da taxa Selic nos níveis atuais" vai fazer com que a inflação se descole da meta.

O economista-chefe da Messem, Gustavo Bertotti, não vê mais a possibilidade de os juros começarem a cair no segundo trimestre deste ano.

"Acreditamos que uma redução poderá ocorrer somente no segundo semestre, mas tudo vai depender o balanço de riscos, que inclui a questão fiscal, fatores políticos e o cenário internacional".

Em 2022, o IPCA acumulou alta de 5,79%, acima do teto de 5% estabelecido para o ano passado.

Apesar do avançado estágio de aperto monetário após o BC promover um duro ciclo de alta nos juros para debelar a alta de preços, as projeções de mercado têm apontado para uma desancoragem da inflação.

O boletim Focus do BC mostra que a mediana das expectativas para a inflação deste ano passou de 5,08% logo após a reunião do Copom de dezembro para 5,74% nesta semana -quase 1 ponto acima do teto da meta para o período.

Para 2024, atual foco da atuação da autoridade monetária, a projeção do mercado foi de 3,50% para 3,90%. O efeito de alta também é sentido em 2025, 2026 e até 2027.

As metas para a inflação perseguidas pelo BC são de 3,25% em 2023 e de 3,00% em 2024 e 2025, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. A meta de 2026 deve ser fixada neste ano pelo governo, após Lula questionar se o alvo não estaria baixo demais, forçando uma contração excessiva da atividade econômica.

A opção pela manutenção da Selic ocorreu horas após o Banco Central dos Estados Unidos ter anunciado uma elevação em sua meta de juros em 0,25 ponto percentual, além de prometer "aumentos contínuos" nos custos de empréstimos.

O BC brasileiro disse no comunicado que a política monetária mais restritiva nos países avançados e a maior sensibilidade dos mercados a fundamentos fiscais requerem maior cuidado por parte de países emergentes.

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