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Economia

Banqueiros que se metem em política terminam bem?

Essa é uma pergunta que deveria ser respondida por Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, do Itaú-Unibanco, multados em R$ 18,4 bilhões pela Receita Federal; de um lado, Neca Setubal, irmã de Roberto, é uma das principais apoiadoras da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva; de outro, o ex-tesoureiro do Itaú, João Amoedo, cria o Partido Novo, que defende a privatização total e um estado mínimo onde o governo teria um papel central: a defesa da moeda (leia-se juros altos); exemplos históricos de banqueiros que enveredaram pela política, como Magalhães Pinto, Andrade Vieira e Calmon de Sá, deveriam recomendar distância entre as duas atividades

Essa é uma pergunta que deveria ser respondida por Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, do Itaú-Unibanco, multados em R$ 18,4 bilhões pela Receita Federal; de um lado, Neca Setubal, irmã de Roberto, é uma das principais apoiadoras da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva; de outro, o ex-tesoureiro do Itaú, João Amoedo, cria o Partido Novo, que defende a privatização total e um estado mínimo onde o governo teria um papel central: a defesa da moeda (leia-se juros altos); exemplos históricos de banqueiros que enveredaram pela política, como Magalhães Pinto, Andrade Vieira e Calmon de Sá, deveriam recomendar distância entre as duas atividades (Foto: Felipe Lima)
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247 - Há um momento na vida de certos banqueiros em que o dinheiro parece não ser mais o suficiente. E a grande motivação passa a ser o poder. Aconteceu, por exemplo, com José Eduardo Andrade Vieira, ex-dono do Bamerindus e um dos principais financiadores da primeira eleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1994. Andrade Vieira foi ministro da Indústria e Comércio, mas não escondia de ninguém que pretendia ser presidente da República. Anos depois, o Bamerindus sofreria intervenção do Banco Central.

Antes dele, vários outros banqueiros foram mordidos pela mosca azul da política. O gaúcho Egídio Michaelsen, ex-dono do Banco Mercantil e Agrícola, tentou ser governador do Rio Grande do Sul em 1962, com apoio de Leonel Brizola. Perdeu a eleição para Ildo Meneghetti e, depois, o banco. O baiano Angelo Calmon de Sá, um dos homens fortes do regime militar, quis ser governador do Bahia. Seu Econômico não existe mais. Magalhães Pinto, outro apoiador da ditadura, que governou Minas Gerais, perdeu seu banco Nacional. E Gastão Vidigal, um dos principais financiadores da Operação Bandeirantes, viu seu Banco Mercantil de São Paulo ser incorporado pelo Bradesco. Mais recentemente, o Cruzeiro do Sul, dos Índio da Costa, emplacaram até o vice na chapa de José Serra. Onde está o banco? Não existe mais.

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Finança e política, portanto, são atividades que não combinam. Ao menos, é o que a história mostra e que deveria servir como fonte de prudência para os banqueiros que hoje comandam o Itaú Unibanco. Pedro Moreira Salles e Roberto Setubal hoje comandam um conglomerado financeiro que, claramente, faz oposição ao governo federal. No governo Dilma, o banco foi um dos principais adversários da política de redução de juros e seus analistas têm sempre liderado as projeções mais pessimistas em relação ao crescimento da economia e a inflação. Um dos conselheiros do banco, o ex-ministro Pedro Malan, foi identificado, meses atrás, pelo Palácio do Planalto, como a ponte entre a oposição e a mídia global (leia mais aqui), num momento em que o Brasil era bombardeado dia sim, dia não por críticas de publicações como The Economist e Financial Times.

Apesar de tudo isso, o envolvimento do Itaú Unibanco com a política ainda parecia relativamente distante. Ocorre que dois partidos em formação no País estão, de forma direta ou indireta, ligados ao grupo. A Rede Sustentabilidade, que Marina Silva pretende criar, tem como uma de suas principais apoiadoras Neca Setubal, irmã de Roberto e acionista relevante do Itaú (leia mais aqui). Sabe-se agora que outra legenda, o Partido Novo, está sendo criado pelo ex-tesoureiro do banco, João Amoedo, que é também conselheiro do grupo. Entre as bandeiras do Novo, estão a privatização do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e um estado mínimo, em que a principal atividade do governo seria a garantia do valor da moeda – ou seja, uma política de juros altos, que, na prática, seria uma espécie de bolsa-banqueiro (leia mais aqui).

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Por mais que se diga que a Rede e o Novo são iniciativas pessoais de Neca e Amoedo, o fato é que, ambos, de certa forma, defendem uma agenda que interessa ao Itaú Unibanco. A proximidade com a política, no entanto, traz riscos. Coincidência ou não, o banco recebeu, dias atrás, a maior multa já aplicada pela Receita Federal em toda a sua história. Nada menos que R$ 18,4 bilhões.

De forma prepotente, o banco já avisou que não pretende pagar e que não irá nem sequer realizar provisões em seu balanço (leia mais aqui). Para o Itaú Unibanco, que, além de tudo é credor e tem forte influência na Editora Abril, a ação política talvez tenha sido um erro. Mas agora é bom torcer – ou talvez rezar – para que tanto a Rede como o Novo tenham sucesso.

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PS: De certa forma, os Setubal e os Moreira Salles desprezam experiências internas. Olavo Setubal, que foi prefeito biônico de São Paulo, pretendia disputar a eleição para governador em 1986, mas ficou desiludido quando seu PFL empenhou apoio a Paulo Maluf, do PDS. Frustrado, Olavão disse que nunca mais se envolveria com a política. No Unibanco, o embaixador Walter Moreira Salles também quis ser governador de Minas Gerais em 1965, mas teve seu nome vetado pelo então ministro da Guerra, Arthur da Costa e Silva, que viria a ser presidente alguns anos depois.


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