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Economia

Contingenciamento de Temer não segura mais aumento da dívida pública

Queda da arrecadação nos últimos anos e o crescimento dos gastos obrigatórios levaram as contas públicas federais a um impasse;  contingenciamentos são insuficientes para conter o déficit primário; mesmo que o governo Michel Temer corte 100% dos gastos não obrigatórios, as contas públicas continuarão a registrar resultados negativos, acelerando a alta da dívida pública; nos 12 meses terminados em agosto, os gastos obrigatórios equivaleram a 104,3% das receitas líquidas correntes

Michel Temer, crédito, dinheiro .2 (Foto: Paulo Emílio)
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Wellton Máximo, repórter da Agência Brasil - A queda da arrecadação nos últimos anos e o crescimento dos gastos obrigatórios levaram as contas públicas federais a um impasse. Os contingenciamentos (bloqueio de verbas para gastos não obrigatórios) são insuficientes para conter o déficit primário. Mesmo que o governo corte 100% dos gastos não obrigatórios, as contas públicas continuarão a registrar resultados negativos, acelerando a alta da dívida pública.

Nos 12 meses terminados em agosto, segundo os dados mais recentes do Tesouro Nacional, os gastos obrigatórios, que não podem ser cortados pela equipe econômica, equivaleram a 104,3% das receitas líquidas correntes. Nessa situação, mesmo se o governo cortasse todos os gastos discricionários (não obrigatórios), o déficit primário perduraria porque a arrecadação é insuficiente para cobrir as despesas obrigatórias, como mínimos constitucionais com educação e saúde, pagamento do funcionalismo público e benefícios da Previdência Social.

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A diferença entre a arrecadação e os gastos obrigatórios é compensada com o déficit primário, resultado negativo das contas do governo antes do pagamento dos juros da dívida pública. Na prática, o governo emite títulos, pegando recursos emprestados no mercado financeiro, para cobrir as despesas, comprometendo-se a devolver o dinheiro com juros daqui a alguns anos. Como o déficit primário se soma aos juros, a dívida pública cresce no médio e no longo prazo.

Em 2016, as despesas obrigatórias tinham fechado o ano valendo 101,3% da arrecadação líquida. Nos oito primeiros meses de 2017, a tendência não foi contida. De acordo com a secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, os números mostram que o contingenciamento como ferramenta para o governo economizar recursos esgotou-se e que são necessárias reformas nos gastos obrigatórios.

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"Esse é um problema que a sociedade tem de debater. Chegamos a um ponto em que não dá mais para conter o crescimento da dívida pública apenas contingenciando investimentos [obras públicas e compras de equipamentos] e demais gastos não obrigatórios. A gente precisa aprovar reformas estruturais, principalmente a reforma da Previdência, que consigam conter o crescimento dos gastos obrigatórios", advertiu a secretária do Tesouro no fim de setembro.

Problemas estruturais

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A solução para o problema também poderia estar na retomada do crescimento da economia brasileira. Em tese, o aumento da produção e do consumo elevaria o pagamento de tributos e impulsionaria a arrecadação. No entanto, a professora Vilma Pinto, do Núcleo de Economia do Setor Público do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), diz que a recuperação não é tão simples por causa de mudanças na estrutura da economia brasileira.

"A maior parte da arrecadação brasileira vem da indústria, mas o problema é que a economia do país está cada vez mais se tornando um país de serviços. Então, quando o PIB [Produto Interno Bruto] se recuperar, o setor de serviços, que não arrecada tanto, vai crescer mais que a indústria. Está havendo uma quebra estrutural entre o nível de receita e o nível de produto", explica.

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Segundo Vilma, esse processo não vai permitir que a arrecadação aumente tanto como durante o crescimento econômico dos anos 2000. Para ela, o país não tem como escapar de mudanças nas leis que contenham o crescimento dos gastos obrigatórios, que continuarão a subir mesmo com o teto para o total dos gastos públicos.

"O governo fala mais da reforma da Previdência por causa do peso dos benefícios no Orçamento, mas as mudanças nas aposentadorias e pensões só surgem efeitos no médio prazo. Também são necessárias mudanças em outras despesas obrigatórias, como subsídios e subvenções, abono salarial e seguro-desemprego. O país não tem como escapar dessas questões", diz a professora.

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Liberação

Por causa da frustração seguida de arrecadações, o governo tinha contingenciado R$ 44,9 bilhões de despesas não obrigatórias do Orçamento. Com a mudança da meta de déficit primário para R$ 159 bilhões, o governo liberou R$ 12,8 bilhões, reduzindo o total bloqueado para R$ 32,1 bilhões. A liberação está sendo feita aos poucos, à medida que o dinheiro entra no caixa do governo.

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Por causa do contingenciamento, diversos órgãos federais passam por dificuldades. As emissões de passaportes pela Polícia Federal ficaram suspensas por quase um mês, por exemplo. Já a Polícia Rodoviária Federal reduziu o patrulhamento e diversas universidades federais anunciaram que só tinham orçamento para se manterem até o fim de setembro.

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