Cultura inflacionária
Muitos tratam esta questão inflacionária como sendo reações de economistas alarmistas ou defensores dos juros altos. Para mim, a preocupação recai sobre a possível perda de credibilidade do BC
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O tema mais recorrente dos últimos dias foi sem dúvida a elevação do nível de inflação no Brasil. A taxa mensurada ficou acima da meta, mas dentro das expectativas do mercado, o que é igualmente ruim. Piadas à parte relacionadas ao tomate, e à constatação de que a cebola também faz descer lágrimas por sua alta considerável de preços, o cenário nacional é crítico.
Capas de revistas, artigos e discussões sobre o aumento ou não da taxa de juros fez até mesmo com que as questões importantes como a regulamentação das empregadas domésticas e a PEC 37 ficasse em segundo plano. A grande discussão é se seria o momento de frearmos a economia através da alta dos juros ou se deveríamos tolerar este pico inflacionário em prol do objetivo do crescimento econômico, manutenção de empregos e desenvolvimento.
Além disso, Tombini passou a semana reiterando ao público em geral o discurso de preocupação com os níveis inflacionários, e assumindo que fará todo o possível para evitar que o índice saia do controle. O problema é que, de novo, sua confiança está abalada. Guido Mantega utilizou em sua retórica uma artilharia de palavras para dizer que "a inflação não precisa de um tiro de canhão".
Novos números, agora sobre a confiança do empresariado, deverão em breve aparecer, e este também será um termômetro para sabermos o tamanho da perda de credibilidade dos empresários na economia como um todo. Segundo dados de mercado, já há reclamação de diversos setores do varejo ao que se refere a um aumento acima de 10% nos preços dos produtos.
Outra observação a ser feita sobre os efeitos da inflação é que os números das vendas varejistas cresceram, mas a quantidade de produtos continuou praticamente sob o mesmo patamar. Significa dizer que os preços aumentaram, ou seja, reduziu-se a renda disponível para as pessoas, e estes consumidores tiveram que comprometer mais sua renda em prol da aquisição de produtos.
Contraponha-se ainda a tal situação o fato de que, como o reajuste salarial vem seguindo uma ordem de 5 a 7%, e alguns serviços e produtos recebendo reajuste superiores a tal índice, aplicar-se-à uma corrosão da renda do trabalhador, o que poderá impactar na manutenção dos níveis de consumo das famílias.
Além deste viés, há de se destacar como a inflação está batendo pesado nos mais pobres. A variação da cesta básica, mesmo com desoneração, foi a maior dos últimos dez anos. Os mais pobres não possuem alternativas de aplicação financeira ou outras atitudes para tentarem recuperar as perdas inflacionárias.
Lembro ainda que a maioria das aplicações de renda fixa, seja fundos de investimentos, CDB´s e outros produtos, estão remunerando abaixo do atual nível de inflação. A poupança segue gerando perdas entre sua remuneração e a aceleração inflacionária. Tudo isso significa perda de poder de compra, perda de capital.
Porém, dentro deste contexto de contaminação da inflação, é importante lembrarmos que tivemos, em outros tempos, níveis inflacionários maiores, mas em outro contexto. A preocupação sobre os patamares da inflação precisa ser ponderada na forma como está nossa economia. Níveis de 8, 10% ao ano são inaceitáveis pelo atual contexto.
Muitos tratam esta questão inflacionária como sendo reações de economistas alarmistas ou defensores dos juros altos. Para mim, a preocupação recai sobre a possível perda de credibilidade do BC, a quebra do sistema de metas, a ausência de uma política estratégica para o cenário macro e uma falta de coesão entre políticas fiscais e monetárias.
Baixo crescimento com inflação alta é um dos piores cenários. Além disso, o resto do mundo não atinge tais níveis inflacionários, e infelizmente estamos colhendo uma série de ações equivocadas, tomadas no âmbito da política estratégica macroeconômica.
Reforço que não discuto as desonerações, que foram importantes, mas cobro a necessidade da visão complexa do todo, do planejamento de longo prazo e não de medidas pontuais, imediatistas e parciais.
Dentro de "cultura inflacionária brasileira", um dos pontos positivos deste momento (se é que isso é possível) é a forma como a população não tolera este aumento de preços. Sites informando preços abusivos, acesso à promoções e a valorização do orçamento doméstico equilibrado ajudam ao combate do aumento dos preços. A tecnologia da informação é uma importante aliada.
Busco dizer que temos uma população mais consciente e receosa com um cenário inflacionário. Nossa memória não joga em conjunto com a inflação. Não toleramos mais preços abusivos, e a pesquisa de mercado ou a mudança de hábitos é uma boa resposta a tal situação. O famoso custo da sola de sapato é um dos primeiros a se materializar.
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