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Economia

Época e Istoé divergem sobre Mantega

Para a revista da Globo, ministro da Fazenda no controlou subordinados na crise do Banco do Brasil e da Previ; para a concorrente da Editora Trs, ele foi o pacificador

Época e Istoé divergem sobre Mantega (Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil)
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247 – Aparentemente, a crise no Banco do Brasil está contida. A disputa interna provocou trapalhadas, como a quebra do sigilo bancário do ex-vice-presidente, Allan Toledo, e de uma senhora de 70 anos, Liu Mara Zerey, mas os ânimos parecem ter serenado. No entanto, o balanço feito por duas revistas semanais diverge. Para a revista Época, da Globo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não consegue controlar seus subordinados. Para a concorrente Istoé, da Editora Três, Mantega foi um hábil pacificador. Quem tem razão? Leia e confira:

Na Época, “Hora de colocar ordem na casa”:

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O ministro da Fazenda, Guido Mantega, poderia estar no nirvana. Há seis anos no cargo, Mantega acumulou força e prestígio ao atravessar – até agora – de forma bem-sucedida a maior crise da história recente do capitalismo mundial, desencadeada pela quebra do banco Lehman Brothers em 2008. No ano passado, Mantega pilotou uma manobra de pouso suave da economia brasileira, que afastou os riscos de um superaquecimento e da volta da espiral inflacionária e iniciou um processo de redução das altas taxas de juros. Apesar disso, Mantega vem, em 2012, acumulando problemas no Ministério da Fazenda – e eles não estão relacionados à excessiva valorização do real ou aos efeitos da crise do euro. O mais explosivo deles está relacionado a uma disputa interna por poder em duas instituições, o Banco do Brasil (BB) e a Previ (o fundo de pensão dos funcionários do BB), que, por ser abarrotadas de recursos, só deveriam ser fontes de boas notícias para o governo.

A disputa por poder – que se arrasta há algum tempo entre facções lideradas pelo presidente do Banco do Brasil, Adelmir Bendine, e o presidente da Previ, Ricardo Flores – transbordou para as páginas dos jornais e ganhou contornos de uma briga de rua, com dossiês e outros golpes sujos. Na terça-feira, o jornal Folha de S.Paulo publicou informações bancárias sigilosas do ex-vice-presidente de Negócios Internacionais do BB Allan Toledo. Segundo investigação atribuída ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), Toledo recebeu quase R$ 1 milhão provenientes de uma conta de uma aposentada em 2011. A reportagem sugeria que a aposentada fora intermediária no repasse de recursos de um sócio de um dos donos da Marfrig, frigorífico que contraiu empréstimos no Banco do Brasil e onde trabalha um irmão de Toledo.

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De acordo com Toledo, a aposentada é Liu Mara, sua mãe adotiva. Toledo afirma que Liu Mara tem câncer e que o montante depositado em sua conta é resultado da venda de um imóvel em São Paulo. Os depósitos, segundo Toledo, foram feitos para que ele administrasse o uso dos recursos num tratamento de saúde de Mara. Mesmo com a investigação atribuída ao Coaf, existem suspeitas de que as informações sobre a conta tenham vazado diretamente do BB com o objetivo de lançar dúvidas a respeito da legalidade do dinheiro e de colocar Toledo em situação delicada. No fim do ano passado, Toledo foi exonerado logo após ÉPOCA revelar que o BB decidira investir mais de R$ 2 bilhões para administrar o Banco Postal, ligado aos Correios, sem contratar um parecer chamado “fairness opinion” – um documento normalmente usado para dar respaldo ao negócio. Toledo passou a ser rotulado, por aliados de Bendine, como um dos responsáveis, com Flores, por tentar enfraquecer Bendine a ponto de substituí-lo.

Inconformado com a divulgação de detalhes de sua vida financeira, Toledo disse que foi usado na guerra entre Bendine e Flores e anunciou um processo contra o banco. Na quinta-feira, numa entrevista coletiva sobre o assunto, Mantega afirmou que não foi orientado pela presidente Dilma a promover substituições no BB ou na Previ e disse que essa é uma crise baseada em “fofocas”. Mas ele não menosprezou completamente o episódio e disse que está preocupado com possíveis desdobramentos da crise tanto nos resultados do banco como no fundo de pensão. Mantega exigiu também a abertura de uma sindicância para averiguar o possível vazamento das informações.

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Um servidor importante a ser ouvido nessa sindicância é o diretor de Gestão de Segurança do Banco do Brasil, Marcos Ricardo Lot. Ele é funcionário de carreira do banco há 29 anos e assumiu a Gestão de Segurança em novembro do ano passado. Em nota à imprensa, o Banco do Brasil afirmou que está apurando se houve quebra de sigilo ou acesso indevido às informações bancárias, mas que não identificara nenhuma irregularidade até o momento. O banco também repudiou as afirmações de que tornara “públicos” os dados bancários de Toledo. Além de ser responsável pelo sistema de segurança que garante a preservação do sigilo das informações do banco, Lot é uma testemunha importante por ser ligado a outro personagem de destaque na trama de intrigas no BB e na Previ: Ricardo de Oliveira, o discreto vice-presidente de Governo do Banco do Brasil, acusado de ter vazado os dados de Toledo.

Conhecido como Gordo, Oliveira ganhou influência no governo ao se aproximar de uma ex-assessora do presidente Lula em São Paulo, Rosemary Noronha. Oliveira também tem a simpatia do secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, e do próprio ministro Mantega. Atribuem-se ao Gordo a indicação e a sustentação de Bendine na presidência do banco. A força de Oliveira é tão grande no banco que ele costuma entrevistar os candidatos aos melhores cargos do BB. Com tanta influência, ele ganhou também alguns inimigos importantes – principalmente entre alguns líderes do PT que perderam espaço na administração do banco. Um exemplo desse descontentamento de parte do PT com a gestão de Bendine e Oliveira ocorreu em fevereiro. O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT), suspendeu uma sessão da Casa em protesto por não ter sido contemplado na nomeação de um apadrinhado para um posto de destaque no banco.

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A ingerência de alas do PT no comando do Banco do Brasil e na Previ é antiga. Por muito tempo, a Previ foi comandado por um petista – o ex-sindicalista Sérgio Rosa. A saída de Rosa do comando da Previ, em 2010, desencadeou as atuais desavenças. Em meio à pressão do PT para continuar no comando da Previ, o preferido de Bendine para o cargo era um dos vice-presidentes do banco, Paulo Rogério Caffarelli, que atualmente substitui Toledo na vice-presidência de Negócios Internacionais. Citado num dossiê que o envolveu com denúncias de favores concedidos a uma das filhas de Mantega, Marina, Caffarelli viu suas chances de assumir a Previ diminuir. Quem acabou assumindo o comando do fundo foi o vice-presidente de Crédito, Ricardo Flores – com o apoio do ex-presidente Lula, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e do secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.

A fim de se fortalecer na presidência da Previ, Flores buscou aproximar-se do ex-deputado José Dirceu e do presidente do Congresso, o senador José Sarney (PMDB-AP). Também passou a agradar a Mantega. Com a eleição de Dilma, Bendine passou a dar sinais de apreensão. No ano passado, ele flertou com a possibilidade de assumir a presidência da Vale. Para isso, esperava contar com o apoio de Flores, porque a Previ é a principal acionista da Vale. Os planos de Bendine foram frustrados. Diante da resistência do Bradesco, outro importante acionista da Vale, ao nome de Bendine, Flores resolveu apoiar a chegada de um funcionário antigo da companhia, Murilo Ferreira, à presidência da empresa. O clima entre Bendine e Flores azedou.

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Nesse ambiente de balcanização, Mantega precisará mostrar força, enquanto as encrencas se acumulam. Uma bem difícil é seu relacionamento com o secretário executivo, Nelson Barbosa, o presidente do Conselho de Administração do Banco do Brasil. Desde a campanha eleitoral de 2010, quando Dilma encomendou a Barbosa a confecção do plano econômico do governo, Mantega tem manifestado incômodo com a atenção dispensada por Dilma a seu secretário executivo. Dilma também confiou a Barbosa a condução do importante projeto que cria o fundo de pensão dos servidores públicos, aprovado na semana passada pela Câmara dos Deputados. Os atritos entre Barbosa e Mantega chegaram ao ápice recentemente, quando Mantega deixou Barbosa fora das discussões sobre o corte no Orçamento para 2012, episódio inimaginável, dado o funcionamento do Ministério da Fazenda. Mantega enfrenta ainda uma questão pessoal gravíssima – sua mulher se trata de um câncer –, que tem contribuído para inflar o nome de Barbosa nas bolsas de apostas e especulações.

A demissão de Luiz Felipe Denucci da presidência da Casa da Moeda no fim de janeiro trouxe outro problema para Mantega. Ele foi acusado de manter Denucci no cargo por mais de um ano, ignorando uma denúncia antiga de corrupção. Pressionado a dar explicações, Mantega foi pouco hábil politicamente. Pôs a culpa da nomeação de Denucci no líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO). Ficou evidente que Mantega não tinha o controle político do cargo. Parlamentares do PT fizeram um contorcionismo para evitar sua ida ao Congresso e livrá-lo das perguntas sobre a Casa da Moeda. Agora, não tem mais jeito. Até a metade do mês, Mantega comparecerá a uma comissão do Senado. Certamente será indagado sobre as confusões envolvendo o Banco do Brasil e a Casa da Moeda. Chegou a hora de ele provar que pode transitar tanto pelo intrincado universo das crises financeiras internacionais quanto pelos choques planetários entre seus subordinados.

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Na Istoé, “Mantega, o pacificador”:

Na quarta-feira 29, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, depois de participar de uma reunião com a presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto, na tarde do dia anterior, entrou em seu gabinete mais apressado do que o usual. Logo que chegou, disparou três telefonemas urgentes. Os primeiros a receber a ligação de Mantega foram o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, e o da Previ, Ricardo Flores, que nos últimos dias haviam sido levados ao centro de uma polêmica envolvendo uma disputa política nas duas instituições. O ministro foi claro. Disse a ambos que caberia a eles agir com bom-senso e pôr fim a uma pendenga que se tornava pública e ameaçava atrapalhar o bom desempenho tanto do BB quanto da Previ. Aos interlocutores, Mantega afirmou que não haveria outro caminho que não o da pacificação. A mesma orientação foi transmitida ao vice-presidente da área de governo do BB, Ricardo Oliveira. “Essa situação tem de acabar. A atuação dessas instituições não foi prejudicada até agora. E o governo quer um fim nisso logo”, afirmou o ministro. Mantega costuma falar pelo menos duas vezes por semana com os diretores do Banco do Brasil e da Previ, subordinados a ele. Mas o telefonema da quarta-feira 29 foi diferente. A conversa foi mais rápida que as de costume e nem um pouco técnica. A missão de Mantega era dar um basta à contenda política. E assim o fez, conseguindo dissipar as preocupações do Palácio do Planalto com um possível desgaste tanto do BB como da Previ, instituições estratégicas para a política econômica do governo.

Bendine e Flores chegaram aos cargos que ocupam em razão de competências técnicas. Mas, como ocorre em toda administração pública, a participação de agentes políticos acaba muitas vezes se sobrepondo às questões administrativas quando se trata da ocupação de postos estratégicos. Nesse sentido, as diferenças entre os agentes ligados a Bendine e a Flores não são recentes. Em abril de 2009, quando Antônio de Lima Netto deixou a presidência do BB por resistir à redução dos juros, os dois eram candidatos ao cargo e também Ricardo Oliveira. Com o apoio de Mantega, o presidente Lula optou por Bendine, e escolheu Flores para a presidência da Previ, o maior fundo da América Latina, hoje com patrimônio de R$ 153,8 bilhões. Logo os petistas ligados ao ex-presidente da legenda Ricardo Berzoini se aproximaram de Flores. Oliveira ganhou a vice-presidência de governo do BB, cuja principal atribuição é o lobby no Congresso, e reforçou sua ligação com o secretário da Presidência, Gilberto Carvalho.

O primeiro movimento que colocou em campos opostos os grupos que se aproximaram de Bendine e de Flores aconteceu durante a sucessão de Roger Agnelli no comando da Vale. Como presidente da Previ, Flores tem assento no Conselho de Administração da mineradora e Bendine contava que o colega de banco e Oliveira apoiassem seu nome para a vaga de Agnelli, o que não ocorreu. Depois disso, questões administrativas fizeram com que do fim do ano passado para cá fossem afastados 13 diretores do BB a fim de que fosse mantida uma política implantada desde que Bendine assumiu o comando do banco. Na ocasião, o BB havia sido superado pelo Itaú e deixara de ser o maior banco do País pela primeira vez em sua história. Bendine deu a volta por cima e repôs o banco no seu lugar hegemônico em plena crise financeira mundial. Em 2011, o BB registrou o maior lucro de sua história: R$ 12,1 bilhões. Nos bastidores, lideranças partidárias próximas de Flores creditaram os afastamentos a uma retaliação feita por gestores próximos a Bendine.

Flores também acertou à frente da Previ. Não teve dúvida em engajar o fundo de pensão nas obras do PAC e nos grandes projetos de infraestrutura do governo, contribuindo para a ação anticíclica da política econômica. “As duas instituições estão funcionando muito bem. Isso é que é importante para o governo. O BB tem um desempenho excelente, aumentando o crédito, reduzindo os juros, com rentabilidade elevada. A Previ também tem rendimentos excepcionais, participando dos grandes projetos”, ressalta Mantega. Exatamente porque o BB e a Previ vêm cumprindo seu papel, a presidenta Dilma ficou profundamente irritada com o noticiário de que haveria uma disputa política envolvendo as duas instituições. A revelação de que o ex-vice-presidente do BB havia feito movimentações atípicas em sua conta bancária foi a gota-d’água para que a presidenta escalasse Mantega a fim de pacificar a situação. Petistas e peemedebistas de diversos escalões viam nas intrigas de bastidores a oportunidade de ocuparem novos espaços, mas Mantega colocou água na fervura e mostrou ao Planalto que não houve nenhum vazamento de sigilo bancário. Também ficou claro que a disputa de bastidor não irá abalar a gestão de Bendine. A presidenta só tem feito elogios ao presidente do BB e sua condição no governo nunca foi tão segura. “Essa é uma crise de fofocas. E a questão é difícil de identificar porque ninguém assume a responsabilidade pelas fofocas que estão sendo colocadas”, explicou Mantega. Por recomendação do ministro, os principais envolvidos – Bendine, Flores e Oliveira – emudeceram. É prudente que permaneçam em silêncio. “Dilma não quer mais saber de intrigas envolvendo o Banco do Brasil e a Previ”, afirma uma fonte do Palácio do Planalto.

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