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Entrevistas

Ivanir dos Santos: precisamos de representatividade religiosa no Congresso, não de um grupo fundamentalista

À TV 247, o babalorixá e professor de História revela ter sido traído por Cabo Daciolo e critica falas racistas de Ciro Gomes

Ivanir dos Santos (Foto: Reprdução/Facebook)
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Por Ricardo Nêggo Tom - Um dos principais alvos do projeto de poder político evangélico neopentecostal são as religiões de matriz africana, que historicamente sofrem com a demonização do seu culto e com o racismo religioso praticado contra os seus adeptos. Em um estado dito laico, é preciso que todas as religiões sejam respeitadas e estejam representadas no ambiente social e político desse estado.

Em entrevista ao programa Um Tom de resistência, na TV 247, o professor Ivanir dos Santos, sacerdote candomblecista e doutor em História comparada da África pela UFRJ, entende que “é importante termos diversidade nos parlamentos”. “Isso quer dizer ter mais presença de mulheres negras, homens negros e religiosos tanto de matriz africana, como judeus e muçulmanos. Mas não apenas como religiosos, e sim como pessoas que têm uma agenda civil, que se preocupam com as liberdades individuais, com a democracia, com o estado laico e com a promoção da diversidade. Não podemos confundir representatividade religiosa com pessoas que querem defender uma pauta religiosa no parlamento. Principalmente, quando um grupo fundamentalista religioso pretende capturar o estado para si. Essa diversidade representativa precisa tratar de vários temas, seja nas esferas sociais, culturais, educacionais, econômicas, políticas, e, talvez, espirituais. Isso não significa que o cara vai lá fazer um ebó no Congresso ou na Assembleia Legislativa. Esses espaços não foram feitos para isso”.

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Na luta por essa representatividade política, o babalorixá foi pré-candidato ao Senado pelo PDT do Rio de Janeiro, mas viu sua candidatura ser preterida pelo partido, que lançou o evangélico Cabo Daciolo como legenda. “Se houve preconceito religioso, cabe ao partido explicar”, disse Ivanir dos Santos, quando perguntado sobre o tema.

O babalorixá revela que foi traído por Cabo Daciolo, que havia se comprometido anteriormente a abrir mão de sua candidatura em favor de Ivanir. “No ano passado eu havia proposto uma candidatura ao Senado compartilhada, que seria eu, o rabino Nilton Bonder e o Kléber Lucas. Mas a proposta não foi ouvida. Um certo dia, eu me encontrei com o Daciolo, que seria candidato ao Senado por São Paulo. Porém, chegando lá já tinha o Aldo Rebelo e ele volta para o Rio de Janeiro, se filia ao partido no aeroporto e se coloca como candidato. Na imprensa isso foi colocado como uma disputa religiosa dentro do partido, o que fez o Daciolo postar no Twitter que abriria mão da candidatura e me apoiaria. Ele me procurou pessoalmente e me deu um beijo no rosto, reafirmando o seu apoio à minha candidatura. O que não aconteceu. E a executiva do partido optou pela candidatura dele”.

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Lupi e Ciro Gomes

“O que é importante dizer é que não estamos falando de um partido qualquer. Estamos falando do partido de Leonel Brizola, de Abdias Nascimento, de Caó (Carlos Alberto Caó de Oliveira), de Edialeda (Salgado do Nascimento), um partido que tem a questão racial como o 4º compromisso estatutário do partido. Nas eleições de 1982, o Brizola foi o primeiro político brasileiro a dizer que no seu governo os negros seriam secretários de Estado e os favelados seriam tratados como cidadãos. A partir disso, no início do ano passado, vieram à minha casa o Brizola Neto e o Carlos Lupi me convidando para ingressar no partido e fazer uma disputa majoritária pela legenda. O Lupi me disse que eu tinha muito a contribuir com o partido, devido a minha história de militância ligada aos direitos humanos, os direitos da criança e do adolescente, à questão racial e na luta contra a intolerância religiosa. E me chamou para um projeto nacional dentro do partido, que seria a minha candidatura ao Senado”.

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Ivanir dos Santos diz que Ciro Gomes, candidato do PDT à presidência da República, esteve em sua casa convidando-o para ser o coordenador de sua campanha na área de direitos humanos e questões raciais, o que também não se concretizou. “É importante deixar claro que não estou coordenando essa área na campanha do Ciro, porque entendo que fazer um programa de governo é algo coletivo. E não dá para fazer isso com um candidato que não escuta ninguém”.

O professor também criticou algumas falas de Ciro em relação às políticas de inclusão social para minorias e descartou o seu apoio ao candidato pedetista. “Quando ele disse que é ‘mi mi mi’ políticas para negros, LGBTQIA+, mulheres, eu já me senti desautorizado. Como eu poderia coordenar um programa de governo para um candidato que diz que esse tipo de política não é séria? Depois, teve a fala dele no debate com relação à África (Ciro disse que o Brasil não é o ‘fundão da África’). Não conhece nada de África para falar o que falou. Isso apenas traz mais preconceito contra os afrodescendentes e a sua cultura religiosa. Reforça a ideia de que a África não tem humanidade, não tem religião, não tem civilização, não tem cultura. Por trás desse tipo de comparação existe uma visão extremamente iluminista. É o mesmo que ocorre quando ele fala em relação à favela, durante uma palestra para o meio empresarial. O que para mim foi pesaroso, porque eu recebi o Ciro Gomes na Mangueira, onde eu nasci na favela do esqueleto e ainda moro na comunidade. Muita gente pediu para que eu me posicionasse após essas falas dele. E eu tenho me posicionado, porque sou ligado à causa e tudo que atinge à nossa luta nós temos que nos colocar”.

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