A surpresa dos multimercados

Luciane Macedo _247 - Apesar da aversão ao risco em alta, que tirou o sono dos investidores ao longo do ano, levando grande parte deles a encerrar posições em renda variável e a privilegiar a renda fixa, os fundos multimercados tiveram, nos últimos 12 meses, rentabilidades tão boas ou superiores aos fundos de renda fixa. Na avaliação de especialistas, o desempenho dos multimercados, de um modo geral, deve-se às próprias características desses fundos e à capacidade dos gestores para lidar com o cenário de volatilidade. Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), duas categorias de multimercados, juros e moedas e trading, destacaram-se com rentabilidades acumuladas superiores aos fundos de renda fixa no acumulado de 12 meses até novembro. Outras quatro modalidades tiveram rentabilidades inferiores, mas, ainda assim, acima dos principais indicadores.

"Os multimercados são os produtos mais completos da indústria de fundos por causa da diversidade de estratégias que proporcionam ao gestor", avalia José Eduardo Louzada, sócio da GAP Asset Management. "Mesmo em ambiente difícil, como foi o caso este ano, os gestores têm mais flexibilidade para gerar retorno aos cotistas em vários mercados". Para Louzada, a captação negativa dos multimercados reflete um movimento natural de investidores que preferiram se refugiar na segurança da renda fixa. "'Por que correr risco se a renda fixa está rendendo mais?' O investidor pensa no curto prazo", avalia André Paes, diretor de Estratégias e Produtos e gestor de Renda Variável da Infinity Asset Management. "Mas os gestores se adaptam, com novas estratégias, e as rentabilidades dos multimercados estão perto do CDI ou acima", completa Paes. "Com os juros em queda, quem só aplica em renda fixa vai ganhar menos, e esse investidor vai buscar outras oportunidades", observa Louzada. "A escolha vai depender do apetite para o risco de cada um, mas os multimercados estão aí para isso, para preencher esse espaço entre a renda fixa e o mercado de ações".

Nem todas as categorias de fundos multimercados têm renda variável na composição da carteira, embora os gestores possam aplicar em vários ativos, entre eles juros, dólar, commodities, títulos públicos e ações. Algumas categorias permitem, inclusive, alavancagem, aumentando a possibilidade de ganhos, mas também de riscos. Cabe ao gestor analisar o contexto e compor a carteira, segundo as regras de cada fundo, com os ativos e combinações mais apropriados.

"Os multimercados não podem ser analisados em horizontes muito curtos, especialmente em cenários muito voláteis, porque os próprios gestores reduzem um pouco o risco da carteira", observa Louzada. "Se o gestor entende que o ambiente é volátil, de difícil leitura, e o nível de incerteza é muito alto, é natural que fique quieto", assinala o sócio da GAP Asset Management. "Se o gestor não reduz o risco no momento certo, então está ganhando taxa de administração para quê? Diminuir o risco também é parte de uma gestão prudente e responsável". Para Louzada, os multimercados devem ser cotejados sempre com vistas ao investimento de longo prazo, com uma boa casa gestora, e procurando uma relação entre risco e retorno que seja compatível com o perfil e objetivos do investidor. Paes concorda que é importante para o investidor saber diferenciar as estratégias dos fundos multimercados em suas várias categorias.

"Os multiestratégias têm as estruturas mais completas para uma boa performance da gestão, e é isso que vai fazer diferença para o cotista no longo prazo", orienta Louzada. "O ideal é que o investidor escolha uma boa casa de gestão e monte uma carteira de longo prazo que ele possa mexer o mínimo possível", assinala o sócio da GAP Asset Management. "É melhor investir nessas escolhas do que fazer movimentos baseados na emoção, nos ciclos de mercado no curto prazo ou agir impulsivamente".