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Enchentes castigam fortemente Montenegro

Depois de São Sebastião do Caí, foi a vez do município de Montenegro decretar situação de emergência em função das chuvas dos últimos dias; a cidade estima que os prejuízos cheguem a R$ 6 milhões; até a tarde de quarta, a defesa civil da cidade calculava que 180 pessoas tenham ficado desabrigadas. Amorete Tavares, coordenador da defesa, estima que 30% da cidade esteja debaixo d’água.; prejuízos com enchente que atingiu Montenegro irão superar aos 2,77% da receita corrente líquida do município

Depois de São Sebastião do Caí, foi a vez do município de Montenegro decretar situação de emergência em função das chuvas dos últimos dias; a cidade estima que os prejuízos cheguem a R$ 6 milhões; até a tarde de quarta, a defesa civil da cidade calculava que 180 pessoas tenham ficado desabrigadas. Amorete Tavares, coordenador da defesa, estima que 30% da cidade esteja debaixo d’água.; prejuízos com enchente que atingiu Montenegro irão superar aos 2,77% da receita corrente líquida do município (Foto: Leonardo Lucena)
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Rodrigo Azevedo, Sul 21 - Depois de São Sebastião do Caí, nesta quarta-feira (19) foi a vez do município de Montenegro decretar situação de emergência em função das chuvas dos últimos dias. A cidade estima que os prejuízos cheguem a R$ 6 milhões. Até a tarde de quarta, a defesa civil da cidade calculava que 180 pessoas tenham ficado desabrigadas. Amorete Tavares, coordenador da defesa, estima que 30% da cidade esteja debaixo d’água. Quatro escolas fecharam as portas – 340 alunos ficaram sem aulas. Dois postos de saúde, que atendem diariamente uma média de 100 pessoas, também foram inundados. A Câmara Municipal, que fica na beira do rio, está fechada desde terça-feira.

Os prejuízos com enchente que atingiu Montenegro irão superar aos 2,77% da receita corrente líquida do município. De acordo com a legislação, esse percentual é um dos critérios de concessão do recurso emergencial da União. Além disso, caso haja de uma a nove instalações públicas de ensino ou saúde danificadas, o município também pode emitir o decreto. Ambos os requisitos se encaixam nos desastres de nível 1, de acordo com a lei que define a cessão de verbas de emergência.

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Tragédia anunciada

Quando a enchente cobriu a cidade vizinha de São Sebastião do Caí, os moradores já começaram a se preparar para mais um alagamento. E não deu outra. Menos de 24 horas depois de as águas tomarem São Sebastião, a cheia do rio Caí inundou rapidamente quatro bairros de Montenegro: Industrial, Municipal, Ferroviária e Olaria – todas regiões consideradas mais pobres. O nível do rio na cidade do Vale do Caí chegou aos 6,27 metros, segundo a defesa civil municipal – quase três vezes mais do que o normal. A defesa civil estadual, no seu site, chegou a informar que o nível, às 7h desta quarta-feira, havia chegado aos 8,58 metros.

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Vinte famílias foram retiradas de casa até a tarde de quarta-feira. Os desabrigados estão no ginásio do Azulão, que fica dentro do Parque Centenário, região mais afastada do centro da cidade. Este número ainda pode aumentar, já que a chuva continuou ao longo da quarta-feira e o trabalho de resgate da defesa civil e do corpo de bombeiros permanece nos bairros atingidos pela cheia. A defesa civil diz que há pessoas que foram para casas de parentes ou amigos. Ao todo, a estimativa é que 180 pessoas tenham sido atingidas. Apesar dos grandes estragos materiais, ninguém se feriu até o momento.

Outra zona de risco em Montenegro é o bairro Bela Vista. O local fica na encosta de um morro. Em dias ininterruptos de chuva, é comum a ocorrência de deslizamento de terra. Até a tarde desta quarta-feira, nenhuma ocorrência havia sido registrada e nenhuma das 400 pessoas que vivem no local tiveram de ser retiradas.

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Apesar das goteiras e da falta de luz, elogios ao atendimento

Alojadas no ginásio do Azulão, vinte famílias aguardam ansiosas pelo retorno para casa. Ninguém sabe afirmar em que situação vão encontrá-las – e a previsão é pouco animadora. “Devo ter perdido todos os móveis e eletrodomésticos”, suspeita Iasmin Pinheiro, 23 anos, moradora do bairro Industrial. Nas situações de cheia do Caí, a região é sempre uma das mais atingidas. A maior parte das famílias desabrigadas são desta localidade, uma das mais pobres do município de 63 mil habitantes. Ao lado dos dois filhos, um menino de um e uma menina de seis anos, Iasmin diz que, quando alugou a casa onde reside, a proprietária lhe disse para não se preocupar com alagamentos. “Não deveria ter dado ouvidos à ela”, desabafa de forma bem-humorada a jovem, que trabalha como atendente de padaria.

Iasmin está desde terça-feira à noite no Centenário, acompanhada das irmãs e da mãe, Adriana Pinheiro. A diarista de 46 anos já está calejada das cheias. Perdeu as contas de quantas vezes teve de sair de casa. Adriana, que mora em frente à casa de Iasmin com dois filhos e os pais, abandonou a residência na terça à tarde. Mesmo com a água devendo estar agora “quase no pescoço”, seus pais não arredaram pé. O casal de idosos, a mãe de 74 e o pai de 85 anos, permanece na casa. Segundo Adriana, eles levantaram os móveis e eletrodomésticos para tentar salvá-los, mas devem perder vários bens. Adriana diz que os dois não saem de jeito nenhum de lá. Preferem ficar debaixo d’água, à luz de velas, do que migrar para o abrigo.

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Os filhos e netos de Adriana estão todos juntos em uma das cabanas improvisadas com lona preta dentro do ginásio. Apesar das dezenas de goteiras e da falta de luz que atinge o local desde a noite de terça-feira, ela diz gostar do tratamento oferecido pela prefeitura. “Disso não podemos reclamar, eles nos dão tudo”. As famílias recebem quatro refeições ao longo do dia, além de lanches oferecidos esporadicamente. Há banheiro coletivo e chuveiros para tomar banho.

Dezenas de crianças correm e se divertem pelo largo ginásio, alheias ao momento de dificuldade. “A verdade é que já estamos acostumados com isso”, conforma-se Adriana, segurando um dos dois cachorros levados para o abrigo. “Tenho que mantê-los presos aqui senão me xingam”, brinca. A expectativa da família Pinheiro é de voltar para casa somente na semana que vem, entre quarta ou quinta-feira. “Mas o importante é que estamos bem e com saúde, poderia ser muito pior”, analisa.

A cerca de quatro metros, em uma cabana um pouco menor, está abrigada a família do frentista desempregado Luís Cláudio de Vargas, 51 anos. Também morador do bairro Industrial, ele diz que mora há dez anos no local e já teve de abandonar a casa, no mínimo, uma vez a cada ano. “Dessa vez, minha despesa deve passar dois R$ 2 mil”, calcula Vargas. Alessandra Pinheiro, 37, esposa de Vargas, lamenta mais uma enchente na cidade. “Não tivemos nem tempo de salvar os móveis quando passaram para nos retirar”. O casal está no abrigo com uma filha de dois meses e um de seis anos. “Graças a Deus, nada aconteceu com nossos filhos”, agradece Vargas.

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Segundo o casal, o nível da água dentro da casa já deve estar em 40 cm. Eles acreditam que possam voltar para o lar até sábado, mas dependem da previsão do tempo. “Pode baixar até sexta-feira. Mas, se voltar a chover nos próximos dias, vai encher de novo logo em seguida”. A previsão do tempo para a cidade, segundo o site Climatempo, é de que a chuva de uma trégua a partir desta quinta-feira. É o que as mais de 70 pessoas desabrigadas esperam para poder voltar para casa e calcular os prejuízos.

“Metade da cidade vai estar parada, e nós achamos normal”

Era perto das 21h de terça-feira quando a professora estadual Luísa Reinaldo, junto do marido, levava a filha de sete anos para olhar a água que avançava lentamente em direção ao centro de Montenegro. A família foi mostrar para a criança o quinto alagamento de grande proporção nos últimos 15 meses. “O pessoal aqui já está acostumado com isso”, afirma com voz conformada Luísa, de 33 anos, natural da cidade. “Amanhã, a escola onde trabalho vai estar fechada, assim como o colégio da minha filha”. Quando há enchentes em que o rio ultrapassa os 5 metros, metade do município para de funcionar.

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“É o que dizem por aqui: o tempo que a água leva para chegar até aqui, ela leva o dobro para sair”, parafraseia Marco Aurélio Seelig, morador da rua João Pessoa, no centro da cidade. Engenheiro civil aposentado, Seelig mora há 31 anos no local e afirma que essa é uma das piores enchentes que já viu. “Não foi pior que a de 2011, porém, quando a água por puco não avançou dentro da minha casa”. A residência de Seelig fica a duas quadras da sede da prefeitura.

Ele diz não se importar com as constantes enchentes. Na noite desta terça-feira, inclusive, estava com um dos filhos na frente de casa. Seelig, com uma taça de vinho na mão, mostrava ao filho o poder da água. O menino, extasiado com a cena inédita, gritava: “Essa água vai entrar na minha casa!”. Ao que o pai respondia: “Fica tranquilo, meu filho. Não é para tanto”. Seelig, apesar da tranquilidade para lidar com o fenômeno, admite que, se um dia a água invadir a sua casa, vai procurar outro lugar para morar.

A família de Aldo Klaus também tirou um tempo da noite de terça-feira para presenciar a inundação do centro da cidade onde mora há 49 anos. Assim como a esposa e a filha, Klaus estava conformado com a situação. Para ele, não há o que fazer contra as enchentes que atingem o município quase todo ano. “Falam em dique, em cavar canal para dispersar a água: nada disso vai adiantar”, analisa o morador da Bela Vista. “E o mais engraçado é que os imóveis daqui são mais valorizados do que em outras regiões da cidade”, compara o serralheiro.

A área onde Klaus e a família vivem é outra área de risco da cidade. Localizada em uma encosta de morro, a região sofre com deslizamentos de terra e queda de árvores em dias de precipitação. Com a chuva dos últimos dias, chegaram a ocorrer alguns episódios de deslizamento, mas longe de onde moram cerca as 400 pessoas do bairro.

Comércio registra forte queda

O prejuízo com a enchente em Montenegro não se restringe às famílias que deixaram suas casas. O comércio e serviços, principais atividades econômicas do município, também sofrem um forte impacto.

O vendedor Adriano Perreira, 35 anos, natural de Montenegro, já está resignado. No fim de tarde desta terça-feira, quando a água do rio começou a transbordar, nenhuma pessoa entrou na loja onde trabalha no Centro. Pereira, acostumado com o fenômeno – no ano passado, a cidade passou por quatro situações semelhantes -, conformou-se: “Quando percebi que não tava vindo ninguém, pensei: ‘o alagamento começou’”. Por volta das 20h de terça-feira, o nível do Caí havia tingido um dos maiores patamares já vistos na cidade – 6,20 metros, de acordo com a defesa civil municipal. A altura é quase três vezes maior do que o normal. Em dias sem chuva, o nível não passa de 2,20 metros. Na quarta-feira, Perreira projetava a metade do movimento habitual. “Metade da cidade vai estar parada”.

Proprietário de uma pizzaria na região central de Montenegro, Fabrício Lauer, 43, estava inquieto dentro do restaurante. Eram 20h30, horário de pico de movimento em dias normais. Mas na última terça-feira, com a água a poucos centímetros de invadir o hall de entrada, o movimento era muita abaixo do esperado. “Abrimos hoje mais para monitorar até onde a água pode chegar”, afirmou Lauer na quarta.

Segundo ele, em dias como este, o movimento cai em 70%. “Só hoje (terça-feira) estou sem quatro funcionários, todos eles que estão ilhados em casa e não puderam vir”, diz. Apesar da enchente dificultar a entrada dos clientes – a equipe do restaurante improvisou uma “ponte” com caixas de cerveja para o acesso -, Lauer diz que já viu coisa muito pior. “Acho quem em 2011 a água foi restaurante a dentro”, lembra. Acostumado com a situação, o empresário já criou até um sistema de proteção contra a água. Ele confeccionou placas de isopor que, em dias de enchente, impedem a entrada de água dento da cozinha e do local onde ficam as mesas. “Temos que nos virar”, desabafa.

Há quem leve alguma vantagem até mesmo em situações de enchente. É o caso de Clarito Chiesa, 54 anos, dono de uma churrascaria no centro da cidade. Aberto somente para o almoço, o restaurante chega a ter um aumento de clientes em dias de alagamento. Segundo Chiesa, o motivo é a junção de curiosos que vão ao local para assistir à enchente. Geralmente, o entorno do restaurante torna-se uma espécie de mirante em direção às ruas que ficam tomadas pela água.

Há cinco anos, Chiesa e a família elevaram o piso da churrascaria. Foi a maneira encontrada para driblar os frequentes alagamentos e para que a água não chegasse até a sua própria casa, já que a família mora nos fundos do restaurante. “Contra a natureza não tem o que fazer, já estamos acostumados”.

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