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Lula diz que transformou o combate à fome em profissão de fé

Em sua volta a Altos, no Piauí, 21 anos após as Caravanas da Cidadania, Lula lembra a cena que o levou a estabelecer uma meta para seu governo: que todos os brasileiros pudessem fazer pelo menos 3 refeições por dia; leia a reportagem de Cláudia Motta, na Rede Brasil Atual

Em sua volta a Altos, no Piauí, 21 anos após as Caravanas da Cidadania, Lula lembra a cena que o levou a estabelecer uma meta para seu governo: que todos os brasileiros pudessem fazer pelo menos 3 refeições por dia; leia a reportagem de Cláudia Motta, na Rede Brasil Atual (Foto: Leonardo Attuch)
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Por Cláudia Motta, na Rede Brasil Atual

Teresina (PI) – Para se compreender do que trata a Caravana Lula pelo Brasil é preciso sair da zona de conforto que domina o cotidiano. Todos os que tiverem dificuldade de se colocar no lugar de alguém que vive a dor de ver um filho não ter o que comer, o que calçar, onde morar, podem fazer esse exercício e imaginar qualquer uma das pessoas que ama nessa mesma situação.

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Percorrendo o Nordeste brasileiro desde 17 de agosto, quando saiu de Salvador, a comitiva já passou por mais municípios do que os 28 previstos na agenda inicial, em grandes atos ou pequenas paradas para debater com o povo como está a vida daqueles que foram os principais beneficiados pelos programas sociais dos governos petistas.

Se muito foi feito, o ex-presidente descobre também que ainda há muito por fazer. Na carta escrita por Maria Letícia da Cruz Silva, de 10 anos – que um vereador de Altos se comprometeu a entregar a Lula, no ato realizado na manhã deste domingo (3) no município de 40 mil habitantes – está a esperança de realizar o sonho da casa própria. A mãe, Maria Divina, conta que não conseguiu fazer a inscrição no Minha Casa Minha Vida, porque não tinha certidão de casamento. A burocracia exigia dela um documento que ela e o marido Francisco das Chagas não tinham, já que se casaram somente na igreja.

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Letícia, Francisco e Maria Divina: falta de certidão de casamento dificultou inscrição em programa habitacional

Letícia conta que moram numa casa da Taipa, que uma parede já caiu e a outra quase destruiu a televisão. “No frio, tenho até medo de ficar lá.” O maior sonho da menina é o mesmo da mãe, para poder levar as amigas de escola para fazer os trabalhos na sua própria casa. Hoje sente vergonha de convidá-las.

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Os olhos ternos de Maria Divina se enchem d’água e Letícia abraça a mãe, acarinhando seus cabelos. “Trabalho como doméstica, não sou registrada. É pouco o que a gente ganha, mas tudo que recebo vai para ela, para pagar o reforço escolar, porque quero que tenha direito a uma vida muito melhor que a minha.”

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Francisco Chagas chega e abraça “suas meninas”, orgulhoso. “São meu tesouro.”

A razão que faz com que Maria Divina não seja registrada pelos patrões pode estar na mesma raiz do ódio a Lula e que a professora Ana Cristina explica, com propriedade. Ela estava no Ginásio Poliesportivo para o ato Mais Habitação, Mais Cidadania, em Altos – onde o ex-presidente recebeu o título de cidadão –, com outras três irmãs e a mãe Maria das Neves, de 79 anos. “Ela que quis vir.”

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Casa de Francisco Chagas: sonho da casa própria ameaça ruir; Minha Casa Minha Vida é esperança da família

Ministrando aulas no município e no estado há 17 anos, Ana Cristina conta que quiseram ver Lula porque acreditam que ele foi único presidente que realmente trabalhou pelo povo. “E acreditamos também que tudo isso que está acontecendo com ele é mais uma armação da elite brasileira, em prol da derrota não do Lula, mas do povo. Porque o que a gente está vendo hoje é o povo padecendo”, aponta. O governo que está no poder agora, de forma irregular, não está olhando para a população, mas para os empresários, enfim, para a elite brasileira. O Brasil sempre foi governado por elites. Quando chegou um governo de fato popular, que olhou pelo povo, pelos mais pobres, a elite se mobilizou para fazer com que esse governo saísse do poder e desse abertura novamente para a elite reinar. Então, eu e minha família somos contra injustiças. Estamos aqui para dizer que estamos com Lula e se quiser vir novamente em 2018, votaremos nele.”

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As razões que moveram dona Maria das Neves a sair de casa sob um calor de 34 graus são lembranças de tempos muito duros. “Quem é que podia ter uma chinela dessa”, disse, mostrando os pés calejados. “Quem é que podia morar numa casinha de telha? Era tudo muito difícil”, lembra. “Lula facilitou e, sem ele, a gente não sabe o que vai fazer. Agora, só piora pro pobre.”

Bagaço da laranja

Os tempos do Brasil da miséria e da fome já assombram esses rincões nordestinos. O país, que foi elogiado pela Organização das Nações Unidas (ONU) por seus programas contra a pobreza – o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Piauí subiu de 0,484 a 0,646, entre 2000 e 2010 –, agora volta para o Mapa da Fome.

E as lembranças desse tempo são muito doídas para o ex-presidente que viveu na pele tudo isso. Em seu discurso em Altos, Lula se emocionou ao ver imagens suas num banner gigante que tomava conta do palco. Eram fotos da visita a Altos, em 1982. Lula era candidato a governador no estado de São Paulo e percorria o país reforçando as candidaturas locais. “E a minha campanha lá parada em São Paulo. Mesmo assim ainda tive uns 10% de votos.”

Conta que estava com sede, embaixo de um sol de meio-dia. “Era muito calor e tinha um cidadão com uma maquininha descascando laranja e eu mandei comprar meia dúzia. Parti no meio, comecei a chupar a laranja e jogava fora o bagaço. Quando eu vi, tinha umas crianças pegando e comendo o bagaço da laranja. Esse é um exemplo que eu carreguei por muito tempo. E eu passei a questionar se era possível a gente, num país com 8,5 milhões de quilômetros quadrados, com potencial de produção de alimentos inestimável, que detém gente com vontade de trabalhar, se era possível uma mulher ir deitar de noite vendo seus filhos com fome, e essa mulher levantar de manhã e não ter um copo de leite para dar para os filhos”, recorda.

“Aquilo eu transformei quase que numa profissão de fé para poder provar à elite brasileira – que tem gente boa e tem gente perversa demais – que se cada mulher, cada homem, cada criança pudesse tomar café da manhã, almoçar e jantar antes de dormir, eu teria realizado a obra da minha vida”, disse, mencionando trecho do seu discurso quando foi eleito pela primeira vez presidente da República, em 2002.

“Tinha gente que achava pouco, certamente nunca passaram fome. Porque a fome é uma coisa que não pode esperar o governo seguinte, o ano seguinte, a década seguinte. Ou a pessoa come e consome as calorias e proteínas necessárias, ou vai ter sequelas.”

O que Lula sabe, o povo mais sofrido do Nordeste também sabe. E deve ser essa a razão que tem levado multidões a enfrentar o calor e sol forte, em todos esses 18 dias da caravana – que se encerra na terça-feira (5), em São Luiz do Maranhão: ouvir uma palavra de fé e esperança do “único que já olhou por essa gente”, lembra Maria Divina.

Ato em Timon

A agenda de atividades públicas de Lula neste domingo encerrou-se por volta das 19h, após participar de um ato na cidade de Timon, no Maranhão, a apenas 13 quilômetros da capital piauiense de Teresina. O evento contou com nomes da política local de diferentes partidos, como o governador do Piaui, Wellington Dias (PT), e o deputado federal Waldir Maranhão (PTdoB). "É sempre gratificante quando recebemos o título de cidadão de uma cidade, qualquer seja o tamanho dela. Significa o reconhecimento por algo que o condecorado fez", disse após ser apresentado como "o presidente de todos os brasileiros".

"Tenho consciência de que não é possível o Brasil estar bem se os estados não estiverem bem. Mais impossível ainda se as cidades não estiverem bem. A cidade estar bem significa que o povo tem as condições necessárias para conquistarem a cidadania. Não é no Brasil que as pessoas moram, não é no Maranhão. Elas moram em Timon, vão ao médico em Timon, reclama e elogia o prefeito de Timon. Aqui vocês fazem compras e vão ao banco. Por isso, quando fui presidente, tenho o orgulho de dizer que cuidei das cidades. Não conheço outro governo em que as cidades foram tão respeitadas como no período em que fui presidente da República", completou Lula.

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