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Maconha, álcool, celular, comida. Vivemos numa sociedade de dependentes

Através da publicidade e do marketing, nossa sociedade do consumo estimula nas pessoas os mais variados estados de dependência. Especialistas insistem agora que um melhor conhecimento das raízes comuns da vulnerabilidade à dependência patológica é o melhor caminho para prevenir a sua extensão em massa.

Maconha, álcool, celular, comida. Vivemos numa sociedade de dependentes (Foto: Tara Moore)
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Por: Pascale Senk – Le Figaro

 

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Há três décadas, as pesquisas sobre as condutas que levam às dependências psicológicas ou de drogas químicas não param de se aprofundar. A cada dia, uma nova descoberta. E, a cada dia, a descoberta de um novo risco de dependência! A mais recente parece prosaica, mas é bem real: o queijo, cujo componente, a caseína, foi considerado por uma equipe de psicólogos da Universidade de Michigan como possuidor de um potencial de criação de dependência tão forte quanto a morfina! Quase ao mesmo tempo foi publicada uma sondagem revelando que os homens em situação de espera não conseguem permanecer mais de 21 segundos sem consultar o seu telefone celular. Ainda mais alarmante que essa curta duração: eles não a percebem, via de regra afirmando que só se entregam à sua compulsão muito tempo mais tarde. Uma cegueira de “executivo moderno” muito próxima da negação do alcoólatra ou do fumante incapazes de olhar de frente o seu consumo excessivo de álcool ou tabaco.

 

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Sociedade de dependentes

Se os comportamentos de dependência se multiplicam, seria possível, através de um melhor conhecimento de suas raízes comuns – essa famosa vulnerabilidade à dependência patológica -, prevenir a sua extensão em massa? Esta é a esperança que anima os terapeutas, sobretudo aqueles que, nessa matéria, recolhem e difundem a cada dia as novas descobertas que não param de acontecer.

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“Há cerca de vinte anos, muitos pensavam que as pessoas se tornam alcoólatras ou toxicômanas por falta de força de vontade ou por vício moral”, observa Bruno Didier, terapeuta e consultor-formador em adictologia (ciência que estuda os comportamentos de dependência), na França. “Mas verificou-se que esse não é o caso. Todos nós sabemos que a exposição às drogas e aos comportamentos de dependência é, hoje, um fenômeno inevitável. Na nossa sociedade de consumo, através da publicidade e do marketing, o termo ‘dependente’ é inclusive claramente valorizado! Considera-se ‘normal’ consumir ou adotar certos comportamentos sem que a necessidade deles seja real. O risco dessa anomalia é que, em nossos dias, muitos transformam seus simples desejos em necessidades irreprimíveis”.

 

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Quem são as pessoas mais vulneráveis a tais cantos de sereia emitidos pela nossa sociedade estimuladora da dependência? Régis Ribes, consultor da clínica Acte Now, especializado no exame e tratamento das dependências segundo o assim chamado modelo Minnesota (similar ao dos Alcoólicos Anônimos), descreve certos fatores de fragilidade: “A maior parte do tempo, nossos pacientes apresentam três características em comum: uma família disfuncional, não terem sido detectados como vulneráveis na instituição escolar que frequentaram, e uma hipersensibilidade ou uma hiperansiedade que passaram despercebidas. O que também chama a atenção é o seu grande sentimento de culpa em relação a todas essas vivências. Aos 13 ou 14 anos, começam a fumar maconha, depois passam a outros produtos ou comportamentos para acalmar essas carências afetivas e as desordens emocionais. É nesse sentido que Claude Olivenstein pode dizer que “os toxicômanos substituem suas emoções por sensações”.

 


Concentrar-se no indivíduo vulnerável

Outra característica comum das pessoas dependentes: a impossibilidade de se adaptar à realidade. Admitindo que nós não podemos “prever as pessoas que estão mais expostas mas apenas as pressentir”, Bruno Didier cita o caso de duas irmãs adolescentes: “A mais velha se refugia enormemente no imaginário. Sensível, ela gostaria que o mundo fosse como ela o sonha e tem mais necessidade dos outros para sentir que existe. A outra irmã, por seu lado, é capaz de dizer : ‘Eu realmente não gosto da escola, mas já que estou nela, não apenas vou me adaptar como tentarei aproveitar ao máximo’. Não há dúvida de que a primeira é a que mais provavelmente cederia à tentação da dependência”.

 

 

Concernente a essas tentações, nenhum especialista consegue, até agora, explicar porque este indivíduo é mais vulnerável e suscetível do que aquele outro, a não ser pelo fato de que alguns encontram mais facilmente em seu ambiente o álcool, ou a maconha, ou qualquer outra substância tóxica. Ao mesmo tempo em que outros escolherão depender de outros fatores não químicos, tais como os jogos de azar, a comida em excesso, os telefones celulares, a Internet, etc. “Todas essas escolhas são bastante aleatórias, confirma Régis Ribes. Ainda mais nos dias de hoje quando, cada vez mais, recebemos pacientes ‘poli-dependentes’: jovens adultos viciados ao mesmo tempo nos jogos de vídeo, no álcool e nos sites pornográficos, para dar um exemplo. Ou mulheres jovens dependentes de laxativos! Já não é tão importante, portanto, focalizarmos sobre o objeto da dependência, mas muito mais sobre o problema comportamental através do qual a pessoa perde o seu livre arbítrio e se destrói”.

Assim sendo, parece que hoje tanto os pacientes como os terapeutas estão interessados em abandonar um certo fascínio pelos “produtos” para se concentrar sobretudo no indivíduo vulnerável. Este é sem dúvida o primeiro passo que permitirá ao dependente tornar-se ator e senhor de sua saúde e de sua vida, em vez de permanecer, de certa forma, infantilizado.

 

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