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Moradores da Lanceiros Negros prometem resistir contra reintegração

Moradores da ocupação Lanceiros Negros e representantes de movimentos sociais realizaram um ato no Centro de Porto Alegre para demarcar a posição de que irão resistir à reintegração de posse determinada em decisão judicial; os manifestantes bloquearam temporariamente as vias Andrade Neves e Borges de Medeiros durante a manhã e encerraram o ato em frente ao Palácio Piratini; “Todas as famílias decidiram por resistir. Nós já começamos a fechar o prédio, comprar mantimentos para ficar no prédio fechado. Se a gente precisar ficar uma semana, dez dias, nós vamos ficar”, afirma Nana Sanches, coordenadora do Movimento Livre nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que lidera a ocupação

Moradores da ocupação Lanceiros Negros e representantes de movimentos sociais realizaram um ato no Centro de Porto Alegre para demarcar a posição de que irão resistir à reintegração de posse determinada em decisão judicial; os manifestantes bloquearam temporariamente as vias Andrade Neves e Borges de Medeiros durante a manhã e encerraram o ato em frente ao Palácio Piratini; “Todas as famílias decidiram por resistir. Nós já começamos a fechar o prédio, comprar mantimentos para ficar no prédio fechado. Se a gente precisar ficar uma semana, dez dias, nós vamos ficar”, afirma Nana Sanches, coordenadora do Movimento Livre nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que lidera a ocupação (Foto: Leonardo Lucena)
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Luís Eduardo Gomes, Sul 21 - Moradores da ocupação Lanceiros Negros e representantes de movimentos sociais realizaram, na manhã desta quinta-feira (28), um ato no Centro de Porto Alegre para demarcar a posição de que irão resistir à reintegração de posse determinada em decisão judicial. Os manifestantes bloquearam temporariamente as vias Andrade Neves e Borges de Medeiros durante a manhã e encerraram o ato em frente ao Palácio Piratini.

Na última terça-feira (26), o juiz Rogerio Latorre, da 7ª Vara da Fazenda Pública, determinou a reintegração imediata com comunicação à Brigada Militar, ao Conselho Tutelar e ao Corpo de Bombeiros para acompanhar o cumprimento da medida. A disputa entre os moradores e o governo do Estado, proprietário do prédio, porém, já se arrasta desde meados de dezembro, quando o prédio foi ocupado. Uma decisão judicial anterior determinava que a reintegração de posse só poderia ser concretizada se o Estado oferecesse uma alternativa de moradia para os moradores da Lanceiros Negros, o que não foi feito. “A impressão que dá é que esse desembargador foi de alguma forma provocado a mudar a sua decisão”, afirma Nana Sanches, coordenadora do Movimento Livre nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que lidera a ocupação.

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Após a decisão judicial ser publicada no site do TJ, os moradores realizaram uma assembleia ainda na terça-feira em que foi decidido que não deixarão o prédio. “Todas as famílias decidiram por resistir. Nós já começamos a fechar o prédio, comprar mantimentos para ficar no prédio fechado. Se a gente precisar ficar uma semana, dez dias, nós vamos ficar”, afirma Nana. “Ninguém quer deixar a qualidade de vida que está conseguindo ter aqui no Centro. Tem famílias que não tinham refeições todos os dias”, complementa, apontando ainda que não há data definida para uma operação de reintegração, uma vez que, até esta manhã, os moradores não tinham sido notificados oficialmente da decisão judicial.

Os moradores temem, no entanto, que o Estado possa determinar que a Brigada Militar conduza com violência uma ação de reintegração de posse. “Tememos sim, porque a gente não vai sair. Vai ser um massacre e ele vai ficar com essa marca na consciência. O que a gente espera do governo? É isso aí. Conosco, não vai ter golpe. Se tiver, vai morrer todo mundo. Vamos resistir até o fim”, afirma Jussara dos Santos Rodrigues, 60 anos, que mora na ocupação com a família: dois filhos e oito netos.

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Jussara reclama do fato de o governador Sartori não ter oferecido nenhuma alternativa para as famílias deixarem o local. “Eu acho que é um desaforo isso aí. Um monte de prédios vazios, tudo cheio de sujeira, e ele vir querer despejar. Por que ele então não vai sentar conosco e oferecer uma alternativa digna de moradia para o pessoal?”, questiona a moradora. “Não, ele só quer despejo. Ele está lá numa boa, comendo, bebendo, viajando, enquanto o pessoal tá passando fome. E não é um bando de vagabundo. Todos lá trabalhamos e podemos confirmar isso na carteira. Nós somos pobres, mas vagabundos nós não somos”, complementa.

Quem também promete resistir “até a morte” é o indígena Merong Tampuramã, que pertence ao povo Pataxó Hãhãhãe, da Bahia, e está há 6 anos no RS. Ele vive com a esposa, de etnia guarani, no acampamento Guarani Mato Preto, próximo à cidade de Getúlio Vargas, mas vem com frequência a Porto Alegre para comercializar artesanato na Rua da Praia. “Eu vim em dezembro do ano passado com a família e me deparei com a situação de que não tinha onde ficar. Foi quando eu bati na porta dos Lanceiros Negros e fui acolhido, eu, minha família e mais uma parente da Bahia que estava conosco”, diz.

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Merong afirma que, se não fosse a ocupação, provavelmente teria que dormir na rua. “Sempre que eu vinha para Porto Alegre, eu dormia na rua ou dormia na Rodoviária, porque eu não tinha onde ficar. Depois que existe a ocupação Lanceiros Negros, graças ao nosso Pai Tupã, eu consigo trabalhar com dignidade e não falta alimento na mesa para minha família”, diz.

Marcada para as 8h30, a mobilização teve início às 9h30, em frente ao prédio da ocupação, localizado na esquina das ruas General Câmara e Andrade Neves, com falas de representantes do MLB, de moradores e de movimentos sociais, como o SindBancários, Juntos, CUT-RS, entre outros. Posteriormente, os manifestantes partiram em marcha pela Andrade Neves e pela Borges de Medeiros. Por volta das 11h, chegaram ao Palácio Piratini, onde gritaram palavras de ordem contra o governador Sartori e contra a remoção dos moradores, como: “Aqui tem um bando de loucos, loucos por moradia, quem acha que é pouco, nunca teve uma noite fria” e “Não vai ter despejo, é resistência”.

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Segundo Nana, a ocupação abriga cerca de 70 famílias e em torno de 40 crianças. Há dois bebês de colo, uma mulher grávida – a filha de Jussara – e idosos. “São trabalhadores, pessoas que não conseguem pagar o aluguel, que vem de área de risco, que perderam as suas casas em enchentes em outubro do ano passado”, afirma. “Não tem para onde ir, não tem para onde voltar. A gente sabe como está a situação em diversos bairros de periferia, que tem toque de recolher, tem uma disputa de território pelo narcotráfico. As pessoas não querem voltar para a periferia. Querem manter os direitos que têm aqui, tem posto bom, hospital bom, escola boa, tudo a pé, não tem que pagar essa taxa de ônibus que é um absurdo”.

Além da família do indígena Merong, a Lanceiros Negros também passou a acolher Francisco Ayala, estudante de Direito da PUC nascido em Guiné Bissau, que foi expulso da casa do estudante em um suposto caso de racismo, e a família de outra estudante que deu à luz recentemente e também foi expulsa da residência estudantil. Segundo Nana, Ayala está ajudando na ocupação dando aula de boxe para as crianças todos os sábados e continua frequentando o curso de Direito.

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