Morreu e foi assistir o jogo

Em geral, a arte imita a realidade, mas às vezes a realidade acaba reproduzindo a ficção. Foi o que aconteceu no último domingo, na Colômbia. Como no romance A morte e a morte de Quincas Berro D'água, de Jorge Amado, integrantes da Barra del Indio, torcida organizada do Cúcuta, um dos mais populares da Colômbia, levaram para o Estádio General Santander um caixão com o corpo do jovem Christopher Jácome, de 17 anos, que morreu assassinado a tiros quando jogava futebol, no último sábado. Foi uma espécie de homenagem dos amigos a Jácome, um torcedor fanático do Cúcuta.

No livro de Jorge Amado, Quincas, um ex-funcionário público, é o rei dos botecos, bordéis e gafieiras da Bahia. Um dia ele é encontrado morto em sua cama. Inconformados, seus melhores amigos “roubam” o corpo do boêmio e o levam para uma última noite regada a festa e muita bebida. Em meio a mil confusões, Quincas “vive” a sua segunda e definitiva morte, como sempre sonhou.

E foi mais ou menos o que aconteceu a Jácome. Seus colegas, apresentando nítidos sinais de embriaguez, invadiram o estádio com seu caixão, quando faltavam 15 minutos para o fim da partida entre Cúcuta e Envigado - que acabou em empate por 1 a 1 na oitava rodada do Torneio Clausura do país. "Quando abriram os portões, um grupo de 200 a 300 pessoas se lançaram em direção ao estádio e a situação tornou-se incontrolável", explicou o Coronel Álvaro Pico, comandante da polícia de Cúcuta.

Segundo o jornal "El Tiempo", membros da torcida afirmaram que tinham autorização da família para levar o corpo de Jácome, que era o líder dos “El Índio”, para a partida. Este teria sido o último pedido feito pelo torcedor antes de morrer. O curioso é que nenhum membro desta torcida tinha permissão para entrar no General Santander, já que a facção é constantemente envolvida em episódios de violência. O Coronel Pico informou que se reunirá com outras autoridades responsáveis pela segurança no estádio para descobrir quem permitiu a entrada do caixão e adiantou que alguns dos indivíduos que carregavam o corpo sem vida de Christopher já foram identificados.