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Requião: Lula pode barrar entreguismo do governo a favor do capital financeiro

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) foi um dos políticos mais requisitados pelo público durante os atos de apoio ao ex-presidente Lula em Porto Alegre; "Em Davos, os ricos do mundo defendem o capital financeiro. Aqui, defendemos a democracia", bradou para a plateia entusiasmada que lotava o Teatro Dante Barone; para o senador, Lula "é o ponto de apoio, pela sua popularidade, para barrar o entreguismo que dirige o governo brasileiro a favor do capital financeiro"

O senador Roberto Requião (PMDB-PR) foi um dos políticos mais requisitados pelo público durante os atos de apoio ao ex-presidente Lula em Porto Alegre; "Em Davos, os ricos do mundo defendem o capital financeiro. Aqui, defendemos a democracia", bradou para a plateia entusiasmada que lotava o Teatro Dante Barone; para o senador, Lula "é o ponto de apoio, pela sua popularidade, para barrar o entreguismo que dirige o governo brasileiro a favor do capital financeiro" (Foto: Leonardo Lucena)
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Por Vitor Necchi, Sul 21 - O senador Roberto Requião (PMDB-PR) foi um dos políticos mais requisitados pelo público durante os atos de apoio a Luiz Inácio Lula da Silva, em Porto Alegre. Na terça-feira (23) que antecedeu o julgamento do recurso movido pela defesa do ex-presidente no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), Requião fez a primeira manifestação do ato Ação Global Anti Davos, realizado na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul em preparação ao Fórum Social Mundial (FSM) que ocorrerá em março, em Salvador. O ex-governador do Paraná enalteceu o processo democrático e o direito de o povo escolher seu próximo presidente. “Em Davos, os ricos do mundo defendem o capital financeiro. Aqui, defendemos a democracia”, bradou para a plateia entusiasmada que lotava o Teatro Dante Barone.

Na tarde de quarta-feira, enquanto ocorria o julgamento do recurso de Lula, já havia dois votos favoráveis à condenação do ex-presidente quando Requião chegou à orla do rio Guaíba, próximo ao acampamento de apoiadores e onde se concentravam as manifestações favoráveis ao petista. O calor beirava o insuportável, e as árvores ao longo da avenida Edvaldo Pereira Paiva eram insuficientes para abrigar as pessoas, que tentavam se refrescar com garrafas de água mineral vendidas a R$ 4.

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O desânimo começava a vigorar. Muitos já partiam com seus pertences, encerrando a vigília. Era evidente um esgotamento por conta da canícula e da frustração pelo resultado que se desenhava a partir dos votos já proferidos pelos desembargadores responsáveis pelo julgamento. No local, se encontravam poucos líderes políticos. Neste cenário, a chegada de Requião causou alvoroço entre os manifestantes que permaneciam mobilizados.

Muito requisitado, mal conseguia caminhar e era parado a todo instante para receber abraços e ouvir desabafos e elogios à sua postura. Era impossível obter a atenção dele para esta entrevista, ainda mais por conta do alto volume do som proveniente do caminhão que tentava animar o público. Requião decidiu ir para o hotel em que se hospedava, no centro de Porto Alegre, onde acabou respondendo às perguntas no saguão refrigerado, após verificar em seu celular os últimos fatos relativos ao julgamento.

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Para o senador peemedebista, Lula “é o ponto de apoio, pela sua popularidade, para barrar o entreguismo que dirige o governo brasileiro a favor do capital financeiro”. Disse que foi contrário à política econômica de Lula e seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e também de Dilma Rousseff com Joaquim Levy. “Eram sucessivas concessões ao mercado financeiro, aos interesses do famoso capital da dívida”, criticou. Na sequência, reconheceu o comprometimento do ex-presidente: “Nunca neguei a sensibilidade social do Lula, a sua política de mediação a favor dos trabalhadores. O Lula, se não enfrentou o capital financeiro e a banca, de certa forma foi o presidente do sindicato do povo brasileiro negociando com o capital”.

O senador criticou o seu partido, dizendo que, para derrubar Dilma, veio com o projeto “Uma ponte para o futuro”, em 2015. “Vi que a jogada não era contra a corrupção, mas contra o estado social brasileiro”, recorda. “Eles queriam a liquidação do direito dos trabalhadores, escravização, a desindustrialização do Brasil e a submissão absoluta do país aos interesses dos grandes capitais de países desenvolvidos”.

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Na sequência, confira a íntegra da entrevista.

Sul21 – Na véspera do julgamento de Lula, o senhor disse no ato de apoio ao ex-presidente, em Porto Alegre, que não é devoto dele, mas que se trata da única esperança. Por quê?

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Roberto Requião – Eu me opus à política econômica do Lula com o [Henrique] Meirelles. Posteriormente me opus à política da Dilma com o Joaquim Levy. Eram sucessivas concessões ao mercado financeiro, aos interesses do famoso capital da dívida. Nunca neguei a sensibilidade social do Lula, a sua política de mediação a favor dos trabalhadores. O Lula, se não enfrentou o capital financeiro e a banca, de certa forma foi o presidente do sindicato do povo brasileiro negociando com o capital. Eu cobrava um enfrentamento mais sério, mais duro. Eu achava que a representação do governo do PT deveria enfrentar o capital financeiro e não apenas compor com ele.

O que eu via: em determinado momento, se conseguia mais 15 minutos para o almoço dos trabalhadores, mas se permitia a venda de uma parcela maior de ações do Banco do Brasil para o mercado privado. E se viabilizava um aumento de juros, enriquecendo ainda mais os rentistas e os bancos. Faltou uma visão mais forte. Hoje eu vejo claramente que ele não podia enfrentar o Congresso Nacional.

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Eu fui governador e não negociei com o parlamento. Tratei muito bem o parlamento, mas eu colocava com clareza os interesses do Estado. Eu tive divergências. Mas quando o partido, para derrubar a Dilma, veio com aquele projeto “Uma ponte para o futuro” [lançado pelo PMDB em 2015, serviu de base para o governo de Michel Temer], eu vi que a jogada não era contra a corrupção, mas contra o estado social brasileiro. Eles queriam a liquidação do direito dos trabalhadores, escravização, a desindustrialização do Brasil e a submissão absoluta do país aos interesses dos grandes capitais de países desenvolvidos. Nós fomos relegados à condição de estado associado.

O Lula aprende muita coisa. Continua sendo um quadro trabalhista sensível e que é o ponto de apoio, pela sua popularidade, para barrar o entreguismo que dirige o governo brasileiro a favor do capital financeiro.

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Sul21 – O Judiciário está agindo de maneira política?

Roberto Requião – Desde o começo. Não tem cabimento algum.

Hoje (24) eu assisti ao voto do Gebran [João Pedro Gebran Neto, relator do processo]. Eles se atribuem títulos, auxílio moradia, vantagens, o que eu vejo como algo semelhante à corrupção de um deputado despolitizado, que troca o seu voto por uma emenda parlamentar, um puxadinho em uma creche, para garantir a sua reeleição, sem se preocupar com o que acontece na macroeconomia brasileira. Ele é capaz de votar a venda da Petrobras para conseguir pavimentação em uma pequena estrada rural e voltar ao parlamento com esse favor prestado a um povo despolitizado.

O Gebran fez uma análise completa do caos do sistema político-administrativo do Brasil. Esqueceu de fazer a mesma análise sobre o Judiciário, o Ministério Público e outras carreiras de estado. Depois disso tudo, ele quer atribuir ao Lula a propriedade de um apartamento que nunca foi do Lula, nunca será do Lula, e que é propriedade da OAS. Aliás, me parece claro que ela pretendia trocar pelo apartamento que a dona Marisa havia comprado no terceiro andar, de fundos, e nesta troca, o que se pode supor racionalmente, é que contabilizaria os R$ 380 mil, R$ 400 mil que ela havia pagado ao longo de anos para a cooperativa dos bancários antes de a OAS tomar conta do investimento, e o Lula pagaria a diferença. É claro, como eu conheço empreiteiros, tenho certeza que a OAS pretendia não cobrar nada do Lula. 84% de popularidade, elegeu o sucessor, ela queria fazer um favor para amanhã pedir outro, uma interferência do presidente da República, que é a prática comum dos empreiteiros do serviço público brasileiro. O Lula não aceitou, nunca foi dele, não será dele, porque ele não aceitaria. Estão fazendo o jogo da viúva Porcina. O Lula é dono de um apartamento que nunca foi dele, e a viúva Porcina é a viúva que nunca foi.

Sul21 – Com a condenação do Lula, que cenário político se estabelece?

Roberto Requião – Um cenário de revolta da população. Esta condenação impede que ele participe de eleições. A impressão que se tem é que eles não querem prendê-lo. O objetivo é consolidar a reforma neoliberal no Brasil. É tirar do processo o Lula, que é o grande candidato dos setores nacionalistas e progressistas, e oficializar, sem um referendo revogatório, tudo o que foi entregue para o capital financeiro nacional e internacional contra os interesses do Brasil.

Sul21 – Como se chegou a uma situação de desmonte de direitos sociais?

Roberto Requião – Há uma mídia trabalhando a cabeça das pessoas. Um Congresso de patrões que não se identifica com o trabalhador, se julgam todos pequenos, médios e grandes empresários, e pelo mesmo motivo a reforma trabalhista está mais difícil porque eles se identificam com o aposentado. Embora se julguem capitalistas e patrões, eles têm uma mãe, uma tia, um primo, um parente ou amigo que sonha com aposentadoria no fim do seu período de trabalho ativo. Há uma identidade e uma dificuldade. Mas a insistência do governo é de comprar esses votos com emendas, com cargos, com valores, e em determinado momento eu vi um apelo do Michel Temer para que 150 empresários fossem ao Congresso “conquistar” os votos que faltavam. Ou seja, é uma compra aberta da opinião do parlamentar.

Sul21 – O que cabe à esquerda na atual conjuntura?

Roberto Requião – Eu não digo nem esquerda, cabe ao Brasil, aos nacionalistas, aos progressistas, aos que consideram importante o processo civilizatório brasileiro, o estado do bem estar social, o estado que respeita o trabalho, respeita as minorias, a democracia. Resistir a isso. A pressão popular pode, em instâncias superiores, inverter esse julgamento do Rio Grande do Sul.

Sul21 – A partir da condenação, aumentar a mobilização então?

Roberto Requião – Ontem, o nacionalismo e a visão soberana do país tiveram uma vitória. Não tem importância o que fazem os juízes hoje. O tribunal popular, com a participação de trabalhadores e representantes das classes populares, que são as classes desligadas do grande capital, falou na esquina da democracia. Oitenta mil pessoas disseram que não admitem o fim do estado social no Brasil. Nós não somos um estado de segunda classe que admite a escravização do trabalho, a entrega do petróleo, a paralisação de investimentos públicos, que admite que nós sejamos transformados em um país de segunda classe. O Lula é o ponto de apoio para reversão disso.

Sul21 – No ato de apoio a Lula, o senhor falava da necessidade de sair da crise. O que fazer?

Roberto Requião – Mobilização popular, e ainda temos recurso no Judiciário. O impressionante é que a parcialidade do julgamento está escandalizando o mundo jurídico. Isso é um instrumento de pressão também. Será que todos os juízes são de extrema direita, são liberais? São como dizia o Kim Kataguiri há pouco em um debate comigo na rádio Guaíba, primeiro tem que vir o progresso, a inovação, e o desemprego é que causa o progresso? É uma coisa maluca, uma falta absoluta de fraternidade. Como se o avanço tecnológico e industrial em si fosse o objetivo, e não a felicidade das pessoas e a fraternidade na sociedade. É um doidinho, e parece que essa doidice avançou em grande parte das instituições, do Ministério Público e do Judiciário. Ainda espero manifestações das classes jurídicas.

Sul21 – Com o impedimento de Lula participar das eleições, que cenário o senhor projeta?

Roberto Requião – O Lula continua sendo o plano A, porque é o que tem mais viabilidade eleitoral pelas suas políticas sociais, tem apoio no Brasil inteiro. Temos que insistir na sua candidatura, no referendo revogatório e numa frente única em defesa da soberania, da independência do Brasil e dos direitos conquistados pelos trabalhadores.

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