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Será que R$ 1 mi basta para reabilitar Gregório?

A Justiça Federal determinou que União pague indenização no valor de R$ 1 milhão à família do militante comunista; a sentença de reparação por danos morais acontece 31 anos após sua morte; a União pode recorrer da decisão junto ao STJ; Gregório Bezerra foi um dos maiores ícones da luta contra a ditadura militar e também alvo de um dos episódios mais marcantes do golpe de 64, quando foi torturado e arrastado pelas ruas do Recife, amarrado a um carro, diante dos olhares estarrecidos da população; será que R$ 1 milhão basta para reabilitar a memória de Gregório, falecido ao 83 anos, sendo 24 deles passados na prisão por conta de seus ideais?

A Justiça Federal determinou que União pague indenização no valor de R$ 1 milhão à família do militante comunista; a sentença de reparação por danos morais acontece 31 anos após sua morte; a União pode recorrer da decisão junto ao STJ; Gregório Bezerra foi um dos maiores ícones da luta contra a ditadura militar e também alvo de um dos episódios mais marcantes do golpe de 64, quando foi torturado e arrastado pelas ruas do Recife, amarrado a um carro, diante dos olhares estarrecidos da população; será que R$ 1 milhão basta para reabilitar a memória de Gregório, falecido ao 83 anos, sendo 24 deles passados na prisão por conta de seus ideais? (Foto: Paulo Emílio)
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Pernambuco 247 - A Justiça Federal determinou que União pague indenização no valor de R$ 1 milhão à família do militante comunista Gregório Bezerra. A sentença de reparação por danos morais, decidida pela Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, acontece 31 anos após a morte de Gregório. A União pode recorrer da decisão junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Gregório Bezerra foi um dos maiores ícones da luta contra a ditadura militar e também alvo de um dos episódios mais marcantes do golpe de 64, quando foi torturado e arrastado pelas ruas do Recife, amarrado a um carro, diante dos olhares estarrecidos da população.

De acordo com a sentença, o valor da indenização será pago ao filho de Gregório Bezerra, de 84 anos, e a cinco netos. Apesar da decisão, a Justiça negou o pedido de reparação econômica solicitado pela família do militante comunista. Para o relator Sérgio Fialho, Gregório e a família sofreram perseguição política “durante a vigência de vários regimes de exceção”, mas ressaltou que “o montante da indenização deve ser o suficiente para desencorajar a reiteração de condutas ilícitas”, bem como amenizar o constrangimento causado”.

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Para o magistrado, o valor a ser pago “não pode se mostrar excessivo diante dos danos efetivamente sofridos, sob pena de resultar em enriquecimento ilícito. Jurandir Bezerra, embora tenha se mostrado insatisfeito com a decisão, disse considerar-se “parcialmente atendido” em suas reivindicações.

Confira no link ou leia abaixo matéria publicada anteriormente pelo Pernambuco 247 sobre a vida e a luta de Gregório Bezerra. 

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A vida de Gregório Lourenço Bezerra foi marcada a ferro e fogo em função de suas convicções. Foi agricultor, trabalhador doméstico, operário da construção civil, militar e militante comunista. Um dos primeiros a ser preso e torturado pelo regime militar após o golpe de 64, como reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade no Recife, acabou por se tornar um símbolo vivo da luta contra a ditadura.

Sua coragem em defender a liberdade e a luta pelos direitos sociais e trabalhistas, bem como o fato de não ter delatado nenhum de seus companheiros, mesmo sob tortura, renderam o reconhecimento da grandeza de espírito do militante, tanto pela sociedade como até mesmo pelo seu torturador, o coronel do Exército Darcy Ursmar Villocq Vianna.

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Filho de agricultores da cidade de Panelas de Miranda, hoje Panelas, no Agreste pernambucano, Gregório nasceu em 13 de março de 1900. Começou a trabalhar na lavoura aos cinco anos de idade, preparando roçados para o plantio. Mudou-se para o Recife entre os 16 e 17 anos, onde trabalhou como carregador, empregado doméstico, vendedor a operário da construção civil. Em 1917, já como ajudante pedreiro, foi preso pela primeira vez ao participar de uma greve por melhores salários e que também prestava solidariedade ao movimento bolchevique, recém-iniciado na antiga União Soviética. Só foi libertado cinco anos depois, em junho de 1922.

No mesmo ano em que ganhou as ruas, Gregório alistou-se no Exército. Transferido para o Rio de Janeiro, dedicou-se a não mais ser analfabeto e, de forma autodidata, aprendeu a ler e escrever para tornar-se sargento.  Já com a patente de segundo-sargento, foi designado como instrutor de uma companhia de metralhadoras e de esportes em uma unidade militar de Fortaleza (CE). Acabou solicitando sua própria transferência para a 7ª Região Militar, no Recife.

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Com o golpe militar de 31 de março de 1964, Gregório levantou-se contra a destituição e prisão do então governador de Pernambuco, Miguel Arraes, e foi preso no dia 1º de abril ao tentar incentivar os camponeses e sindicatos rurais a pegarem armas para lutar contra o regime. Acabou sendo levado para a Companhia de Motomecanização, em Casa Forte, no Recife, no dia seguinte. Quando ainda descia da viatura, foi recebido a pancadas pelo comandante da unidade, o coronel Darcy Ursmar Villocq Vianna , mais conhecido como coronel Villocq, que viria a ser o responsável por um dos momentos mais marcantes dos primeiros dias da ditadura: a tortura e o arrasto do militante comunista com cordas amarradas ao pescoço e pelas ruas do bairro.

Villocq, que integrava a linha dura do regime, reconheceu a coragem do homem que torturou. Em uma dos poucos depoimentos sobre o assunto, o militar disse que recebeu o comunista “todo quebrado” e negou que tenha torturado Gregório. “O Gregório Bezerra foi quem teve atitude. Foi preso, não denunciou ninguém. Disse que era comunista, nasceu comunista... De todos, Gregório é que foi homem... Não dei porque não havia onde dar; ele já tinha apanhado tanto...”, disse Villocq à historiadora Eliane Moury Fernandes, em 1982.

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Sobre o arrasto pelas ruas da cidade, Villocq relatou que havia recebido uma informação que dava conta que haveria uma tentativa de libertar o comunista. “Tomei um impulso. Peguei dois sargentos armados... Ele saiu comigo com a cordinha no pescoço, de leve... Não apertei”, disse o coronel em seu depoimento. Gregório, porém, conta outra versão no livro de memórias  que começou a escrever ainda na prisão. “Recebeu-me a golpes de cano de ferro na cabeça... Outros me desferiram pontapés e coronhadas... Laçaram-me o pescoço com três cordas... E assim fui arrastado pelas principais ruas de Casa Forte”, relatou Gregório. Villocq morreu em março do ano passado, aos 93 anos.

Gregório acabou libertado em 1969, juntamente com outros presos políticos, em troca do embaixador norte-americano, Charles B. Elbrick, sequestrado pelas organizações de resistência ao regime. Ele passou dez anos no exílio, no México e na União Soviética.

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O líder popular retornou ao Brasil em 1979, beneficiado pela Lei da Anistia. Desligou-se do PCB em função de divergências internas e candidatou-se a deputado federal pelo PMDB em 1982, onde ficou com a vaga de suplente.  Gregório Lourenço Bezerra morreu no ano seguinte, na cidade de São Paulo, no dia 23 de outubro, após uma vida inteira dedicada ao combate à desigualdade e por um Brasil mais justo.

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