Sergio Amadeu: as teles querem transformar a internet numa TV a cabo
"Eles dizem que quebrar a Neutralidade da Rede vai beneficiar os mais pobres e permitir que eles paguem menos pelo serviço. Eles dizem que as pessoas pagam mais por culpa do gamer, o menino que usa muito a internet. Isso não é verdade. 60% das pessoas com uma salário mínimo no Brasil consomem multimídia. Ou seja, se as operadoras e agências aumentarem o preço de vídeos e reduzirem de outros tipos de acesso, todos vão pagar mais caro", diz Sergio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC e conselheiro do comitê gestor da internet
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Por Pedro Zambarda, editor do DigiClub
A TV247 entrevistou o sociólogo Sergio Amadeu nesta quarta-feira (17). Ele é professor da UFABC e conselheiro do Comitê Gestor da Internet do Brasil (CGI.br), a entidade multissetorial mais importante do Brasil reunindo operadoras de telecomunicações, governo e setor acadêmico.
Amadeu explicou como a FCC norte-americana derrubou o conceito de Neutralidade da Rede e como essa iniciativa ainda é sustentada pelo Marco Civil da Internet, uma constituição digital feita pelo CGI. A estrutura permite uma internet aberta e com acesso igual para textos, vídeos e diversos conteúdos. Nos Estados Unidos, as operadoras de telecomunicações querem cobrar por tráfego de dados, deixando a rede mais cara para videogames e materiais audiovisuais.
"A Neutralidade da Rede impõe às operadoras, que querem mudar a lei, a necessidade de ser neutra em relação à transmissão de dados pelos cabos submarinos. As telecomunicações foram montadas pelo Estado na maioria dos países globalmente. A única exceção talvez seja os Estados Unidos, mas eles também contaram com muita verba governamental. Essas empresas perceberam que boa parte da comunicação será digital e eles são um oligopólio, sendo menos de 10 incluindo as chinesas. O que eles querem derrubando essa lei é controlar toda a comunicação", explica.
"Eles dizem que quebrar a Neutralidade da Rede vai beneficiar os mais pobres e permitir que eles paguem menos pelo serviço. Eles dizem que as pessoas pagam mais por culpa do gamer, o menino que usa muito a internet. Isso não é verdade. 60% das pessoas com uma salário mínimo no Brasil consomem multimídia. Ou seja, se as operadoras e agências aumentarem o preço de vídeos e reduzirem de outros tipos de acesso, todos vão pagar mais caro", frisa o especialista.
Para o acadêmico, a mudança ameaça a rede como existe hoje, mas o Brasil tem uma constituição que protege a rede como ela é hoje. Ele conta a história como os deputados Eduardo Azeredo e Eduardo Cunha fizeram lobby contra o Marco Civil, protegendo as empresas contra o interesse público.
"As teles querem transformar a internet numa TV a cabo. Você pagaria mais por um serviço pior? Eu não".
Para quem não conhece o assunto, vale assistir esta entrevista de meia hora.
Também é abordado censura do Facebook e do Google, bem como propostas para fiscalizar Fake News e o caráter libertário da internet.
A entrevista foi conduzida pelo editor do site e pelo jornalista Paulo Moreira Leite.
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