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Ideias

Michael Hudson explica por que a crise bancária nos EUA ainda não acabou

O economista Michael Hudson argumenta que bancos como o Silicon Valley Bank se comportaram de uma maneira gananciosa, no entanto recebem resgates do governo dos EUA

(Foto: Reprodução)
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Artigo de Michael Hudson originalmente publicado no Geopolitical Economy Report em 14/3/23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

*O economista Michael Hudson, co-apresentador do programa Geopolitical Economy Hour, primeiro respondeu à falência dos bancos Silicon Valley Bank e Silvergate em outro artigo.

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Quando as taxas de juros sobem, os preços dos títulos financeiros caem (e os preços das ações tendem a segui-los).

No entanto, os bancos não têm que rebaixar o preço de mercado dos seus ativos para refletir este valor declinante. Eles podem simplesmente manter os seus títulos.

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Os bancos só têm que revelar o declínio dos seus preços de mercado quando há uma corrida ao banco e eles têm que efetivamente vender estes títulos, ou hipotecas empacotadas, para levantar o dinheiro vivo a fim de possibilitar que sejam feitas retiradas em moeda viva.

Para o Silicon Valley Bank (SVB), resulta que eles apostaram em fazer ganhos de capital ao comprarem títulos do Tesouro dos EUA a longo prazo, cujos juros estavam aumentando drasticamente devido ao arrocho do Fed (Federal Reserve Bank, aka “banco central” dos EUA).

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O banco esperava que o Fed não conseguiria manter altas as taxas sem provocar uma recessão séria — e, efetivamente, o presidente do Fed Powell disse que uma recessão era efetivamente o que ele queria.

Porém, ao invés de baixar as taxas de juros, o Sr. Powell anunciou que não havia uma quantidade suficiente de estadunidenses desempregados, de modo que ele planejou aumentar as taxas de juros mais ainda do que ele esperava fazer. Os juros aumentaram e os preços dos títulos caíram.

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O banco SVB “ficou sentado numa perda não realizada de quase US$ 163 bilhões — mais do que a sua base de capital. O escoamento de depósitos começou, então, a cristalizar isto numa perda realizada”, como assinalou o Financial Times.

Os bancos de todo o país [EUA] estavam perdendo depósitos bruscamente. Isto não foi uma “corrida aos bancos” resultante de temores de má gestão.

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Isto ocorreu porque os bancos se comportaram de uma maneira tão egoísta e gananciosa que, à medida que eles ganhavam lucros crescentes com as taxas de juro crescentes — as taxas que eles cobram dos tomadores de empréstimos e as taxas produzidas pelos seus investimentos — eles estavam pagando aos depositantes apenas cerca de 0,2%.

Os bancos estavam agindo como monopólios, recusando-se em conjunto a pagar taxas justas aos depositantes. Mas o monopólio deles não se estendia ao controle do Tesouro dos EUA.

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O resultado disso é um hiato crescente entre aquilo que os investidores podem ganhar ao comprarem títulos mobiliários sem risco do Tesouro — cerca de 4% — e a ninharia que os bancos pagam aos seus depositantes. Então, os depositantes estavam sacando o seu dinheiro dos bancos para ganharem om retorno de mercado mais justo alhures.

Seria errado chamar isto de uma “corrida aos bancos” ou de “pânico”. Os depositantes que estavam sacando os seus dinheiros não eram irracionais. Eles estavam fartos do egoísmo dos bancos.

E o SVB era um dos piores transgressores. É por isso que as ações deles haviam aumentado tão drasticamente nos últimos anos.

A ameaça de uma “corrida aos bancos” pode se aplicar mais a depositantes estrangeiros. Em 13 de março, o índice do dólar dos EUA caiu 1 ponto percentual. Na verdade, isto é muito para um único dia.

Os europeus estavam vendendo ações dos EUA. É por isso que o índice Dow Jones Industrial Average caiu na abertura (às 9:30h da manhã — no horário da costa leste dos EUA — eram 15:30h no horário europeu, de modo que as ordens de venda haviam se acumulado).

Será que os europeus se retirarão do mercado bancário dos EUA? Será que eles estão perdendo a confiança?

O presidente Biden fez tudo o que podia para confundir o público sobre o que estava acontecendo. O discurso dele em13 de março garantiu aos eleitores que o   “salvamento” do SVB não era um “resgate”. Porém, obviamente, era um resgate.

Os depositantes do SVB sem seguro, que não se qualificavam para salvaguardar-se de perder um único centavo, foram salvos sem perder um único centavo.

O que Biden implicou, corretamente, foi que isto não se tratava de um resgate dos pagadores de impostos. Mas, então, o que era isto?

Isto foi uma demonstração de quão poderosa é a Teoria Monetária Moderna (TNT – Modern Monetary Theory). Os ativos bancários suficientes para “tornar os depositantes inteiros” [pagar tudo de volta] foi criado simplesmente para as autoridades bancárias.

Os US$ 9 trilhões da flexibilização quantitativa [quantitative easing] do Fed para os bancos desde 2008 não foi a criação de dinheiro; era um exercício de balancete — tecnicamente, foi uma espécie de “permuta” [swap] que compensa os bons créditos do Federal Reserva por títulos bancários “ruins” prometidos como colateral — muito acima do seu preço atual de mercado.

Isto é o que “salvou” os bancos depois de 2009. O crédito federal foi criado sem taxação.

Algumas poucas considerações se fazem apropriadas aqui. Por uma coisa, a corrupção desempenhou um papel.

O banco SVB foi supervisionado pelo Federal Home Loan Bank (FHLB). O FHLB é notório pela captura regulatória de bancos que escolhem operar sob a sua supervisão.

No entanto, o negócio do banco SVB não era de empréstimos de hipotecas. Ele servia a entidades privadas de equidade que estavam sendo preparadas para fazer os seus IPOs — para serem emitidas a altos preços e depois serem faladas — e deixadas cair no usual estratagema de bombeia-e-descarta.

Outra consideração política é que Silicon Valley é um reduto forte do Partido Democrata — e são uma rica fonte de financiamentos de campanhas eleitorais. O governo Biden não iria matar a galinha que põe ovos de ouro para as contribuições de campanhas eleitorais.

Obviamente, ele [Biden] ia resgatar o banco e os seus clientes de capital privado. O setor financeiro é o cerne do apoio ao Partido Democrata e é leal aos seus apoiadores.

Como o presidente Obama disse aos banqueiros que se preocupavam que ele poderia cumprir as suas promessas de campanha de diminuir as dívidas de hipotecas a preços realísticos de mercado a fim de capacitar clientes explorados por hipotecas-lixo para manterem as suas casas: “Eu sou o único que está entre vocês e os forcados” — isto é, a sua caracterização dos eleitores que acreditaram na sua conversa fiada de “esperança e mudança”.

O plano do governo Biden é o usual: chutar o problema dos bancos para adiante, inundar a economia com resgates (para os banqueiros, não para os estudantes devedores) até o dia da eleição em novembro de 2024.

Efetivamente, o Federal Reserve voltou atrás em 13 de março, assim como o SVB havia antecipado. Esta redução das taxas de juro feita pelo Plunge Protection Team produziu enormes ganhos para os investidores de títulos governamentais de longo prazo que o SVB havia comprado.

O problema foi o ‘timing’. Esse sempre é o problema quando ocorre um choque financeiro.

E sempre deve ocorrer um choque financeiro em algum ponto. Isso se dá porque o débito portador de juros cresce exponencialmente, mas a economia segue uma curva em “S” e depois dobra para baixo.

E quando a economia dobra para baixo — ou é deliberadamente desacelerada com os índices de salários dos trabalhadores tendem a igualar-se com a inflação de preços causadas por preços monopolizados e as sanções anti-Rússia dos EUA que aumentam os preços de energia e dos alimentos — a magnitude dos créditos financeiros na economia excedem a capacidade de pagar.

Esta é crise financeira real que a economia enfrenta. E ela vai além dos bancos. A economia inteira está sobrecarregada com a deflação de dívidas (de rendas), mesmo em face da inflação de preços de ativos sustentados pelo Federal Reserve.

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