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Ideias

Os tambores da guerra com a China estão batendo muito mais alto, diz Caitlin Johnstone

Tanto os comentários de Washington quanto os de Pequim, de repente, se tornaram muito mais contundentes e mais agressivos nos últimos dias

As bandeiras da China, dos EUA e do Partido Comunista Chinês são exibidas em uma barraca no Mercado Atacadista de Yiwu, em Yiwu, província de Zhejiang, China, em 10 de maio de 2019. (Foto: Reprodução)
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Artigo de Caitlin Johnstone originalmente publicado no site da autora em 13/3/23. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

Tanto os comentários de Washington quanto os de Pequim, de repente, se tornaram muito mais contundentes e mais agressivos nos últimos dias, com conversas sobre uma guerra quente que agora está sendo discutida não só como uma possibilidade real, mas, em muitos casos, como uma probabilidade. Vamos dar uma olhada em alguns dos recente desenvolvimentos mais significativos.

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Pequim comenta sobre o cerco feito pelos EUA

O governo chinês finalmente suspendeu os seus usuais comentários comedidos sobre a maneira como o império tem cercado agressivamente a República Popular da China com a sua maquinaria de guerra, de maneira que Washington jamais se permitiria ser cercada e está travando uma guerra econômica que eles mesmos jamais tolerariam.

“Os países ocidentais — liderados pelos EUA — implementaram uma contenção, um cerco e uma supressão completa contra nós, aplicando severos desafios sem precedentes ao desenvolvimento do nosso país”, disse em um discurso na semana passada o presidente Xi Jinping.

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O novo Ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, complementou os comentários de Xi no dia seguinte, advertindo sobre o “conflito e confrontação” caso os EUA continuem com as suas agressões e o seu cerco.

“Se os EUA não aplicarem os freios e continuarem a acelerar no caminho errado, não haverá grades de proteção suficientes para evitar um descarrilhamento e certamente haverá conflito e confrontação”, disse ele, acrescentando: “Quem arcará com as consequências catastróficas? Tal competição é um jogo irresponsável, com as apostas sendo os interesses fundamentais dos dois povos e até mesmo o futuro da humanidade”.

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Uma das mais hilárias narrativas do império, a qual nos pedem que acreditemos atualmente, é que os EUA estão cercando defensivamente o seu rival nº 1, a China, no outro lado do planeta. Muito claramente, os EUA são os agressores neste impasse e a China está muito simplesmente reagindo defensivamente à estas agressões.

Estes comentários vêm não muito tempo depois que o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da RPC, Mao Ning, publicou uma severa advertência aos EUA para “pararem de caminhar à beira do abismo, pararem de usar a tática do salame, pararem de agravar as coisas e de tentarem enganar o mundo sobre Taiwan”, chamando a questão de Taiwan de “a primeira linha vermelha que não deve ser cruzada” nas relações EUA-China. Como comentamos previamente, estas cada vez mais frequentes advertências sobre “linhas vermelhas” são muito similares àquelas que estão sendo anunciadas com cada vez mais urgência por Moscou antes que a diplomacia arriscada dos EUA tivesse provocado a invasão da Ucrânia.

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Comprometendo-se a ir à guerra com a China por causa de Taiwan

O chefe oficial do cartel de inteligência dos EUA fez alguns comentários no Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes na quinta-feira que parecem ter cravado o prego final no caixão da questão de “ambiguidade estratégica” de Washington, sobre se os EUA iriam à guerra contra a China em defesa de Taiwan.

Perguntado pelo congressista Chris Stewart sobre as afirmações cada vez mais explícitas do presidente Biden de que os EUA iriam à guerra contra a China sobre a questão de Taiwan, o Diretor da Inteligência Nacional, Avril Haines, afirmou que, apesar das repetidas recuadas da Casa Branca sobre estas alegações, está claro para a China que esta é de fato a política verdadeira de Washington sobre a questão de Taiwan.

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“Neste caso em particular, eu penso que esteja claro para os chineses qual é a nossa posição, baseada nos comentários do presidente”, disse Haines.

Autoridades dos EUA estão falando sobre a guerra contra a China como se fosse uma decisão precipitada

Tem havido uma marcada elevação na retórica das autoridades estadunidenses sobre uma guerra contra a China ser algo que inevitavelmente ocorrerá, ou até algo que já está em andamento.

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Numa audiência no Comitê de Inteligência do Senado dos EUA na quarta-feira, o senador John Cornyn manifestou a preocupação de que as dificuldades de repor os estoques de armamentos da guerra por procuração na Ucrânia indiquem que os EUA ainda não estejam “prontos” para uma “luta de tiros na Ásia”.

“Eu penso que a guerra na Ucrânia tenha demonstrado a debilidade da nossa indústria de base no que concerne à reposição de armamentos que estamos suprindo aos ucranianos”, disse Cornyn. “Na Segunda Guerra Mundial, nós nos tornamos o Arsenal da Democracia e salvamos a Grã-Bretanha e a Europa, mas se nos envolvêssemos em uma guerra de tiros na Ásia, nós não estaríamos prontos”.

“Eu sei o que é uma guerra — nós estamos em guerra”, disse o congressista Tony Gonzales numa audiência de Segurança da Pátria [Homeland Security] da Câmara dos Representantes na quinta-feira.

“Eu quero dizer que esta é uma guerra, talvez seja uma Guerra Fria. Mas esta é uma guerra contra a China”, adicionou Gonzales, citando coisas como um avião chinês que interceptou um avião estadunidense na fronteira da China e a China “invadindo Taiwan através do ciberespaço” como evidências de que os EUA estão “em guerra” contra a RPC.

Uma guerra direta entre potências nucleares

A máquina de guerra dos EUA está tornando cada vez mais explicita que a sua posição sobre Taiwan é muito diferente da sua posição sobre a Ucrânia, em que esta envolverá diretamente tropas as estadunidenses para lutar uma guerra quente com a China sobre Taiwan. Isto é especialmente preocupante porque o cerco militar dos EUA e as provocações sobre Taiwan estão fazendo com que aquela guerra fique cada vez mais provável, da mesma maneira que as provocações ocidentais tornaram a guerra na Ucrânia mais provável.

“Enviar mais armamentos para Taiwan não é ‘dissuasão’, é uma provocação”, escreveu nom Twitter Dave Decamp, do Antiwar, que tem documentado as provocações dos EUA em Taiwan mais minuciosamente do que qualquer outra pessoa que eu conheça. “Agora está claro que o apoio militar crescente dos EUA a Taiwan tornará um ataque chinês mais provável. Qualquer um que lhe conte outra coisa está errado, ou está lhe enganando de propósito”.

Efetivamente, o professor do University College Cork Geoffrey Roberts argumentou que Putin escolheu travar uma “guerra preventiva” na Ucrânia com o cálculo que o caminho que o Ocidente estava tornando-a numa potência militar maior significava que ela precisava ser confrontada logo, antes de se tornar uma ameaça maior. Exatamente a mesma coisa poderia facilmente estar ocorrendo com Taiwan.

“A China é a grande”, DeCamp também escreveu recentemente no Twitter. “Ambos os lados estão falando como se a guerra seja inevitável. Não uma guerra por procuração, mas sim uma guerra entre duas potências nucleares. Isso não pode ocorrer, os EUA precisam mudar de rora e devem parar a sua aglomeração militar na Ásia-Pacífico, ou estaremos condenados”.

Eu mesmo não conseguiria descrevê-lo melhor. Devemos nos opormos a isto, e nos opormos com força. Mais do que nunca, agora a humanidade parece estar a caminho de deslanchar uma cadeia de eventos para a pior coisa que possivelmente poderia ocorrer.

Alguma sanidade das mídias mainstream

Para terminar com algumas boas notícias, as mídias imperiais aparentemente não estão completamente alinhadas com a pauta da guerra-contra-a-China (pelo menos, não até agora). Todas as insanas posturas belicistas mencionadas acima parecem ter amedrontado, em alguma medida, algumas vozes influentes nas mídias de mainstream — com argumentos surpreendentemente contra a guerra emergindo nos últimos dias.

Num artigo intitulado “Who Benefits From Confrontation With China?”, ninguém menos que o conselho editorial do New York Times (NYT) pisa nos freios com um argumento selvagemente enviesado para os EUA, mas mesmo assim bem-vindo, de que “a postura crescentemente confrontadora dos EUA com relação à China é uma mudança significativa uma política exterior dos EUA que justifica um maior escrutínio e debate”.

“Os interesses dos estadunidenses são melhor servidos ao enfatizar a competição com a Chine, enquanto minimizam a confrontação. As loquazes invocações da Guerra Fria são mal orientadas”, argumenta o NYT.

Num artigo no Washington Post intitulado “Democrats and Republicans agree on China. That’s a problem” [Democratas e Republicanos concordam sobre a China. Isto é um problema], Max Boot, (sim, aquele Max Boot!) argumenta que o consenso bipartidário sobre relações exteriores sobre a escalação contra Pequim é um sinal de que alguma coisa perigosamente imprudente está sendo preparada.

“O problema atual não é que os estadunidenses estão insuficientemente preocupados com a emergência da China. O problema é que eles são presas da histeria e do alarmismo que poderia levar os EUA a fazer uma guerra nuclear desnecessária”, escreve Boot.

Fareed Zakaria (da CNN), ecoa a crítica de Boot sobre a ortodoxia da política exterior de Washington, dizendo que “Washington encampou um consenso abrangente sobre a China que se tornou um exemplo clássico de ‘groupthink’”.

Uma nova matéria do Financial Times intitulada “China is right about US containment” [A China tem razão sobre a contenção dos EUA] reconhece que os comentários de Xi Jinping mencionados acima sobre o cerco e a supressão “não estão tecnicamente errados”, e diz que apostar na submissão da China numa nova guerra fria “não é uma estratégia”.

Num artigo do Daily Beast intitulado “What the U.S. National Security Community Is Getting Wrong About China” [O que a comunidade de segurança nacional dos EUA está entendendo errado sobre a China], David Rothkopf argumenta que “Nós passamos da encruzilhada e já estamos, infelizmente, perigosamente, em pleno caminho errado” com as relações EUA-China.

Ainda permanece a ser visto se estes sentimentos serão sustentados nas mídias mainstreams. Mesmo se estes os forem, podem ser apenas a contraparte das mídias liberais sobre a maneira como é permitido aos direitistas das mídias mainstream como Tucker Carlson a objetarem à política externa dos EUA com relação à Rússia, mesmo que eles continuem a apoiar o belicismo com relação à China (todos os veículos que eu recém mencionei têm sido entusiásticos apoiadores da guerra por procuração dos EUA na Ucrânia, ao final de contas). Esta pode ser ainda uma outra instância da maneira como o império consegue fazer o rebanho da mainstream argumentar sobre como as pautas imperiais de dominação global deveriam ser promulgadas, ao invés de se estas deveriam sê-lo.

O tempo dirá se alguma sanidade surgirá da imundície do império concernente à possibilidade de inflamar a guerra mais horrível imaginável. Como sempre, nestas coisas, eu permaneço cautelosamente pessimista.

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