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Ideias

Que Diferença Faz Uma Guerra?

Artigo de Tom McCoy

(Foto: Reprodução/Russia Today)
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Um artigo de Tom McCoy originalmente publicado no TomDispatch em 21.06.22. Traduzido e adaptado por Rubens Turkienicz com exclusividade para o Brasil 247

Desde os seus primeiros dias na presidência dos EUA, Joe Biden e seus conselheiros de segurança nacional pareciam decididos a reviver a desvanecida liderança global dos EUA através da estratégia que eles melhor conheciam – desafiando os “poderes revisionistas” (https://www.atlanticcouncil.org/content-series/atlantic-council-strategy-paper-series/thwarting-kremlin-aggression-today-for-constructive-relations-tomorrow/) da Rússia e da China com uma agressividade tipo-Guerra Fria. No que tange a Beijing,o presidente combinou as iniciativas dos seus predecessores – seguindo a política de “pivot estratégico” (https://ras-nsa.ca/the-american-strategic-pivot-in-the-indo-pacific/) usada por Barak Obama do Oriente Médio à Ásia, enquanto continuava a guerra econômica de Donald Trump contra a China. Neste processo, Biden reviveu um tipo de política exterior bipartidária [republicanos e democratas juntos] não vista em Washington desde o colapso da União Soviética, em 1991.Escrevendo na edição de dezembro de 2021 da revista Foreign Affairs, um grupo de historiadores diplomáticos famosos pelas suas controvérsias concordou sobre uma coisa (https://www.foreignaffairs.com/articles/china/2021-10-19/inevitable-rivalry-cold-war): “Atualmente, a China e os EUA estão bloqueados naquilo que só pode ser chamado de uma nova guerra fria.” Apenas algumas semanas depois, o presente imitou o passado de maneiras que passaram muito até daquela avaliação pessimista – à medida que a Rússia começou a concentrar 190.000 mil soldados na fronteira com a Ucrânia. Logo depois, o presidente russo Vladimir Putin se juntaria só presidente chinês Xi Jinping em Beijing, onde eles exigiriam (https://www.theguardian.com/world/2022/feb/04/xi-jinping-meets-vladimir-putin-china-russia-tensions-grow-west) que o Ocidente “abandone as abordagens ideologizadas da Guerra Fria, cerceando tanto a expansão da OTAN na Europa Oriental quanto os pactos de segurança similares no Pacífico.À medida que a invasão da Rússia na Ucrânia assomou-se no final de fevereiro, o New York Times reportou (https://www.nytimes.com/2022/02/19/world/europe/ukraine-russia-crisis-new-cold-war.html) que Putin estava tentando “revisar o resultado da Guerra Fria original, mesmo se for ao custo de aprofundar uma nova” [guerra fria]. Alguns dias depois, quando os tanques russos começaram a entrar na Ucrânia, o New York Times publicou um editorial com o título (https://www.nytimes.com/2022/02/24/opinion/putin-biden-ukraine-russia.html) “O Sr. Putin Lança uma Continuação da Guerra Fria.” O Wall Street Journal apoiou aquela visão (https://www.wsj.com/articles/russia-china-and-the-new-cold-war-ukraine-xi-putin-bloc-dictators-alliance-invasion-11647623768), concluindo que os recentes “desenvolvimentos refletem uma nova guerra fria que Xi Jinping e Vladimir Putin iniciaram contra o Ocidente”.

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Ao invés de simplesmente aceitar o consenso da mídia convencional, nada poderia ser mais importante neste momento do que explorar a analogia à Guerra Fria e obter uma maior compreensão de como aquele passado trágico ressoa (ou não) com os apuros do presente.

A Geopolítica das Guerras Frias

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Efetivamente, há uma quantidade de paralelos entre as Guerras Frias, antigas e novas. Há uns 70 anos, em janeiro de 1950, Mao Tse Tung - o líder de uma República Popular chinesa devastada por longos anos de guerra e revolução - se encontrou (https://www.nytimes.com/1995/12/10/world/stalin-mao-alliance-was-uneasy-newly-released-papers-show.html) com o líder soviético Joseph Stalin em Moscou na qualidade de suplicante. Ele estava buscando conseguir um tratado de aliança e amizade que proveria a ajuda tão necessária para o seu recém-nascido estado comunista.Durante alguns meses, Stalin jogou com esta nova aliança ao persuadir Mao a enviar tropas para o turbilhão da Guerra na Coreia, na qual a China logo começou a sangrar em dinheiro e recursos humanos. Stalin manteve as forças militares dos EUA atoladas na Coreia até a sua morte, em 1953, quando eles procurou (https://www.history.com/news/korean-war-stalin-soviet-union) obter “uma vantagem na balança global de poder.” Com Washington focada na Ásia, Stalin consolidou o seu controle sobre os sete “estados satélites” na Europa Oriental – porém isto teve um custo. Naquela época, uma recém-criada OTAN seria transformada em uma aliança militar autêntica, quando 16 nações despacharam tropas para a Coreia.Em fevereiro passado, numa reversão dos papéis da Guerra Fria, Putin chegou como o suplicante naquela reunião de cúpula em Beijing, buscando desesperadamente o apoio diplomático do presidente chinês Xi Jinping para a sua aposta ucraniana. Proclamando as suas relações como sendo “superiores às alianças políticas e militares da era da Guerra Fria”, os dois líderes afirmaram (https://www.theguardian.com/world/2022/feb/04/xi-jinping-meets-vladimir-putin-china-russia-tensions-grow-west) que o seu entendimento “não tinha limites … não tinha quaisquer áreas 'proibidas' de cooperação.”Um pouco depois disso, o presidente russo invadiria a Ucrânia, enquanto colocava as suas forças nucleares ameaçadoramente em “alta prontidão” (https://www.nbcnews.com/news/world/putin-orders-nuclear-deterrent-forces-high-alert-tensions-build-ukrain-rcna17853) – uma advertência para o Ocidente não se intrometer nesta guerra. Num claro paralelo à velha Guerra Fria, as armas nucleares são perigosas demais para iniciar um conflito  direto entre super-potências] então, os EUA e os seus aliados na OTAN preferiram fazer uma guerra por procuração na Ucrânia. Assim como a União Soviética uma vez armou o Vietnam do Norte com mísseis terra-ar e tanques para fazer sangrar as forças militares estadunidenses, agora Washington começou a suprir Kiev com armamentos de alta tecnologia para causar danos ao exército russo.À medida que os defensores ucranianos armados com mísseis disparados dos ombros supridos pelos EUA e a OTAN destruiram 2.500 veículos armados russos, (https://www.cnn.com/europe/live-news/russia-ukraine-war-news-04-30-22/index.html) a Rússia seria forçada a recuar da sua tentativa de capturar a capital ucraniana e mudou a sua ação para o trabalho fatigante que duraria meses para capturar a região de fala russa do Donbas, perto da sua própria fronteira. Este esforço, por sua vez, desencadeou um duelo de artilharia que agora está se aproximando de uma espécie de impasse estratégico (https://www.washingtonpost.com/world/2022/05/15/ukraine-military-stalemate-ghost-villages-frontlines/) que não era visto desde a Guerra na Coreia (um conflito que permanece sem resolução 70 anos depois).No entanto, subjacente a tais similaridades superficiais entre as duas eras está uma diferença crucial, mesmo que indescritível: a geopolítica. Como eu expliquei no meu recente livro intitulado 'To Govern the Globe' ['Para Governar o Globo'] (https://www.amazon.com/dp/1642595780/ref=nosim/?tag=tomdispatch-20), isto é essencialmente um método para gerenciar o império. No auge do Império Britânico, em 1904, o geógrafo britânico Halford Mackinder publicou um artigo influente (https://www.iwp.edu/wp-content/uploads/2019/05/20131016_MackinderTheGeographicalJournal.pdf),  argumentando que, na verdade, a Europa, a Ásia e a África não eram três continentes separados, mas sim uma massa territorial unitária que ele chamou de “a Ilha-Mundo” - cujo pivô estratégico estava no “coração” da Eurásia central. Mackinder depois resumiu o seu pensamento a uma máxima memorável (https://www.files.ethz.ch/isn/139619/1942_democratic_ideals_reality.pdf): “Quem domina o coração comanda a Ilha-Mundo; Quem domina a Ilha-Mundo comanda o Mundo.”

Aplique os princípios de Mackinder à antiga Guerra Fria e você pode ver, efetivamente, uma geopolítica subjacente que dá coerência a um conflito de outra maneira desigual, espalhado por quatro décadas e em cinco continentes. Nos 500 anos desde que as explorações europeias colocaram os continentes em contato contínuo, o surgimento de cada potência mundial importante exigiu uma coisa acima de todas: a dominação da Eurásia, que agora abrigava 70% da população e da produtividade mundial. Graças a Mackinder, estes cinco séculos de rivalidade imperial poderiam ser resumidos num sucinto axioma geopolítico: “O exercício de hegemonia global exige o controle sobre a Eurásia e a contestação sobre aquele vasto continente determina o destino de impérios e as suas ordens mundiais.”

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Quando a Guerra Fria terminou, em 1991, Washington traduziu aquele axioma em uma estratégia de três partes para derrotar a União Soviética. Primeiro, eles cercaram a Eurásia com bases militares e pactos de defesa mútua para conter Beijing e Moscou por detrás de uma “Cortina de Ferro” que se extendia por mais de 8.000 quilômetros [5 mil milhas] naquela vasta massa territorial. 

Em uma varredura magistral através de um milênio de história da Eurásia, o estudioso de Oxford John Darwin descobriu que, após a Segunda Guerra Mundial, Washington alcançou seu “imperium colossal... confins da Eurásia.” Inicialmente, Washington defendeu o eixo ocidental da Eurásia por meio do pacto de defesa da OTAN assinado com uma dúzia de aliados em abril de 1949, tornando a Guerra Fria, em seu início, pouco mais que um conflito regional sobre a Europa Oriental. Em segundo lugar, os EUA intervieram – usando a forças convencionais ou operações clandestinas da CIA – em qualquer lugar onde os comunistas ameaçavamexpandir o seu poder além daquela “cortina”, fosse na Coreia, no Sudeste da Ásia, no Oriente Médio ou na África sub-Sahariana. Por último, Washington defendeu agressivamente o seu próprio continente de influências comunistas de qualquer tipo, mesmo que nativas – fosse em Cuba, na América Central, ou no Chile.

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No entanto, em outubro de 1949, os comunistas surpreenderam o mundo ao capturar a China. Moscou forjou, então, uma aliança Sino-Soviética que, de repente, ameaçava tornar-se a força dominante na massa territorial da Eurásia. Em resposta à isto, Washington moveu-e rapidamente para se contrapor àquele desafio geopolítico ao forjar quatro pactos bilaterais de defesa – desenvolvendo, assim, uma cadeia de mais de 8.000 quilômetros de bases militares ao longo do litoral do Pacífico, do Japão à Coreia do Sul, chegando até a Austrália. Ao servir como a fronteira para a defesa de um continente (a América do Norte) e como um tranpolim para a sua dominação de um outro continente (a Eurásia), o litoral do Pacífico se tornaria um sustentáculo-chave de Washington.

Nos anos de 1960, a aliança Sino-Soviética de repente entraria em colapso com uma amarga rivalidade (https://www.nationalcoldwarexhibition.org/schools-colleges/national-curriculum/detente/sino-soviet-split.aspx) – um golpe de sorte para Washington, o qual deixou Moscou sem um aliado importante em qualquer lugar da Eurásia. Cambaleando depois da sua fratura com Beijing, os líderes soviéticos passariam várias décadas tentando, sem sucesso, romper o seu isolamento geopolítico ao expandir-se na América Latina, no Sudeste da Ásia, no Oriente Médio, na África Meridional e, fatalmente, no Afeganistão – catalizando uma sucessão de conflitos locais que levaram à morte uns 20 mihões de pessoas entre 1945 e 1990 (https://www.amazon.com/Cold-Wars-Killing-Fields-Rethinking/dp/006236720X).

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Um Novo Equilíbrio Geopolítico

Ao final da Guerra Fria, quando os EUA pareciam estar montados noglobo como um Titã da lenda grega, Zbigniew Brzezinski, o antigo conselheiro de segurança nacional do presidente Jimmy Carter e um devoto da teoria geopolítica de Mackinder, advertiu (https://www.cia.gov/library/abbottabad-compound/36/36669B7894E857AC4F3445EA646BFFE1_Zbigniew_Brzezinski_-_The_Grand_ChessBoard.doc.pdf) que Washington deveria cuidarse para evitar três armadilhas que poderiam erodir o seu poder global. Ele avisou que, [os EUA] deveriam preservar a sua estratégia de “empoleirar-se na periferia ocidental” da Eurásia através da OTAN; que [os EUA] deveriam evitar “a expulsão do EUA das suas bases no exterior” ao longo do litoral do Pacífico; e que deveriam bloquear o surgimento de uma “entidade assertiva única” no “espaço do meio” daquela vasta massa territorial.

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Agora, pule três década e, em resposta à invasão da Rússia na Ucrânia, os países da OTAN trabalharam com uma surpeendente unanimidade para aplicar sanções sobre Moscou, para enviar armamentos avançados para Kiev e até para abranger as previamente Suécia e Fonnlância como possíveis membros. Desta maneira, Washington parece haver forjado uma solidaiedade trans-atlântica não vista desde a Guerra Fria e haver preservado, pelo menos por ora, a estratégia de Washington “empoleirar-se na periferia ocidental” da Eurásia.

Com a sua surpreendentemente brusca declaração (https://abcnews.go.com/Politics/wireStory/biden-us-intervene-military-defend-taiwan-84904398) no mês passado de que os EUA “se envolveiram militarmente para defender Taiwan” (um líder-chave da economia global através da sua produção em massa de sofisticados circuitos computadorizados) e a sua advertência que um possível ataque chinês à Taiwan seria “similar ao que ocorreu na Ucrânia”, o presidente Biden tem tentado afirmas uma presença militar estadunidense cada vez mais forte no Pacífico. No entanto, a China também está se movendo naquela região – militarmente (https://www.nytimes.com/2022/06/09/world/asia/china-military-united-states-australia-canada.html), politicamente e diplomaticamente, potencialmente conquistando (https://www.nytimes.com/2022/05/31/world/australia/china-united-states-pacific.html) ilhas que uma vez (https://responsiblestatecraft.org/2022/06/11/who-lost-fiji/) foram territórios preservados dos EUA.

Seja o que fôr que Washington fez para fortalecer o seu “poleiro estratégico” na Europa ao reunir a OTAN e também os seus aliados no Pacífico, os EUA claramente falharam em cumprir o terceiro critério crítico de Brzezinski para a preservação do seu poder global. Efetivamente, o surgimento da China como uma “entidade assertiva unificada” no “espaço do meio” fundamental da Eurásia se provou como um golpe geopolitico fatal para as ambições globais de Washington – o equivalente do que o impacto do rompimento sino-soviético teve em Moscou durante a Guerra Fria.

À medida que as suas reservas estrangeiras alcançaram extraordinários US$ 4 trilhões em 2014, Beijing anunciou (https://www.cfr.org/backgrounder/chinas-massive-belt-and-road-initiative) a Iniciativa das Rotas da Seda (BRI - 'Belt and Road Intiative') de US$ um trilhão, alocados para contruir um bloco econômico abrangendo a ilha-mundo tricontinental inteira de Mackinder. A fim de superar as vastas distâncias da Eurásia, a China começou a construir rapidamente uma rede de aço de ferrovias, estradas e gasodutos que, quando forem integrados com as redes russas, alcançariam todo o continente. Um estudo do Banco Mundial descobriu (https://www.worldbank.org/en/news/press-release/2019/06/18/success-of-chinas-belt-road-initiative-depends-on-deep-policy-reforms-study-finds) que, em apenas cinco anos, os projetos de transporte da BRI estavam impulsionando em até 9,7 % o comércio entre 70 nações e tirando 32 milhões de pessoas da pobreza. Espera-se que até 2027, Beijing consigne US$ 1,3 trilhões (https://www.cfr.org/backgrounder/chinas-massive-belt-and-road-initiative) a este projeto – o que faria do mesmo o maior investimento da história, mais de 10 vezes a ajuda estrangeira que Washington alocou ao seu famoso Plano Marshall que reconstuiu a Europa devastada após a Segunda Guerra MundialA fim de fortalecer a sua influência regional e enfraquecer o controle dos EUA sbre o litoral do Pacífico, a China também usou o BRI para cortejar aliados na região da Ásia-Pacífico. Na verdade, em 2020, a China formou uma Parceria Econômica Regional Abrangente  (https://www.brookings.edu/blog/order-from-chaos/2020/11/16/rcep-a-new-trade-agreement-that-will-shape-global-economics-and-politics/), o maior pacto comercial do mundo,com 15 nações da Ásia-Pacífico, representando 30& do comércio global.

Pegando uma folha do livro de jogos geopolíticos de Stalin, o presidente XI tem muito à ganhar com o mergulho de cabeça de Putin na Ucrânia. À curto prazo, o foco de Washington na Europa desacelera qualquer estratégia séria de “girar” para o Pacífico, permitindo a Beijing consolidar mais ainda a sua  florescente dominação comercial lá. Ao aliar-se com a Rússia e, assim, satisfazendo as suas próprias necessidades de alimentos e energia, enquanto mantém os laços com a Europa através da neutralidade formal na guerra da Ucrânia, Beijing poderia emergir, como o fez Moscou após a Guerra do Vietnam, com a sua influência global marcadamente melhorada e a posição geopolítica dos EUA significativamente enfraquecida.

Os Limites da Analogia Histórica

Sejam quais forem as continuidades geopolíticas entre as duas eras, a história também tece meadas de descontinuidade – fazendo o passado, na melhor das hipóteses, um guia imporfeito para o presente. Durante os 30 anos após o fim da Guerra Fria, uma globalização econômica implacável incorporou a China como a oficina industrial do mundo e a Rússia como provedora de energia, minérios e grãos para a economia mundial.

Como resultado disso, e apesar das recentes sanções, uma “contenção” geopolítica deste tipo uma vez usada contra o débil comando da economia da velha União Soviética já não é possível. Com a guerra já causando aquilo que o Banco Mundial (https://thedocs.worldbank.org/en/doc/5d903e848db1d1b83e0ec8f744e55570-0350012021/related/Implications-of-the-War-in-Ukraine-for-the-Global-Economy.pdf) chama de “uma enorme crise humanitária”, há pressões crescentes (https://www.eeas.europa.eu/eeas/russia’s-invasion-ukraine-puts-global-economy-risk_en) para se enontrar alguma maneira de reintegrar a Rússia numa economia global que está sofrendo muito (https://www.dallasfed.org/research/economics/2022/0517) com o ostracismo de um país que figura (https://www.coface.com/News-Publications/News/Economic-consequences-of-the-Russia-Ukraine-conflict-Stagflation-ahead) como o primeiro do mundo na exportação de trigo e fertilizantes, segundo na produção de gás e terceiro na produção de petróleo.Ao bloquear os portos da Ucrânia no Mar negro e avançar para tomar o seu principal porto, Odessa, Putin imterrompeu as exportações de grãos tanto da Rússia quanto da Ucrânia – os quais, juntos, proveem quase um terço (https://apnews.com/article/russia-ukraine-united-nations-antonio-guterres-3d063c88758ae0525e03fe0874a7b5ab) do trigo e da cevada do mundo e são, assim, críticos para alimentar o Oriente Médio, bem como grande parte da África (https://www.downtoearth.org.in/blog/africa/russia-ukraine-crisis-highlights-africa-s-need-to-diversify-its-wheat-sources-82407). Com o fantasma iminente da fome em massa para cerca de 270 milhões de pessoas e, como a ONU advertiu recentemente (https://www.un.org/press/en/2022/sgsm21285.doc.htm), com o crescimento da instabilidade política naquelas voláteis regiões, mais cedo ou mais tarde, o Ocidente terá que chegar a algum entendimento com a Rússia.De maneira similar, o embargo crescente da Europa (https://www.nytimes.com/2022/04/04/business/russia-europe-natural-gas.html) das exportações de gás natural e de petróleo da Rússia está se provando como prifundamente disruptivo para os mercados globais de energia, alimentando a inflação nos EUA e alçando agudamente os preços dos combustíveis no continente. Putin já deslocou com sucesso (https://www.nytimes.com/2022/06/01/business/energy-environment/europe-russia-oil-global-energy.html) muito das exportações de petróleo e gás do seu país da Europa para a China e a Índia (https://www.nytimes.com/2022/05/04/world/asia/india-russia-oil.html). Dentro de poucos meses, o embargo da União Europeia provavelmente baterá numa parede, quando a Alemanha descobrir que o fechamento prematuro das suas usinas de energia nuclear (https://www.theatlantic.com/ideas/archive/2021/12/germany-california-nuclear-power-climate/620888/) criou uma dependência irresolvível das importações de gás natural russo.À medida que o conflito na Ucrânia se torna um impasse miliar prolongado, há alguns sinais de que ambos os lados estão chegando nos seus limites de sustentar a guerra e ainda podem ser forçados a buscar uma resolução diplomática. Mesmo que prossiga o fluxo de armas pesadas dos países ocidentais, o maltratado exército da Ucrânia, na melhor das hipóteses, pode empurrar a Rússia de volta (https://www.brookings.edu/blog/order-from-chaos/2022/05/23/the-russia-ukraine-war-at-three-months/) ao território que ela [Ucrânia] detinha antes do início das hostilidades, talvez deixando a Rússia em controle do sudeste da Ucrâia, de uma boa parte ou de toda a região do Donbas, e da Crimeia.Em contraste com a retórica triunfalista do Pentágono (https://www.washingtonpost.com/world/2022/04/25/russia-weakened-lloyd-austin-ukraine-visit/) sobre o uso da guerra para tornar as forças militares russas permanentemente “enfraquecidas”, o presidente francês Emmanuel Macron fez uma sóbria sugestão (https://www.reuters.com/world/europe/russia-must-not-be-humiliated-despite-putins-historic-mistake-macron-2022-06-04) de que “nós não devemos humilhar a Rússia, então... podemos construir uma rampa de saída através de meios diplomáticos.” Apesar de ser controversa, esta visão ainda pode prevalecer. Assim sendo, pode muito bem haver um acordo diplomático pelo qual a Ucrânia permute partes de território em troca da aceitação de uma status neutro parecido com o da Áustria, permitindo que ela entre na União Europeia, porém não na OTAN.Ao atacar a Ucrânia e alienar a Europa, Putin sofreu um golpe geopolítico sério, porém não fatal. Estando bloqueado de se expandir para o oeste, agora ele está acelerando o giro da Rússia para o leste (https://www.marshallcenter.org/en/publications/security-insights/strategic-culture-and-russias-pivot-east-russia-china-and-greater-eurasia-0) e está integrando rapidamente a sua economia com a da China. Ao fazê-lo, ele provavelmente consolidará a dominação geopolítica de Beijing sobre o vasto território da Eurasia – o epicentro do poder global -, enquanto os Estados Unidos, chafurdando no seu caos doméstico, sofre um declínio distintamente não do tipo da Guerra Fria.

Neste século, como no anterior, a luta geopolítica sobre a Eurasia tem se comprovado ser uma questão questão implacável - a qual provavelmente contribuirá, nos próximos anos, tanto para a ascenção de Beijing, quanto para a atual erosão daquilo que uma vez foi a formidável hegemonia de Washington.

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