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Ideias

Ucrânia será dividida entre Rússia e Ocidente? Analista faz previsões sobre futuro do país

Analista do The Saker explica atual situação da Ucrânia, a irrelevância do país para o Ocidente e os conflitos geopolíticos envolvendo a região

(Foto: REUTERS/Dado Ruvic)
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A Ucrânia será dividida? E, se for, como?

Artigo do The Saker. Traduzido e adaptado para o português por Rubens Turkienicz com exclusividade para Brasil 247

Informações interessantes de hoje (16/8/22). Primeiro, o Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia, através de uma declaração de um Coronel-General, pronunciou a seguinte declaração (traduzida do russo ao inglês pelo meu amigo Andrei Martyanov no seu blog): (ênfase do autor)

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MOSCOU, 16 de agosto de 2022 – RIA Novosti. Os curadores ocidentais praticamente eliminaram o regime de Kiev e já estão planejando a divisão da Ucrânia, disse o porta-voz do Serviço de Inteligência Estrangeira, Coronel-General Volodymyr Matveev na Conferência de Moscou sobre Segurança Internacional. “Obviamente, o Ocidente não está preocupado com o destino do regime de Kiev. Como pode ser visto na informação recebida pela SVR, os curadores ocidentais praticamente eliminaram o regime e estão desenvolvendo planos a todo vapor para a divisão e ocupação de pelo menos uma parte das terras ucranianas”, disse ele. No entanto, segundo o general, há muito mais em jogo do que a Ucrânia: para Washington e seus aliados, se trata do destino do sistema colonial de dominação do mundo.

Só para esclarecer, o SVR [Serviço de Inteligência Estrangeira da Rússia] raramente faz declarações públicas; e, quando eles o fazem, você pode estar certo que o SVR não está no negócio de fazer “vazamentos” de “fontes bem informadas” e todo o resto de bobagens de relações públicas produzidas pelas chamadas agências ocidentais de “inteligência” (que agora foram totalmente convertidas em veículos altamente politizados de propaganda).

No mesmo dia, eu vejo o seguinte artigo no website da RT: “Os países ocidentais estão esperando pela 'queda da Ucrânia'-Kiev”, no qual uma interessante declaração do Ministro de Relações Estrangeiras Ukronazista é mencionada:

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“Diversos países no Ocidente estão esperando que Kiev se renda e pensam que, assim, os seus problemas se resolverão imediatamente, disse o Ministro de Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitry Kuleba, numa entrevista publicada na terça-feira. “Eu sou frequentemente perguntado em entrevistas e quando converso com outros ministros de relações exteriores: Quanto tempo vocês durarão? Ao invés de perguntarem o que mais poderia ser feito para nos ajudar a derrotar Putin no tempo mais curto possível”, disse Kuleba, assinalando que tais perguntas sugerem que todos “estão esperando pela nossa queda, para que os problemas deles desapareçam por si próprios.”

Há algum tempo, finalmente, Dmitri Medvedev publicou na sua conta no Telegram este “futuro mapa da Ucrânia após a guerra”. Este mapa mostra a Ucrânia dividida entre os seus vizinhos e uma pequena anca de Ucrânia deixada ao centro.

ucrania-dividida

Em uma revelação completa, por um longo tempo eu tenho sido um proponente da divisão da Ucrânia em diversos estados sucessores: eu expliquei as minhas razões para isso no meu artigo “O caso para a divisão da Ucrânia”, publicado em 2016.

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Agora, seis anos depois, quais são as probabilidades de isto ocorrer?

Sem fazer previsões – o que é quase impossível neste momento, já que há demasiadas variáveis que podem influenciar dramaticamente o resultado – eu quero listar alguns argumentos a favor e contra a probabilidade (ao contrário do desejado) de termos tal resultado.

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Argumentos à favor da probabilidade deste resultado:

  • Primeiro, a maior parte dos vizinhos da Ucrânia se beneficiariam de tal resultado. A Polônia não conseguiria o “Intermarium” com o qual sempre sonhou, porém receberia de volta as terras que pertenceram historicamente à Polônia e são habitadas por muitos poloneses. Neste mapa, a Romênia também faria um bom negócio, embora a Moldávia perderia a Transnístria – a qual ela tinha uma possibilidade real de jamais conseguir controlar, seja como for. Assim sendo, a Romênia poderia até absorver toda a Moldávia. É verdade que, neste mapa, a Hungria ganha (quase) nada, mas esta é uma questão que a Hungria deve enfrentar com a Polônia e a Romênia, e não com a Rússia.
  • A Rússia poderia nem se opor a tal desenvolvimento, simplesmente porque ele transforma o problema Ukronazista em uma questão para outros resolverem. Desde que aquilo que a atual Ucrânia é, seja totalmente desmilitarizada e desnazificada, a Rússia estará de acordo com um resultado destes.
  • A anca ex-Banderastão [seguidores do ex-líder fascista Bandera] seria tão reduzida em tamanho, população e recursos, que ela representaria uma ameaça pequena ou inexistente para qualquer um. Crucialmente, os russos jamais permitiriam que ela tivesse mais do que uma força mínima de polícia e segurança interna (pelo menos enquanto ainda restam sequer traços da ideologia Banderista Ukronazista em qualquer lugar próximo à Rússia). As probabilidades efetivas desta anca de Banderistão se tornar uma ameaça para qualquer parte seria próxima de zero. Isso sem mencionar o fato que, mesmo que esta anca de Banderistão pudesse se tornar algum tipo de ameaça, seria muito mais fácil lidar com ela do que a ameaça que a Rússia enfrentou no início de 2022.
  • Objetivamente, os países europeus teriam o melhor resultado possível para eles – eis que estar em um estado constante de guerra total por procuração é algo absolutamente insustentável para os países da Europa.
  • Quanto a Biden, presumindo que ele ainda esteja vivo e no poder (?), isso possibilitaria que “ele” remova das manchetes o tópico da última guerra perdida (novamente!) dos EUA e possa tratar de outras questões.
  • A Ucrânia tem sido um tamanho desperdício de dinheiro – bilhões e mais bilhões – que se tornou um buraco negro, com um horizonte de eventos que não permite tirar coisa alguma dela além de fazer simplesmente desaparecer dinheiro, equipamento e homens. Este é claramente um dreno insustentável para as economias do Ocidente.
  • No entanto, teoricamente, se um acordo for feito e todas as partes concordarem, então a União Europeia (UE) poderia remover pelo menos as piores, senão todas as sanções mais auto-danosas que ela implementou estupidamente – as quais agora estão destruindo a economia da UE.
  • Para os EUA, o maior benefício de tal resultado poderia, teoricamente, ser de que eles “fechariam a frente russa” e isso permitiria aos EUA focalizar o seu ódio e a sua agressão contra a China.

No entanto, também há muitos argumentos contra tal resultado:

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  • Primeiro, as classes dominantes ocidentais, bêbadas de russofobia total, teriam que aceitar que a Rússia ganhou esta guerra (novamente) e derrotou os poderes combinados do Ocidente (de novo). Isto significaria uma imensa 'perda de personalidade' e de credibilidade política para todos os envolvidos na guerra política contra a Rússia.
  • Segundo, para a OTAN isto seria um desastre. Lembrem-se que a verdadeira meta da OTAN é “manter os russos fora, os estadunidenses dentro e os alemães para baixo”. Neste caso, como é que uma OTAN até expandida poderia aceitar o fato que não conseguiria fazer coisa alguma para impedir os russos de alcançarem todas as suas metas?
  • Razão seguinte: enquanto os povos da UE estão sofrendo com as políticas econômicas devastadoras dos seus governantes, as classes dominantes (os 1% da UE) estão se dando muito bem, obrigado, e pouco se importam com as pessoas que eles governam.
  • Tal resultado também desafiaria diretamente o desejo dos EUA de ter um mundo unipolar gerido pelo Tio Sam como o Hegemon do mundo. Aqui, o risco é de termos um efeito dominó político, no qual cada vez mais países lutarão para conseguir a sua verdadeira soberania – o que seria uma ameaça direta ao modelo econômico estadunidense.
  • Tal resultado será quase certamente inatingível enquanto os Neocons comandarem os EUA. E, já que NÃO há sinais de enfraquecimento da mão de ferro dos Neocons em todas as alavancas dos poderes políticos nos EUA, tal resultado só poderia ocorrer se os Neocons doidos fossem mandados de volta ao porão ao qual eles rastejaram para fora e ao qual pertencem. Nada provável para o futuro previsível.
  • Este foco na divisão da Ucrânia negligencia o fato de que a Ucrânia não é o verdadeiro inimigo da Rússia. Na verdade, a Ucrânia perdeu a guerra para a Rússia nos primeiros 7-10 dias depois do início da Operação Militar Especial da Rússia na Ucrânia. Desde então, não é a Ucrânia contra quem a Rússia está lutando, mas sim contra o Ocidente consolidado. Se o inimigo real é o Ocidente consolidado, então pode se argumentar que qualquer resultado limitado à Ucrânia não arrumaria nem resolveria coisa alguma. Na melhor das hipóteses, isso poderia ser um estágio intermediário de uma guerra muito maior e mais longa na qual a Rússia terá que desmilitarizar e desnazificar não só o Banderistão, mas, pelo menos, todos os países da UE/OTAN.
  • Porquanto para alguns a guerra ucraniana tem sido um desastre econômico, ela tem sido uma sorte inesperada para o (terminalmente corrupto) Complexo Militar-Industrial dos EUA. Eu sequer entrarei nos óbvios laços de corrupção que a família Biden tem em Kiev. Caso esta “solução Medvedev” seja algum dia realizada, então todo aquele dinheiro fácil desapareceria.
  • Além disso, enquanto dentre os argumentos de tal resultado eu listei a capacidade dos EUA de “fechar a frente contra a Rússia” e focalizar na China, na verdade tal argumento presume algo muito improvável: que ainda seja possível separa a Rússia e a China, e que a Rússia permitiria que os EUA ataquem a China. Dito de maneira simples, a Rússia não pode permitir que a China seja derrotada, muito menos que a China possa permitir uma derrota da Rússia. Portanto, toda a noção de “fechar a frente russa” é ilusória; na verdade, as coisas foram longe demais para isso e nem a Rússia, nem a China permitirão que os EUA as derrubem uma de cada vez.
  • A UE é operada por uma classe dominante compradora que é totalmente subserviente aos interesses dos Neocons dos EUA. Já há muitas tensões internas dentro da UE e tal resultado seria um desastre para todos aqueles políticos da UE que se encurralaram num canto de uma guerra total contra a Rússia; mesmo que, digamos, os poloneses, os romenos ou até os húngaros obtenham algum benefício de tal resultado, isso seria inaceitável para os bandidos que mandam atualmente na Alemanha, no Reino Unido e até na França.

 

Os argumentos a favor e contra tal resultado que eu listei acima são apenas alguns exemplos; na verdade, há muitos mais argumentos de ambos os lados desta questão. Além disso, o que fazia sentido há 6 anos pode não ter sentido atualmente.

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Por exemplo: esta discussão focaliza no “o quê” e não no “como”. Permitam-me explicar.

Eu penso que fui a primeira pessoa no Ocidente que notou e traduziu uma expressão-chave russa: “incapaz de concordar” (недоговороспособны) [ou, concordar em discordar, nas línguas latinas e anglo-saxãs]. Esta expressão tem sido cada vez mais usada pelos tomadores de decisões russos, políticos, comentadores políticos e outros. Ao final, até as pessoas no Ocidente adotaram esta expressão. Então, vamos revisar de novo esta questão, tendo em mente que os russos agora estão totalmente convencidos que o Ocidente é simplesmente “não-capaz de concordar”. Eu argumentaria que, até o ultimato russo aos EUA e à OTAN, os russos ainda deixavam a porta aberta para algum tipo de negociação. No entanto, como eu previ ANTES do ultimato russo, a Rússia tirou a única conclusão possível da posição do Ocidente: se os seus parceiros (sarcasmo) são incapazes de concordar, então é chegado o momento para o unilateralismo russo.

É verdade que, desde 2013, ou até de 2008, já havia sinais de que a tomada de decisão russa está se movendo gradualmente na direção do unilateralismo. Mas o ultimato russo e a Operação Militar Especial agora são sinais “puros” da adoção do unilateralismo pela Rússia, pelo menos com relação ao Ocidente consolidado.

Se isto estiver correto, então eu sugeriria que a maior parte dos argumentos listados acima, de ambos os lados da questão, se tornaram basicamente obsoletos e irrelevantes.

Além disso, eu gostaria de adicionar um pequeno lembrete aqui: a maior parte das operações de combate na Ucrânia sequer são conduzidas por forças russas; elas são realizadas pelas forças de Lugansk, apoiadas pelo C4ISR e pela artilharia. Porém, em termos de potencial militar rela, a Rússia usou menos de 10% das suas forças militares e Putin foi bastante sincero sobre isso quando disse que “nós sequer começamos a agir seriamente”.

O que pensa que esta guerra seria se a Rússia decidisse realmente lançar o seu poder militar completo – i.e., os 90% das forças que não estão participando atualmente da Operação Militar Especial?

Eis aqui uma verdade simples que a maioria das pessoas no Ocidente sequer conseguem imaginar: a Rússia não tem medo algum da OTAN.

Seja como for, os russos já entenderam que eles têm os meios para impor qualquer resultado que eles desejarem para se impor unilateralmente sobre os seus inimigos. A noção de um ataque dos EUA/OTAN à Rússia é simplesmente risível. Sim, os EUA têm uma força submarina muito poderosa, a qual pode disparar muitos mísseis Tomahawk e Harpoon contra alvos russos. E, sim, os EUA ainda tem uma robusta tríade nuclear. Porém, nenhuma destas coisas ajudará os EUA a vencer uma guerra terrestre contra as forças armadas russas.

E, não, enviar uns quantos milhares de soldados estadunidenses a este ou outro país da OTAN para “reforçar o flanco oriental da OTAN” é pura relações públicas; militarmente, isto não é sequer irrelevante, é risível. Eu sequer comentarei sobre o envio dos caças F-35, o que é completamente ridículo e inútil contra as forças aeroespaciais e as defesas aéreas da Rússia, porque não vou me incomodar de argumentar com aqueles que não compreendem o quão ruins realmente são os F-35 (e até mesmo os F-22).

Não vou dignificar as capacidades militares da UE com qualquer outro comentário para além deste: os países que agora defendem seriamente a tomada de banhos menos frequentes para "denunciar Putin!" afundaram-se a tal nível de irrelevância e degenerescência que não podem ser levados a sério, muito menos na Rússia.

Então, para onde vamos daqui?

Como eu disse, eu não sei; há demasiadas variáveis. Porém, algumas coisas me parecem claras:

  • A Rússia optou pelo unilateralismo total nas suas políticas com relação à Ucrânia e ao Ocidente. Ah, claro, se e quando for necessário, os russos ainda concordarão em conversar com os seus “parceiros” ocidentais; mas isso se deve à política russa de longa data de sempre conversar com todos e com qualquer um, mesmo com os seus piores inimigos. Por quê? Porque nem a guerra, nem o unilateralismo político são fins em si mesmos; eles são apenas meios para alcançar uma meta política específica. Sendo assim, sempre é bom sentar-se com o seu inimigo, especialmente se você tem aumentado gentilmente e gradualmente o botão da dor para eles durante alguns meses. Sendo as “grandes e indolentes geleias protoplasmáticas invertebradas” (para citar BoJo) que eles são, os europeus poderão desmoronar rapidamente e de repente, ou, no mínimo, tentarão melhorar a sua sorte tentando evitar o uso das suas próprias sanções (com a permissão do Tio Sam, mesmo que relutantemente).
  • A única parte com alguma ação real remanescente, com quem a Rússia consideraria negociar seriamente são os EUA, logicamente. No entanto, enquanto os EUA permanecem sob o controle dos Neocons, este é um exercício fútil.
  • Caso haja algum dia qualquer tipo de acordo, será apenas aquele que seja completamente e totalmente verificável. Ao contrário das crenças populares, muitos tratados e acordos podem ser construídos para serem completamente verificáveis; isso, por si mesmo, não é um problema técnico. No entanto, com as atuais classes dominantes no Ocidente, não é provável que algum acordo deste tipo seja montado e acordado por todas as partes envolvidas.

Então, o que sobra?

Há um ditado russo que a minha avó me ensinou quando eu era criança: “As fronteiras da Rússia são encontradas na ponta da lança de um Cossaco”. Este ditado, nascido dos 1000 anos de guerra existencial sem fronteiras naturais, simplesmente expressa uma realidade básica: as forças armadas russas são aquelas que decidem até onde vai a Rússia. Ou, pode-se colocar isto assim: “as únicas fronteiras naturais da Rússia são as habilidades das forças armadas russas”. Pense nisso como sendo um unilateralismo russo de antes de 1917. :-) 

Mesmo assim, isto coloca a questão dos alicerces morais e éticos de tal postura. Ao final das contas, isso não sugere que a Rússia se dá o direito de invadir qualquer país, simplesmente porque ela pode fazê-lo

Definitivamente, não!

Enquanto houve guerras imperialistas e expansionistas na história russa, comparadas com os 1000 anos de imperialismo de uma parede à outra, a Rússia não é senão um cordeiro manso e gentil! Não que isto desculpe qualquer coisa, isto é apenas um fato. O resto das guerras russas, quase todas elas, foram guerras existenciais pela sobrevivência e a liberdade da nação russa. Eu não consigo pensar numa “guerra mais justa” do que aquela que: 1) foi imposta a você e 2) uma na qual a sua única meta é sobreviver enquanto uma nação livre e soberana – especialmente uma nação multiétnica e multi-religiosa como a Rússia sempre foi, em contraste com os inimigos da Rússia, que sempre foram movidos pelo fervor religioso, nacionalista e até abertamente racista (que é o que todos podemos observar atualmente, muito depois do fim da Segunda Guerra Mundial).

Será que isto é apenas propaganda? Se você pensa assim, então você pode estudar a história russa; ou melhor, estudar a atual doutrina militar russa, e você verá que o planejamento da força da Rússia é inteiramente defensivo, especialmente ao nível estratégico. A melhor prova disso é que a Rússia tolerou durante décadas todas as políticas racistas e russofóbicas da Ucrânia, ou dos três pequenos estados bálticos sem fazer ação alguma. Porém, quando a Ucrânia se tornou um país de facto da OTAN, por procuração, e ameaçou diretamente não só o Donbass, mas a própria Rússia (será que alguém ainda se lembra dos dias antes da Operação Militar Especial, quando “Ze” declarou que a Ucrânia deveria ter armas nucleares?!), aí, então, a Rússia entrou em ação. Você tem que ser cego, ou fantasticamente desonesto, para não admitir este fato auto-evidente.

[Box: diga-se de passagem, os três pequenos estados bálticos, os quais são inúteis para a Rússia, estão constantemente tentando se tornar ameaças militares à Rússia – não só por hospedar forças da OTAN, mas também pelos seus planos idiotas de “bloquear” o Báltico com a Finlândia. Combine isto com as políticas nazistas de Apartheid anti-russas com relação às minorias russas, e você será perdoado por pensar que os bálticos realmente querem ser os próximos a serem desnazificados e desmilitarizados. “Mas... mas…” - você diria - “como eles são membros da OTAN eles não podem ser atacados!”. Bem, se você acredita que 1) alguém na OTAN lutará contra a Rússia por estes três pequenos estados, ou 2) que a OTAN tem os meios militares para protegê-los; então tenho muitas pontes fantásticas para vos vender. Assim mesmo, a maneira mais eficaz de lidar com os bálticos é deixá-los cometer um suicídio econômico – o que, basicamente, eles já fizeram – e, depois, prometer a eles umas quantas “cenouras econômicas” para adotarem uma atitude mais civilizada. Um ditado russo diz que “o refrigerador vence contra a TV” (победа холодильника над телевизором), que significa que, quando o seu refrigerador está vazio, a propaganda na TV perde o seu poder. Eu penso que o futuro dos três pequenos estados bálticos será definido por este aforismo.]

Então, será que a Ucrânia será dividida?

Sim, definitivamente; ela já perdeu imensas partes do seu território e perderá ainda mais.

Será que os vizinhos ocidentais podem decidir tirar uma mordida da Ucrânia ocidental? Certamente! Esta é uma possibilidade real.

Porém estas serão ações unilaterais, ou muitos entendimentos não-oficialmente coordenados, embrulhados em negações plausíveis (como a alocação de “pacificadores” poloneses para “proteger” a Ucrânia ocidental). Porém, na sua maior parte, eu prevejo duas coisas que ocorrerão: 1) a Rússia cumprirá as suas metas unilateralmente, sem ter que fazer acordos com ninguém, e 2) a Rússia só permitirá que os vizinhos ocidentais da Ucrânia mordam alguns pedaços da Ucrânia se, e somente se, estes pedaços não representem qualquer ameaça militar à Rússia. 

Vocês se lembram do que Putin disse a respeito da Finlândia e a Suécia entrarem para a OTAN? Ele disse que, por si só, isso não é um problema para a Rússia. Porém ele advertiu que, se estes países hospedarem forças e sistemas de armas da OTAN que ameacem a Rússia, então a Rússia terá que tomar medidas contra isso. Eu penso que esta também é a posição do Kremlin sobre o futuro de qualquer anca do Banderistão e quaisquer movimentos dos países da OTAN (incluindo a Polônia, a Romênia e a Hungria) para retomar territórios que lhes pertenceram historicamente, ou que tenham minorias polonesas, romenas ou húngaras substanciais.

Neste momento, nós estamos apenas na segunda fase da Operação Militar Especial (que está centrada no Donbass) e a Rússia sequer iniciou quaisquer operações para adentrar mais profundamente na Ucrânia. Quanto à guerra real, a guerra entre a Rússia e o Ocidente combinado, está em vigor há não menos de uma década, ou mais, e esta guerra durará muito mais do que a Operação Militar Especial na Ucrânia. Ao final, o resultado desta guerra verá mudanças tectônicas e profundas, pelo menos tão dramáticas quanto as mudanças resultantes dos resultados da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais.

Os russos compreendem que o que eles realmente devem fazer é terminar de verdade a Segunda Guerra Mundial e que o final formal da Segunda Guerra Mundial em 1945 apenas marcou a transição para um tipo diferente de guerra ainda imposto por um Ocidente unido e consolidado – agora não mais pelos nazistas alemães, mas (na sua maior parte) pelos Neocons dos EUA (os quais, obviamente, são racistas nazistas típicos, com exceção do fato que o racismo deles é Anglo e Judaico/Sionista).

Concluirei com uma pequena citação de Bertold Brecht – a qual, penso eu, é profundamente compreendida pela Rússia atualmente:

“Assim, aprenda a ver e não a ficar de boca aberta.A agir, ao invés de falar o dia inteiro.O mundo quase foi vencido por tal macaco imitador!Mas não se regozije cedo demais com a sua escapada -O ventre do qual ele rastejou ainda está funcionando muito fortemente”.― Bertolt Brecht, O Resistível Surgimento de Ui

A Rússia abateu muitos macacos ocidentais na sua história; agora é chegado o momento de, finalmente, tratar do ventre do qual eles saíram.

Andrei

PS: Para a sua informação – a investigação russa declarou que as explosões no aeródromo da Crimeia foi um ato de sabotagem/diversão. Esta foi a explicação mais plausível, para começo de conversa.

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